Decoração

Saiba se você tem o “DNA” da bagunça e descubra como mudar isso

Sharon Abdalla
Sharon Abdalla
18/04/2017 19:58
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Manter a casa organizada pode soar como uma utopia para muitas pessoas. Mas, com um pouco de boa vontade é possível deixar de lado o DNA da bagunça e fazer da organização uma facilitadora do dia a dia. É o que garante a consultora em organização e apresentadora do programa “Santa Ajuda”, Micaela Góes. Em visita a Curitiba para o lançamento do seu livro homônimo nesta segunda-feira (17), Micaela recebeu a reportagem de HAUS para traçar o perfil do bagunceiro e refutar a desculpa de que a desorganização é uma condição nata. Ela também deu dicas de como começar a deixar a bagunça de lado e contou como se descobriu uma organizadora. Confira:

– Como você se descobriu uma organizadora?

Foi por acaso. Eu me apliquei em tantas coisas que pretendia para minha vida – sou bailarina formada, fiz Artes Cênicas e pós-graduação em Arteterapia – e digo que eu não escolhi a organização, que foi ela que me escolheu. Minha comadre, que é a Camila Pitanga [que escreve o prefácio do livro], me pediu que a ajudasse a organizar a casa dela para receber a enteada, que iria morar com ela. Neste trabalho na casa dela eu descobri que uma coisa que era tão natural para mim, e que eu nem via como algo diferente, era um serviço que eu poderia oferecer.

– Mas a Camila Pitanga não te chamou por acaso, pois seus amigos e outras pessoas próximas já viam em você este potencial.

Eu cresci em uma família na qual a organização era algo natural. Assim como a gente era condicionado a rotinas de higiene pessoal e de alimentação, tínhamos rotinas de organização. Isso aconteceu tanto na casa dos meus pais como na da minha avó, que hoje compartilha o programa comigo. Eu só fui perceber isso como algo diferente quando via outra dinâmica na casa das pessoas.

– É comum ouvirmos frases do tipo “Eu me acho na minha bagunça” ou “Minha bagunça é organizada”.Isso é uma espécie de passe livre para a desorganização ou é mais uma desculpa?

É uma boa desculpa, bem convincente. Eu costumo dizer que organização é um condicionamento e que qualquer pessoa pode se tornar organizada. Mas, para isso, é preciso que ela deseje fazer diferente. É como uma reeducação alimentar. Primeiro é preciso querer aquilo para poder absorver as novas condições. Depois, é necessário adquirir novos hábitos, se condicionar a uma nova rotina, se abrir para o novo. Quando se está em um caos muito grande, há um esforço inicial para se domar a bagunça e retomar o controle da casa. A partir disso, você vai adquirir novos hábitos, como destinar imediatamente para o conserto algo que está quebrado. Há alguns passos para serem seguidos, mas qualquer pessoa, se quiser, consegue.

– No livro, você fala que a desorganização vem de um padrão emocional. Qual seria este padrão?

O espaço que a gente habita é a expressão do nosso interior, e ele não se desorganiza sozinho. Isso não quer dizer que a pessoa seja maluca ou desorganizada emocionalmente. Quer dizer que ela expressa no espaço algum tipo de desordem, não necessariamente negativa. Eu já cheguei em casas de clientes em que o ambiente estava completamente desorganizado e que a organização externa a ajudou a se organizar internamente. Às vezes, esse caminho inverso, de fora para dentro, pode ser uma possibilidade. Em outras, a pessoa pode se organizar internamente e consegue ecoar aquilo para fora. Por isso não se consegue dissociar o emocional do espaço, eles estão ligados.

– Qual é o sinal de alerta? O que diferencia uma bagunça eventual de uma desorganização crônica?

Quando aquilo passa a te incomodar. Você não ajuda quem não quer ser ajudado. Se a pessoa não se incomoda com a bagunça não há meio de você recondicioná-la.

– E como se trabalha isso dentro de uma família na qual um pode não se incomodar, mas os demais não aguentam a desordem?

Depende muito da situação. Se você tem uma maioria organizada e uma pessoa desorganizada é o suficiente para tumultuar todo mundo. Uma estratégia é isolar a bagunça daquela pessoa para que ela não interfira tanto na dinâmica da casa e criar situações para que ela se incomode. Um exemplo é o papel higiênico. Há pessoas que acham que ele “nasce” no banheiro e não pensam que alguém o comprou, levou para casa e o colocou ali. Quando você cria situações para que a pessoa se dê conta desta falta, aí ela começa a se incomodar.

– Pensando em uma desorganização crônica, seja de um indivíduo ou de uma família, como começar a mudar?

Com pequenos projetos. Não adianta você se determinar a arrumar a casa inteira de uma vez porque isto é impossível. Se você começa um movimento de organização e não consegue concluir, ele é pior do que “se achar na sua bagunça”. Arrume uma porta inteira de armário, mas comece e termine. Começar e terminar já é um hábito de organização e a satisfação de ver aquele projeto feito te anima a seguir adiante. É preciso que a pessoa se envolva no trabalho e perceba o benefício de uma vida mais organizada. Até com criança isso funciona. Se ela tem a previsibilidade de encontrar os seus brinquedos e a mochila da escola em determinado lugar sente satisfação com aquilo.

– E quais são os benefícios que a organização traz para o dia a dia das pessoas?

Em primeiro lugar o ganho de tempo, de não se gastar tempo procurando coisas. Em segundo, o ganho de recursos, pois você não compra repetido se sabe o que tem. E em terceiro a qualidade de vida. Quando você não se desgasta com coisas desnecessárias, economiza sua energia para o que é importante para você.

– Ser organizado é sinônimo de se tornar refém da organização?

Ninguém precisa ser organizado ao extremo. Você precisa ser organizado o suficiente para sua vida funcionar com fluidez. É claro que existe um esforço inicial, mas, feito isso, as coisas fluem com mais facilidade. Se você acorda muito cedo e tem muita coisa para fazer pela manhã, deixe o pó de café na cafeteira para só ligar o botão, separe a roupa do trabalho e deixe a mochila pronta, que aí você acorda com mais calma. Isso é só uma sugestão, pois a organização não tem bula de remédio, ela é individual.

– Então, não existe uma receita pronta. É isto?

Cada casa é uma casa. Cada família tem uma dinâmica. Então o que funciona na minha casa pode não funcionar na sua. É preciso perceber qual é o problema daquela família e resolvê-lo, e não impor uma condição.

– Você pode dar dicas de organização que fujam do comum “etiquete” e que façam a diferença na vida das pessoas?

Uma coisa importantíssima é você ter apenas o que precisa. No armário, na cozinha, nos brinquedos das crianças, a dica é reduzir excessos, pois nos perdemos muito neles. A segunda é encontrar um lugar certo para cada coisa. Isso é fundamental, principalmente em uma casa em que moram várias pessoas. Em terceiro, é criar hábito de tirar e colocar de volta [no lugar]. Coisas do tipo padronizar, etiquetar, são recursos mais detalhados, mas estas três são fundamentais.
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