Decoração

Móveis que contam história

Laura Beal Bordin, especial para a Gazeta do Povo
27/03/2014 03:08
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Como começou o seu envolvimento com o design?
Sabe criança que desenha e é incentivada pelos pais? Desde então sempre soube o que iria fazer. Queria arquitetura até um amigo olhar para mim e dizer: “Edu, você é designer, e não arquiteto”. Na época, o design não era tão difundido quanto hoje, mas me apaixonei na hora. Na faculdade, conheci o móvel, o estudo de ergonomia, a moda, a possibilidade de mexer com tecido. Sabia que aquele era o meu caminho e acabei me especializando em design sustentável e democrático.
Como incluir os conceitos de sustentabilidade no design de móveis?
Ainda engatinhamos no Brasil na questão da sustentabilidade. Ela tem de ser tratada de uma forma muito mais ampla do que falar apenas de madeira sustentável. Ela vem desde o momento de concepção da peça, do seu peso, transporte e até a pós-venda do móvel. A madeira reflorestada nem sempre é o melhor caminho e sustentabilidade não é imediatismo.
Suas criações são definidas pela brasilidade. Como você conceitua isso?
Brasilidade é olhar para gente. É como falamos, como brincamos. Quando o Roberto [Mannes Júnior] me chamou para trabalhar com a Benita, começamos a nos perguntar quem éramos nós. A resposta é que somos felizes, nos abraçamos, sabemos receber as pessoas. Temos a irreverência e os móveis também precisam disso.
Como é contar a história por meio dos móveis?
Cada peça tem uma história por trás, como todos nós. Eu gosto muito de brincar com isso. A (poltrona) Aristocrash, por exemplo, eu criei pensando na queda da aristocracia brasileira, nos nossos infinitos planos econômicos dos anos 1980 e 1990. Também há espaço pra contar a vida de Lampião e Maria Bonita por meio de tecidos e formas.
Essa irreverência torna o design brasileiro mais interessante?
Com certeza. Nós somos uma mistura grande de povos e culturas. Cada um tem uma referência de história diferente e é isso que faz o design. O traço de uma pessoa do sul é muito diferente de alguém do nordeste, apesar de uma semelhança “nacional”.