Design

Brasileira transforma restos de obra em acessórios descolados inspirados em grandes nomes da arquitetura

Sharon Abdalla
Sharon Abdalla
31/07/2018 10:30
Thumbnail
Restos de obra, retalhos de marcenaria, resíduos da produção industrial. Produtos que para muitos não passariam de lixo ganharam sobrevida, proposta e design nas mãos da gaúcha Priscila Elisa Berselli.
Arquiteta por formação e profissão, ela está há pouco mais de dois anos à frente da Design Côté, marca que reutiliza materiais de descarte na confecção de acessórios que tem na arquitetura, no design e nas artes plásticas sua fonte de inspiração.
Fotos: Design Côté / Divulgação
Fotos: Design Côté / Divulgação
“Em 2014 fiz uma pós-graduação em Design Moveleiro e durante o curso tive muito contato com o chão de fábrica e a quantidade de resíduos não aproveitados nos processos do setor moveleiro. Fiquei com isso na cabeça e, depois de concluir a pós, comecei a prototipar algumas coisas. Foi quando surgiu o primeiro colar, o Siza”, conta Priscila, que divide a sociedade da empresa e do escritório de arquitetura Moove Arquitetos com Eduardo Almeida, em Porto Alegre (RS).
Junto com a peça, segundo a arquiteta, nasceu a dúvida de se realmente se tratava de um produto, se as pessoas aceitariam e vestiriam a proposta. “Criei a marca sem ter a noção do que ela poderia virar. Então, comecei a participar de eventos de rua aqui em Porto Alegre e a reação das pessoas foi incrível. Elas se surpreendiam com os materiais e os produtos e nós não tínhamos nem estrutura de marca ainda. A partir daí comecei a perceber o potencial dela”, lembra.

As peças

Todo o processo criativo das peças, do desenho à confecção dos modelos, é realizado por Priscila. O trabalho tem início já na coleta e seleção dos materiais, garimpados por ela junto a parceiros e amigos do ramo da arquitetura.
Peças são cortadas a laser e montadas manualmente pela Priscila, que também é responsável pelo desenho dos modelos.
Peças são cortadas a laser e montadas manualmente pela Priscila, que também é responsável pelo desenho dos modelos.
“Meu maior medo no início era este, o de que como conseguir matéria-prima de forma constante. Então, fomos firmando parcerias com fábricas da região e criamos uma rede. Tenho muitos amigos arquitetos que trabalham com projetos de reformas e interiores que às vezes me ligam dizendo: ‘olha, tenho isso aqui, te interessa?'”, conta. Assim, o depósito da marca guarda de tábuas que já foram antigos armários a resíduos de MDF e borracha oriundos da produção industrial.
Priscila diz que são os materiais, inclusive, quem direcionam a confecção dos modelos, “dizendo” o que podem ser de acordo com suas propriedades e texturas. A partir daí, as peças são desenhados a partir de formas simples e atemporais, tendo como inspiração as linhas de grandes arquitetos, designers e artistas plásticos brasileiros e internacionais, como Lina Bo Bardi, Antoni Gaudí e Le Corbusier, que também batizam os modelos.
A coleção, à venda no site e em lojas parceiras da marca em Porto Alegre e São Paulo, conta com cerca de 120 modelos, entre brincos, colares, pulseiras, anéis, cintos e bolsas. “E já temos muitas outras para lançar”, adianta Priscila. A arquiteta destaca ainda que as peças não utilizam nenhum material de origem animal e que todos eles são atóxicos.
Para manter ativo o potencial de reuso delas, a Design Côté também conta com um programa de logística reversa que, além de descartar as peças corretamente, oferece 30% de desconto para a aquisição de novos produtos.

LEIA TAMBÉM