Se em virtude da pandemia o home office exigiu de muitos a adaptação de um canto da casa para que o trabalho fluísse como no ambiente corporativo, há uma outra realidade que se apresenta nesta época do ano que também pede por adaptações: a volta às aulas.

Isso porque, depois de quase dois meses de descanso e brincadeiras, as crianças e os adolescentes precisam retomar a rotina de estudos e atividades educacionais - o que nem sempre é fácil. Mas existem alguns passos que podem contribuir para que esse processo de retomada dos afazeres escolares seja mais suave e qualitativamente satisfatório. Encontrar e adaptar um espaço específico para esse momento fundamental do aprendizado é um deles.

Somado ao retorno à rotina escolar, um ambiente tranquilo para os estudos em casa faz toda a diferença no desempenho da criança. Seja televisão, celular ou brinquedos, a casa oferece uma série de distrações, boa parte delas ao alcance da mão. Assim, adequar o lugar que o estudante vai utilizar para os estudos pode ser a melhor maneira de readaptá-lo à rotina.

Germana Lara, neuroarquiteta e proprietária do escritório Larc Arquitetura,
explica que os elementos presentes em um espaço podem provocar diversos
estímulos no cérebro, ou sinapses. É por meio desses impulsos que as células
nervosas conduzem informações para todas as partes do nosso corpo, controlando
as funções do organismo.

Portanto, para que haja fluidez nesse processo do aprendizado a partir dos estudos realizados em casa, é ideal que o quarto ou o ambiente escolhido seja devidamente planejado. E é preciso que, neste quarto ou cômodo, estejam bem definidas as partes destinadas aos estudos, ao descanso e ao lazer.

O espaço de estudos ideal é aquele que está, por exemplo, separado dos brinquedos. Um local bem iluminado, organizado, livre de ruídos e de outras distrações, com fácil acesso a todo material que a criança necessite, com mesa e cadeira ergonomicamente adequadas, é fundamental para auxiliar na concentração.

Para a iluminação, a luz natural é a melhor opção, informa Germana, já que ela estimula o cérebro de maneira positiva. "Se não é possível que a área de estudo seja iluminada naturalmente, o mais indicado é que seja utilizada uma luz neutra ou amarela. Isso porque, se a criança estuda a noite, a luz branca pode causar insônia", diz.

Se o espaço for pequeno, a indicação da arquiteta são as portas deslizantes, tanto para os móveis quanto nas divisórias, já que oferecem melhor aproveitamento do espaço. Mas é importante que o local seja adequado às necessidades de cada estudante, e que tenha espaço suficiente para a organização do material escolar.

Embora nem todas as crianças sejam adeptas à organização e à arrumação, um local bem organizado irá ajudá-las em seu processo de estudo. Os pais e responsáveis podem fazer parte desse momento para mostrar aos estudantes como essa preparação é positiva. De maneira prática, Germana sugere a instalação de gavetas, com divisórias, na parte de baixo da mesa para que os materiais necessários sejam guardados ali e a criança possa ter tudo ao seu alcance, sem precisar se levantar e, com isso, se distrair.

As cores também entram nesse combo para tornar o ambiente mais adequado. "O entendimento das cores entre as crianças varia de acordo com a idade. Para as menores, é melhor optar por tons claros, porque estão relacionadas a atividades mais ativas. Já para as de idade intermediária, os tons frios são melhores, pois as atividades exigem mais atenção. Agora, para as crianças em idade mais avançada, o contraste é a melhor opção, pois é relacionado ao abstrato”, ressalta Lara.

O lúdico abre espaço para a criatividade e aprendizado por meio da interação com o outro, com o ambiente e consigo mesma. "Nesse sentido, ter um espaço agradável e com que a criança se identifique faz com que as horas passadas ali se tornem mais agradáveis e atrativas”, aprofunda a arquiteta Bianca Decker, sócia da Ludique Design.

“É muito bom ter um cantinho decorado com o que ela mais gosta. Um local onde tenha as cores e até alguns objetos ou figuras que fazem parte do universo dela pode fazer com que ela se sinta mais à vontade e até mesmo mais segura para um estudo mais produtivo", afirma.

O escritório da Ludique Design projetou um quarto para um casal de gêmeos com um ambiente de estudos que se adequa à rotina das crianças. Para elas, que estão na faixa dos 7 anos de idade, foi utilizada uma mesa compartilhada com uma divisória no meio. Elas podem tanto ficar sentadas na bancada de frente para a parede — onde há fácil acesso a um mural com lembretes e materiais como lápis, borrachas e canetas coloridas —, como também têm a opção de sentarem-se de frente uma para outra, para compartilhar conhecimentos.

A cadeira é adequada ao tamanho delas, a iluminação está
acima da mesa para garantir melhor visibilidade e há um gaveteiro embaixo da
bancada, onde elas têm acesso a tudo que precisam na hora de estudar, assim
como o armário, onde guardam todos os materiais escolares.

"Móveis ergonômicos, como cadeiras e mesas adequadas à altura, fazem toda diferença para o conforto e desempenho da criança. Além disso, o ideal é que, desde pequena, a criança possa ter o máximo de autonomia possível, de acordo com a sua idade. Portanto, um painel ou quadro de avisos, onde se coloque lembretes e anotações, permite organização e responsabilidade com seus afazeres", acrescenta.