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A icônica cabine telefônica vermelha britânica retorna com outras funções

Uma instalação de arte usa velhas cabines telefônicas vermelhas em Londres em março de 2018. Depois de se tornar um marco em muitas ruas britânicas, os estandes começaram a desaparecer nos anos 80 e agora estão voltando para outras funções.(Fotos: Andrew Testa/The New York Times) | NYT
Ás vezes, é difícil desapegar. Para muitos britânicos, isso pode se aplicar às instituições e objetos que representam o poder e a glória que seu país teve no passado – casas senhoriais, a monarquia… e a cabine de telefone vermelha.

Primeiramente deixadas de lado por conta da marcha tecnológica incessante, e ultimamente descartadas como sucatas, as cabines icônicas estão agora vivendo uma espécie de retorno. Reinseridas criativamente, muitas reapareceram nas ruas da cidade em forma de pequenos quiosques que vendem cafés, que se tornam lojas de conserto de celular e até mesmo um local com um desfibrilador instalado.
As cabines em ferro fundido com cobertura original em forma de abóbada, chamadas de quiosque n º 2 ou K2, apareceram pela primeira vez em 1926. Elas foram desenhadas por Giles Gilbert Scott, arquiteto da estação de energia Battersea, em Londres, e da Catedral de Liverpool. Depois de se tornarem um item básico em muitas ruas britânicas, começaram a desaparecer na década de 1980 com a privatização da British Telecom e a ascensão do telefone celular, que acabou por sepultá-las, transformando-as em sucata.

Naquele tempo, a empresa de engenharia e transportes de propriedade de Tony Inglis conseguiu um serviço para remover as cabines das ruas e leiloá-las. Mas, acabou por comprar centenas delas com a ideia de reformá-las e vendê-las. Pode ter parecido uma ideia louca na época. “Elas não têm nada a ver com nossos tempos. Têm tudo para ser evitadas hoje – são grandes e pesadas”, afirmou Inglis em uma entrevista recente.
Mas ele disse que ouviu os pedidos para preservar as K2 e que havia reparado que algumas haviam sido listadas como marcos históricos. Acrescentou que estava convencido de que seria possível fazer algum negócio por meio da restauração e logo provou estar correto.

O Reino Unido tem uma propensão a conservar sua herança, é claro. “Somos obcecados pelas velharias. Isso acontece porque a nossa experiência no mundo moderno tem sido dura. Se você olhar para aquilo que desperta um sentimento de nostalgia nas pessoas, vai reparar que são coisas que, para as mais velhas, carregam a representação do nosso passado imperial e hegemônico”, disse Dan Snow, historiador e apresentador famoso.
Esse sentimento também impulsiona o turismo no país, por exemplo, edifícios famosos são sempre destacados nas listas do que fazer no país. “Temos razões econômicas muito claras para celebrar nossa história”, afirmou Snow.

Quando Inglis e, mais tarde, outros empresários botaram mãos à obra, as cabines reaparelhadas voltaram a surgir pela cidade e pequenos municípios, e as pessoas encontravam novos usos para elas. Hoje, mais uma vez, compõem o cenário familiar, cumprindo papéis que são muitas vezes tão importantes quanto eram originalmente para a comunidade, mas agora com nova função.
Em áreas rurais, onde as ambulâncias podem levar um tempo relativamente longo para chegar, os quiosques assumiram um papel que pode salvar vidas. Organizações locais podem adotá-los da British Telecom por uma libra, ou pouco mais de US $1, e instalar desfibriladores para ajudar em situações de emergência.

“O desfibrilador é uma boa ideia, porque fica em um lugar bem conhecido. Está lá no fundo da sua memória. E uma vez que você precise dele, logo vai se lembrar: -Tem um ali na praça da cidade-“, observou Inglis.
Outras pessoas também olharam para as cabines telefônicas e veem oportunidades de negócios nesses pequenos espaços. A LoveFone, empresa que defende o conserto de celulares em vez de seu descarte, abriu uma minioficina em uma K2 de Londres em 2016.

Além de chamar a atenção, as pequenas lojas fazem sentido econômico, de acordo com Robert Kerr, um dos fundadores da LoveFone. Ele contou que uma das cabines gerou cerca de US$ 13,5 mil de receitas em um mês, com um custo de mais ou menos U$ 400 de aluguel.
Inglis disse que as clássicas cabines vermelhas evocam uma época na qual as coisas eram fabricadas para durar e serem úteis. Os primeiros modelos, por exemplo, tinham espelhos e pequenas prateleiras para colocar o guarda-chuva ou um pacote.
“Acho que são uma estrutura honesta. Gosto do que elas significam para as pessoas. Gosto de trazer as coisas de volta”, concluiu Inglis.

