Design
Brasileira transforma restos de obra em acessórios descolados inspirados em grandes nomes da arquitetura
Restos de obra, retalhos de marcenaria, resíduos da produção industrial. Produtos que para muitos não passariam de lixo ganharam sobrevida, proposta e design nas mãos da gaúcha Priscila Elisa Berselli.
Arquiteta por formação e profissão, ela está há pouco mais de dois anos à frente da Design Côté, marca que reutiliza materiais de descarte na confecção de acessórios que tem na arquitetura, no design e nas artes plásticas sua fonte de inspiração.
“Em 2014 fiz uma pós-graduação em Design Moveleiro e durante o curso tive muito contato com o chão de fábrica e a quantidade de resíduos não aproveitados nos processos do setor moveleiro. Fiquei com isso na cabeça e, depois de concluir a pós, comecei a prototipar algumas coisas. Foi quando surgiu o primeiro colar, o Siza”, conta Priscila, que divide a sociedade da empresa e do escritório de arquitetura Moove Arquitetos com Eduardo Almeida, em Porto Alegre (RS).
Junto com a peça, segundo a arquiteta, nasceu a dúvida de se realmente se tratava de um produto, se as pessoas aceitariam e vestiriam a proposta. “Criei a marca sem ter a noção do que ela poderia virar. Então, comecei a participar de eventos de rua aqui em Porto Alegre e a reação das pessoas foi incrível. Elas se surpreendiam com os materiais e os produtos e nós não tínhamos nem estrutura de marca ainda. A partir daí comecei a perceber o potencial dela”, lembra.
As peças
Todo o processo criativo das peças, do desenho à confecção dos modelos, é realizado por Priscila. O trabalho tem início já na coleta e seleção dos materiais, garimpados por ela junto a parceiros e amigos do ramo da arquitetura.
“Meu maior medo no início era este, o de que como conseguir matéria-prima de forma constante. Então, fomos firmando parcerias com fábricas da região e criamos uma rede. Tenho muitos amigos arquitetos que trabalham com projetos de reformas e interiores que às vezes me ligam dizendo: ‘olha, tenho isso aqui, te interessa?'”, conta. Assim, o depósito da marca guarda de tábuas que já foram antigos armários a resíduos de MDF e borracha oriundos da produção industrial.
Priscila diz que são os materiais, inclusive, quem direcionam a confecção dos modelos, “dizendo” o que podem ser de acordo com suas propriedades e texturas. A partir daí, as peças são desenhados a partir de formas simples e atemporais, tendo como inspiração as linhas de grandes arquitetos, designers e artistas plásticos brasileiros e internacionais, como Lina Bo Bardi, Antoni Gaudí e Le Corbusier, que também batizam os modelos.
A coleção, à venda no site e em lojas parceiras da marca em Porto Alegre e São Paulo, conta com cerca de 120 modelos, entre brincos, colares, pulseiras, anéis, cintos e bolsas. “E já temos muitas outras para lançar”, adianta Priscila. A arquiteta destaca ainda que as peças não utilizam nenhum material de origem animal e que todos eles são atóxicos.
Para manter ativo o potencial de reuso delas, a Design Côté também conta com um programa de logística reversa que, além de descartar as peças corretamente, oferece 30% de desconto para a aquisição de novos produtos.