Decoração

Opinião: “O luxo tem identidade diplomada pelo tempo”

Felipe Guerra*
26/08/2016 22:46
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Ambientação proposta por Felipe Guerra na atual residência da família Gomm com a poltrona Shadowy para a Moroso, disponível na Inove Galeria. Foto: Letícia Akemi/Gazeta do Povo

O termo luxo e o seu significado são questões que com frequência tenho questionado. Algumas publicações discutem o tema de forma bastante abrangente, ora dando enfoque na questão mercadológica, ora incentivando o consumo de comodidades caras e supérfluas.
Descreve-se como algo de luxo aquilo que causa o desejo pela ostentação e que fica reservado aos que podem comprá-las, ou até aos que não podem, mas que se deleitam com cópias baratas.
“O povo gosta de luxo; quem gosta de miséria é intelectual”, Joãozinho Trinta
Mas será que o ser verdadeiramente luxuoso mora somente nas questões descritas pelo mercado de consumo? Será que o luxo pode ser encontrado nas coisas mais simples?
“A simplicidade é o último grau sofisticação”, Leonardo da Vinci
Para mim, luxo é o que tem história e gera discurso. A gratuidade, o ser pelo ser, o ter pelo ter, passam longe da fiel razão da palavra.
A minha maior experiência com o luxo autêntico aconteceu há dez anos, quando, a convite do querido amigo Blas Gomm Filho, conheci a sala original da Casa Gomm, imóvel de arquitetura inglesa construído na década de 1910 e que hoje se encontra nos fundos do shopping Pátio Batel.
Antes de ser transportada de lugar, a família transladou o ambiente original para dentro da casa onde residem atualmente. O luxo tem cheiro de madeira antiga, tem cor de tapete persa queimado pelo sol, tem estantes repletas de livros, tem identidade diplomada pelo tempo.
Naquela ocasião argumentei ao amigo que seria fantástico acrescentar à belíssima sala um objeto de design contemporâneo para criar o então contraste entre o novo e o velho. Assim, a atmosfera nostálgica ganharia novos ares, evidenciando e ressaltando as qualidades do espaço.
A então noite com direito a viagem ao passado, folheando os álbuns com fotos do palacete e das viagens de avião que sua mãe fazia para Caiobá, ficou na minha memória.
Muitos anos se passaram e, a partir de uma provocação da HAUS para que eu descrevesse um ambiente de luxo, tive a alegria de concretizar a ideia. Levamos para a sala a poltrona Shadowy, do designer holandês Tord Boontje para a italiana Moroso, e fizemos um editorial enaltecendo o “ser original”, um verdadeiro luxo.
*Arquiteto que desde 2005 integra o escritório do Jaime Lerner e que desenvolve paralelamente projetos de cenografia, produção artística e direção de arte.

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