Exclusivo
Decoração
Imersão na vida de Basquiat: conheça detalhes da exposição em cartaz em Nova York
Recriação do estúdio de pintura de Basquiat.
Gênio visceral e multifacetado, Basquiat chegou ao ápice como um rei rebelde da arte contemporânea. O artista negro americano mais influente e com a obra mais cara da história – o quadro “Untitled” foi vendido na Sothebys por US$ 110,5 milhões – ficou conhecido por usar a iconografia como parte de um manifesto visual que explora questões sociais, políticas e religiosas. Pela primeira vez, sua vida pode ser acompanhada sob uma perspectiva íntima. A mostra "Jean-Michel Basquiat: King Pleasure©", em exibição no Chelsea, em Nova York, até outubro, reúne mais de 200 obras como pinturas, desenhos, anotações, apresentações multimídia e objetos pessoais nunca apresentados ao público.
Organizada pelas irmãs do artista, Jeanine Heriveaux e Lisane Basquiat, a exposição se difere de todas já realizadas: propõe uma jornada imersiva na vida e obra do pintor. Em conversa exclusiva com HAUS, Lisane Basquiat explicou: “Esta exposição é uma forma de compartilhar o pensamento de Jean-Michel sobre os importantes movimentos que testemunhamos. Sua obra, narrativa social e observações parecem proféticas e relevantes ao que está acontecendo hoje. Estamos orgulhosas de sua coragem, autenticidade e generosidade”.
Os visitantes podem desbravar sua intimidade e a profusão de suas referências em mais de 1 mil m² de exposição. A experiência sensorial é potencializada pela reprodução de espaços que Basquiat frequentava, sonorizados com seus estilos musicais favoritos – do jazz ao pop.
Destaque para as salas de jantar e estar na casa em que viveu com a família no Brooklyn e o estúdio na rua Great Jones – presente de Andy Warhol, em testamento, onde morou com Madonna – que retrata o ambiente criativo, caótico e inspirador. Em meio à cacofonia da televisão e toca-discos, obras espalhadas pelo ambiente dividem a atenção com itens como taças de vinho, sapatos e uma carteira de cigarro. A disposição dos objetos revela, aos poucos, sua personalidade. O sobretudo na parede, por exemplo, representa a predileção pela moda vanguardista das grifes que vestia, como Issey Miyake e Comme des Garçons.
O apogeu imersivo ocorre ao final da mostra, no espaço que reproduz a área VIP do The Palladium, nightclub frequentado pelo artista nos anos 1980. Na sala, dois murais originais criados por ele para a boate ao som da amiga Grace Jones, em vídeo que reproduz momentos na noite nova-iorquina.
De grafiteiro a ícone milionário
Ambicioso e autodidata, Basquiat teve uma carreira apoteótica e precoce como sua morte. Faleceu de overdose aos 27 anos, como os astros do showbiz. No início de sua trajetória, ganhou notoriedade pelas frases poéticas visuais pichadas nos muros, sob a assinatura anônima SAMO “A Mesma Velha Merda de Sempre”, em conjunto com Al Diaz. O sucesso veio rápido, em poucos anos ganhou influência e dinheiro com shows solos e a repercussão por ser o artista mais jovem a expor na Documenta 7 – maior mostra da arte do mundo.
Amigo de personalidades como David Byrne, Debbie Harry – sua primeira cliente –, além de Andy Warhol, com quem fez diversas colaborações artísticas, ele transitava em dois mundos contraditórios: no da elite e no da contracultura.
A
contribuição de seu legado é vasta como sua força criativa. Símbolo do
neoexpressionismo, uniu as narrativas do hip hop e pós-punk, além de lutar contra
a segregação racial – a coroa é sua marca registrada e celebra os heróis negros.
contribuição de seu legado é vasta como sua força criativa. Símbolo do
neoexpressionismo, uniu as narrativas do hip hop e pós-punk, além de lutar contra
a segregação racial – a coroa é sua marca registrada e celebra os heróis negros.
Ironicamente, a mesma elite branca, classista e racista teve de se dobrar ao talento inegável de um negro que lutou até o fim para coroar figuras da sua cultura.