Evite falar em “combinar” ou “decorar” com ela. Neza Cesar não conjuga esses verbos. A paulista, nascida em Sorocaba e que desde os 15 anos mora na capital do estado vizinho, afirma ser uma realizadora de sonhos. “Eu faço design de interiores, é bem diferente de decoração. Na decoração você combina e faz um ambiente organizado e em ordem. Eu faço outra coisa, mais elaborada. Faço as coisas inspirada nos sonhos do meu cliente.”
Desde 1993, quando decidiu vender sua grife de roupas Workout, Neza trabalha com design de interiores. Grávida e de mudança para uma casa no interior de São Paulo, ela dispensou o decorador e botou a mão na massa. “Eu gostei tanto que vendi minhas lojas para fazer só isso. Fiquei um mês em Nova York e fiz um curso de design de interiores”, relembra. Nestes quase 20 anos, Neza coleciona um portfólio recheado, onde estão repaginações de restaurantes, casas inteiras reformuladas, móveis assinados por ela, inúmeras capas de revistas do segmento e um estilo inconfundível, com muita cor.
Ela, que desde o início ousa nas misturas, alegra-se com a tendência atual, que “acabou com a ditadura do branco, bege e preto”. “A crise nos países ricos transformou o mundo inteiro: as pessoas estão se voltando mais para a casa e precisam de mais cor e alegria em suas vidas. Voltaram as formas orgânicas, as misturas de estampas, os veludos e as lãs”, ressalta.
Seu trabalho tem muita mistura de cor, textura e estampas. O termo “decoração lúdica” se aplica a ele?
Pode ser, mas meu trabalho é mais que lúdico, é também romântico. É principalmente atemporal e autoral, tem personalidade, conteúdo. Quando o trabalho tem isso e é autoral, não sai de moda. Ele se torna atemporal.
Você usa muitos elementos sem sobrecarregar o ambiente. Como chega nessa harmonia?
Eu tive a sorte de nascer com esse dom. O trabalho que eu faço é como uma obra de arte. Quando você começa a pintar um quadro, faz aquilo conforme sente e consegue uma beleza pela harmonia e não pela combinação. Não me preocupo em combinar as cores. Aliás, eu detesto essa palavra e detesto regras. A arte nasce do caos. Eu adoro problema!
Você acha possível fazer uma decoração minimalista sem ficar tediosa?
Claro! Se a pessoa não quer tanta cor, sem problemas. O minimalismo total e absoluto, todo branco, branco, branco, é muito chato. Eu, que convivi muito com a cultura indiana e também chinesa, sei que para eles o branco é luto, tanto que as viúvas lá na Índia vestem sári branco. Posso até fazer [uma decoração minimalista], é muito fácil, mas não traz alegria para quem vai morar no espaço. Essa coisa totalmente bege ou bege e preto, das fórmulas batidas que parecem vitrines de loja, nunca gostei. Mas agora isso tá fora de moda, graças a Deus, porque a tendência é cor. O que eu sempre fiz é a tendência do momento. Em vez de ter aquela coisa executiva, aquela casa clean, chique, para mostrar para os outros, agora é uma casa para sentir. As pessoas perceberam que têm uma personalidade, um DNA, um coração.
Você vivenciou a cultura oriental quando morou no Japão e nas viagens que fez à Índia e à China. De que forma isso influenciou seu trabalho? Depois de utilizar as técnicas feng shui (chinesa) e vastu shastra (indiana), você notou alguma diferença?
Temos de aprender com o mundo, com os países que têm mais história que nós. O Brasil só tem 500 anos. A Índia tem 10, 15 mil anos. A Europa tem 6 mil. Eu acho que temos muito a aprender. Eu aprendi e misturo as duas técnicas. Elas têm bases muito parecidas, mas cada uma de um jeito: o vastu shastra fala do deus que mora na sua casa e o feng shui fala do dragão. Quando viajo, vou assimilando outras culturas e isso se reflete no meu trabalho.
Você percebe diferenças no design de interiores do Brasil e da Europa ou ainda estamos absorvendo o que vem de lá?
O Brasil tem pessoas originais, mas ainda temos muita cópia. É tudo igual! Pegam uma tendência vista lá fora e ficam repetindo. Acho isso muito chato. O pior é que vende. A gente tem uma população que aprecia isso porque se sente aceita no mundo, porque está usando aquela decoração que está na vitrine das lojas. A decoração não é para ser levada tão a sério. Para decorar uma casa deve-se ter liberdade, felicidade, alegria.
Você já trabalhou com moda também. Moda e design interagem, têm pontos em comum?
Completamente! Eu parei de trabalhar com moda porque enjoei. Mas as duas áreas são parecidas. A moda, por exemplo, está completamente colorida. Estive em Barcelona a trabalho e vi tudo muito fluor, pink com laranja, isso até em marcas supertradicionais como a Louis Vuitton. As pessoas nas ruas também estão mais coloridas. Até no inverno. Sai um pouco daquela coisa de que o chique é andar todo de preto, o chique é ter uma casa branca com bege. A cor Tiffany [azul-esverdeado], por exemplo, está em bolsas, roupas e na decoração. O amarelo-lima também, em vestuário e em poltrona, tecido, decoração em geral.
Qual é seu ponto de partida para criar?
A minha inspiração é o que me passam. O cliente fala o que quer e o que sonha. Eu olho para ele e sinto o que vai um pouco além dos seus anseios. É muito gostoso porque você tem de conhecer a alma humana.