Se há um produto que simboliza o almejado “democratizar o design”, ele é a caneta BIC. Da banca de jornal aos escritórios de empresas globais, da carteira escolar a produções artísticas e acervos de museus, é difícil encontrar um lugar por onde ela não tenha passado ou quem nunca, ao menos uma vez, tenha experimentado a escrita macia e eficaz em um tom de azul inconfundível.
Pudera. Um dos produtos para escrita mais acessíveis, e consequentemente populares, o modelo concentra todas as características que um produto de sucesso costuma carregar: tradição, qualidade e desempenho. E faz isso de forma que, para muitos de seus usuários, faz parecer que ela sempre esteve ali, a postos para o primeiro traço.
E para muitas gerações de escritores e desenhistas, a verdade é essa mesma. A caneta BIC chegou ao mercado pela primeira vez em 1946, após a compra da patente da caneta esferográfica inventada por László Bíró dois anos antes. Seus compradores, Marcel Bich e Édouard Buffard, uniram-se então e aprimoraram o design do produto, montando um negócio para fabricar peças e instrumentos de escrita na França. O nome da marca, inclusive, é uma referência ao sobrenome de Marcel.
Quando ela passou a ser comercializada, uma unidade era vendida por cerca de US$ 10, o equivalente a aproximadamente US$ 100 (ou R$ 544) nos dias de hoje. O aperfeiçoamento do design desenvolvido por Bich, no entanto, tornou o preço acessível, e quando a BIC Cristal chegou aos mercados americanos, em 1959, custava cerca de US$ 0,19. Antes disso, em 1956, as primeiras canetas BIC desembarcavam no Brasil. Quatro anos depois, a grande demanda pelo produto fez a empresa inaugurar uma fábrica no país, o que deu início à sua expansão pela América do Sul.
Uma esfera e um hexágono
Simples e, ao mesmo tempo, complexo. O design da caneta BIC pode parecer simplista e despretensioso, mas carrega certa complexidade do ponto de vista técnico. E nada está ali por acaso. Além de dar firmeza à pegada, o formato hexagonal do corpo faz com que a caneta não role e caia com facilidade das superfícies quando destampada. E aquele furinho presente nele é responsável por fazer com que o nível de pressão dentro e fora da caneta seja o mesmo, permitindo que a tinta flua até a ponta e seja completamente utilizada.
A esfera, por sua vez, é polida com diamante por cinco dias para que fique perfeitamente redonda. E não estranhe o fato de o tubo de tinta não ser completamente cheio. Este espaço é necessário para que a tinta possa se expandir com o calor sem vazar para fora dele.
Todas essas características estão presentes na caneta BIC desde o final da década de 1950. Até hoje, a única alteração feita no modelo está na tampa, mais especificamente na abertura localizada na parte superior dela, respondendo à norma internacional BS 7272-1 para evitar o risco de asfixia caso a peça seja engolida e obstrua a traqueia.
Não bastasse isso, sua tinta é suficiente para garantir dois quilômetros de escrita. E seu tom de azul, praticamente uma marca registrada do produto, nunca teve seus componentes revelados.
Todos esses atributos fizeram (e continuam fazendo) com que a BIC caísse nas graças não apenas dos consumidores, mas fosse reconhecida entre os produtos-ícones do design mundial. Prova disso é o fato de que a peça integra o acervo permanente do Departamento de Arquitetura e Design do Museu de Arte Moderna (MoMA) de Nova York desde 2001. E, cinco anos mais tarde, passou a compor, também, a coleção do Museu Nacional de Arte Moderna/Centro de Criação industrial do Centre Georges Pompidou, em Paris.