Decoração

Milão em 10 atos

Larissa Jedyn
28/05/2015 01:00
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Ambiente da Innolux com inspiração industrial, base neutra, poucos pontos de cor e muita mistura de materiais. Fotos: Divulgação

Em tempos de crise, criatividade. Na bonança, luxo. Os dois até coexistem numa boa, mas o que se viu lá pelo Salão do Móvel de Milão e na Euroluce, que aconteceram entre os dias 14 e 19 de abril, na Itália, foi a criatividade inata ao setor embalada pelo luxo despretensioso, o que demonstra que a crise econômica europeia parece começar a dar um tempo. “Depois de anos de contenção, é clara a renovação e a modernidade”, diz o arquiteto Jayme Bernardo, que há várias temporadas acompanha a feira.
Isso significa, na prática, que Milão (o Salão do Móvel em si, a feira de iluminação Euroluce, os eventos externos do Fuori Salone e o Salão Satélite com seus novos talentos) foi um caldeirão de possibilidades, tendências e lançamentos. O recado de que tudo está melhor do que antes está em detalhes quase imperceptíveis a olhares leigos. Os estandes, por exemplo, vieram grandiosos, os ambientes montados para visitação eram a imagem e semelhança dos que ocupam as melhores casas em qualquer lugar do mundo, os moldes de uma simples cadeira de plástico tornaram-se mais elaborados, assim como a iluminação, inovadora, cênica e tecnológica.
O I Saloni, como também é chamado, é inspiração, mas também realidade. Isso porque muito do que foi mostrado lá estará por aqui em algum tempo e vai ser reproduzido, até, nas lojas mais populares. “Algumas macrotendências, como o preto, os tons terrosos, as peças orgânicas, que abraçam os corpos que agora ficam mais em casa, podem ser observadas, mas também há a exceção, o detalhe, a diferença. Sempre vai haver em Milão algo que agrade você”, comenta Marco Brotto, empresário, proprietário da Piccola Brotto. Cravar o que vai vestir as casas nas próximas estações é pretensão demais. Mas, a seguir, você vê um apanhado de impressões inspiradoras, que reforçam a sintonia do design com as questões mais íntimas da sociedade contemporânea.
Madeira de lei
Tem madeira pura e com mistura. De lei, reflorestada e reaproveitada. O material de sempre ganhou versões ultracontemporâneas, em formatos inusitados, combinadas a acrílico, metal e até pedra. Até os designers mais moderninhos se rendem à matéria-prima, que é, ao mesmo tempo, durável, moldável, quente e absolutamente versátil. Ela veio bruta em peças esculpidas, laminada em luminárias que desafiam a física e processada em cadeiras de linhas orgânicas.
Na primeira foto, tendência rústica e muita madeira no ambiente da Riva. Abaixo, mesa da Riva com tampo de madeira e base geométrica em metal. Cadeira de balanço superestilosa da Zilio A&C e, da Arper, mesinhas-bancos componíveis em acabamentos variados.
Sobriedade é o ponto forte do ambinte da Minotti, que mistura tecidos nobres e madeira escura. Estante de nichos Cassina. Balcão Porro moderninho mistura três tipos de madeira. Mesinhas Porata podem ser usadas como apoio e bancos e luminária Flos assinada por Patricia Urquiola.
Pedra pra toda obra
Mármores e granitos são soberanos na decoração clássica. E na contemporânea também. A diferença, no entanto, é que seu uso aparece menos suntuoso e mais lúdico. Ela vira tampo de mesa com pé escultórico, aparece combinada a outros materiais, ganha linhas improváveis, interferência tecnológica, de luz, cor e ação.  Sonho de consumo para muita gente a partir de agora, são as mesinhas-banco, que vão para o meio dos sofás, servem de apoio, escada e enfeite. Todas em acabamentos diferentes.
Aparador de madeira com tampo de pedra Porata. Mesa em formato inusitado de Walter Knoll. Madeira e mármore claro no conjunto de mesas Rimadesio. Ambiente Minotti mistura tons sóbrios, couro, madeira e pedra.
É de plástico
E não dá para falar de design sem abrir uma aba para falar de plástico. Ele é versátil, contemporâneo, colorido. Teve plástico em cadeiras, poltronas, em banhos sobre superfícies lisas (fórmica) e até tecido como fio, em crochês coloridos e numa substituição ao ratan.
Fotos: Divulgação
Fotos: Divulgação
Formas simples em luminária da Lightyears. Luminária com cúpula de acrílico amarelo da Flos, assinada por Phillipe Starck.  O designer assina também a cadeira Tog. Pendente Agata rendado da Slamp.
Roupa de casa
Os tecidos vestem, aquecem e deixam a casa mais aconchegante. Há um claro retorno para algumas tramas, como o chenile, o linho, o veludo fosco e brilhante, o cashemire, a lã e até uma variação dela que lembra forração, que serve de revestimento e é aplicada na modelagem de peças.
Fotos: Divulgação
Fotos: Divulgação
Em destaque, o ambiente multiétnico da Missoni Home. Sofá multicor da Giorgio Saporiti. Veludo fosco no sofá irregular da Edra, que abraça o corpo. Poltrona Andreu World revestida com tecido tipo forração.
Classe A
Pense num estilo atemporal, chiquérrimo. Esqueça, no entanto, os exageros. Vá à essência. E ela, pasme, pode ser rústica, natural, orgânica. Tem texturas aparentes, toque agradável, mas muita classe. Essa sofisticação meio rústica apareceu em Milão com materiais nobres (madeira, pedra, metais e tecidos em lã) e altas doses de sobriedade. Sofás imensos e acolhedores, que se moldam ao corpo, vieram junto de poltronas igualmente aconchegantes. Mesas suntuosas ao lado de estantes que ajudam a separar ambientes. Não há vez para os excessos.
Fotos: Divulgação
Fotos: Divulgação
Na foto de destaque, estante de linhas retas da Porro serve de divisor de ambientes. Poltrona encorpada em couro e madeira da Cassina. Cadeira em couro rústico da Kristalia. Banco em metal e revestimento rústico em palha trançada Flexform.
Quase nada
O minimalismo reforça a onda cool dos designers e das marcas badaladas que expuseram em Milão. E se trata de uma referência claramente oriental, de linhas retas, poucos detalhes e muita essência. Ou seja, adornos e excessos ficam de lado. Para ser simples, o design precisa resolver questões técnicas de equilíbrio de volumes, funcionalidade e segurança. Feito isso, surgem camas com apoios mínimos, armários sem puxadores e muita tecnologia. De enfeite, um pouco de cor e muitas lanternas.
Fotos: Divulgação
Fotos: Divulgação
Da Lightyears, ambiente com inspiração oriental. Dois pontos de luz na luminária de Karim Rachid para FontanaArte. Transparência nas cadeiras La Marie, da Kartell. Linhas essenciais na dupla mesa e cadeira da Porro, no alto da página.
Chão de fábrica 
O industrial moderninho e funcional é outra aposta de estilo. Os escandinavos fazem isso bem, com madeirame claro, linhas simples, retas e funcionais. A estante de metal, com nichos compartimentados, são o grande destaque nos ambientes que seguem essa proposta, servindo até como divisor de ambientes. No mais, cadeiras empilháveis, metal propositalmente enferrujado e luminárias que parecem retiradas de fábricas antigas. É básico, neutro, sóbrio, mas pode receber pontos de cor.
Alma industrial no ambiente Lightyears, marcado por amplitude de espaço, mistura de materiais e luminárias pendentes de linhas simples. Foto: Divulgação
Alma industrial no ambiente Lightyears, marcado por amplitude de espaço, mistura de materiais e luminárias pendentes de linhas simples. Foto: Divulgação
Cozinha industrial Riva mistura concreto, madeira e metal. Mesa escultórica da brasileira Saccaro. Luminárias vintage da Normann Copenhagen. Bancos triangulares Arper.
Black total
Vá de preto. Na parede, nos móveis e nos acessórios. Se for demais, jogue algo neutro junto. O preto intensifica o cinza que foi tendência nos anos anteriores. É mais dramático, mais sofisticado e pede jogo de luz e móveis de design elaborado.
Fotos: Divulgação
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Pegada industrial no ambiente assinado pela Lightyears. Cadeira de formas simples e essenciais da Natuzzi. Cadeira da linha Biguá, da brasileira Butzke,para áreas externas. Candelabro vintage Leucos.
Vermelhou
E os terrosos podem ser outra paixão, minimalista e oriental, ou opulentos e cheios de detalhes. Vão do badalado marsala, ao vermelho sangue e ao supervibrante laranja. Usados juntos numa aposta quase monocromática ou como pontos de luz em qualquer ambiente.
Fotos: Divulgação
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Verde que te quero verde
O verde é uma alternativa colorida para a casa. Ele apareceu nos ambientes da feira tanto como cor de fundo (paredes, tapetes), nos detalhes ou em tudo. Numa só tonalidade ou em variações possíveis. Ele surgiu também no rústico, afinal, combina com bege, madeira, pedras e plantas, por que não?
Fotos: Divulgação
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Ambiente da Bonaldo mistura tons diferentes de verde com base neutra. Poltrona com base de madeira Zanotta. Formas orgânicas na cadeira da Moroso. Banco rendado dos Irmãos Campana para A Lot of Brazil.