Tramados na decoração

Dá para dizer que os pontos da vovó se modernizaram e tricô, crochê e tear viraram técnicas de design. Os tramados de hoje atendem pelo nome de handmade e cobrem ca­­­deiras, bancos, almofadas, tapetes e dão forma até a vasos. Por trás de tudo isso está a valorização do artesanato como forma de resgate de memórias. Para a arquiteta Bruna Moribe, o artesanato em elementos decorativos vem sendo valorizado justamente por remeter às técnicas manuais e culturais praticadas há anos. “Traz personalidade e um quê de brasilidade à decoração. Sem contar que ajudam a dar alma à casa, revelada por meio das escolhas do morador”, diz.

O artista plástico Carlos Siqueira, que trabalhou anos em indústrias, resolveu trabalhar com artesanato ao aprimorar o tear utilizado pelas filhas. Após algumas tentativas de melhorias no equipamento, Si­­queira chegou ao modelo ideal de tear, o que foi um passo para o de­­senvolvimento de suas luminárias articuladas com cúpula de barbante.

As artistas plásticas paranaenses Giovana Casa­­grande e Leila Alberti, por sua vez, utilizam em seus trabalhos a técnica que aprenderam ainda me­­ninas. As laçadas de tricô e crochê das duas envolvem peças utilitárias, como as louças do dia a dia, e trazem à tona as práticas antigas no universo das mulheres. Coisa que resolveram mostrar na exposição Coisas de Alice, em cartaz no espaço Car­­me­sim, em Curitiba. “É o resgate da arte e da­­quele tempo em que se pa­­rava, respirava e pensava na vida”, comenta Giovana. Tudo isso enquanto a arte vai sendo alinhavada.

A produção das peças, contam elas, valoriza as origens. As porcelanas brancas foram garimpadas em um antigo depósito de Campo Largo (PR) e os fios de seda usados para dar forma às tramas são produzidos artesanalmente e de forma sustentável por uma empresa de Maringá. A assemblage (junção de elementos que se transformam em obra) de pequenos animais de porcelana nos bules remetem à célebre história do inglês Lewis Carroll, e o crochê que en­­capsula as peças são as amarras muitas vezes impostas pela vida. “Assim como Alice queremos ser livres do padrão cultural e de todos os preconceitos”, diz Giovana.

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