Decoração
Guia de cortinas: aprenda a escolher o modelo ideal para seu ambiente
Foto: Ricardo Jaeger | ricardo jaeger
Não há desculpa. Mais do que nunca, as cortinas estão acessíveis para todos os estilos e orçamentos. Pensar na sua finalidade e em como ela complementa a decoração de um ambiente é uma aposta muito mais assertiva do que cortinas prontas e com data de validade.
“As pessoas tendem a não dar a mesma importância para elas. As cortinas arrematam o espaço, trazem aconchego e resolvem a funcionalidade – como quando o quarto não tem veneziana para escurecer o ambiente ou a luz reflete no computador”, destaca a designer de interiores Flávia Mattar.
Apesar de ser um dos últimos pontos a serem instalados durante uma obra, o ideal é que as cortinas estejam previstas desde o começo, para resolver de forma prática a necessidade de um cortineiro de gesso, que esconde os trilhos, ou a altura do varão – que leva argolas, ilhoses ou alças.
“O primeiro passo é pensar na funcionalidade, no que você precisa em questão de bloqueio de luz”, sugere Flávia. A luminosidade prevista no ambiente determina o tecido ideal: se serão blackouts, tecidos intermediários ou mais fluidos. “Depois a gente parte para o aspecto decorativo, que pode trabalhar tanto as persianas, mais minimalistas, quanto as cortinas, que tendem a deixar o ambiente mais charmoso e aprazível”, complementa Flávia.
A definição de tecido é importante para garantir seu caimento e acabamento. Importante ressaltar que tantos tecidos naturais, como a seda, o linho e o algodão, quanto os em poliéster – que são mais práticos na hora da limpeza, principalmente em casas com crianças e pets – podem ser uma boa aposta.
Mil e uma combinações
Persiana com cortinas, forros com xales. O céu é o limite para se chegar ao resultado ideal. Xales que se sobrepõem ao forro criam uma mescla de conforto. Já as persianas podem resolver a funcionalidade, bloqueando a quantidade desejada de luz, ao mesmo tempo em que o tecido funciona como arremate, conferindo um acabamento sofisticado.
“Hoje em dia você pode tudo, só precisa ter bom senso. A regra é não pesar o espaço. Cada vez mais a tendência é mesclar materiais. Para isso, você precisa de harmonia”, indica a profissional. “Para não errar, aposte no simples: uma persiana de madeira ou de bambu já dá aquele aconchego. Junte a um tecido leve e o resultado fica interessante”, ela sugere.
Depois de escolhidos os tecidos, a fase final é escolher tipos de pregas das cortinas, que devem levar em consideração o espaço disponível no ambiente. A moda do volume já ficou para trás, e deu lugar às cortinas mais simples.
“O acabamento é a chave do sucesso. Se você não quer investir em um tecido mais nobre, faça uma cortina de poliéster, mas com boa execução. Esse é o segredo”, aponta Flávia.
A seguir, confira dicas de como escolher a cortina ideal e sete projetos para te inspirar!
Sobriedade e funcionalidade
Um apartamento curitibano duplex da década de 1980 teve suas antigas paredes de alvenaria derrubadas para dar espaço a um layout aberto e industrial, destinado a apenas um morador. Lajes e vigas expostas em concreto dão o tom dos diversos ambientes voltados a receber – como o living e a churrasqueira –, que contrastam com paredes de marcenaria e revestimentos de desenho contemporâneo. O resultado é uma linguagem ousada, mas acolhedora, de autoria do escritório Moribe + Valente.
A escolha do linho puro como tecido para as cortinas seguiu a mesma lógica. Em contraposição a elementos fortes como o piano de cauda, a grade pantográfica da entrada e o mármore preto na lareira, as cortinas trazem suavidade. “Por mais que o tecido tenha a cor cinza, a fibra natural passa uma leveza. Ela segue a mesma paleta de cores, mas não deixa o espaço mais pesado”, explica a arquiteta Bruna Moribe.
Já na suíte do morador, que leva a mesma linguagem industrial, a ideia foi trabalhar uma composição multifuncional. O espaço conta com persianas horizontais pretas em madeira, que garantem a privacidade do morador com sua espessura mais robusta e diversas possibilidades de entrada de luz. Combinadas a elas, as cortinas têm duplo uso: servem de xales durante o dia e de blackout à noite.
“O tecido dublado funciona muito bem nesse caso, em que o morador quis a persiana para a privacidade, mas precisava do blackout”, pontua Bruna. Assim, de um lado, as cortinas são de linho de composição mista e, do outro, blackout.
As tonalidades sóbrias e os materiais presentes no quarto dialogam com o restante dos ambientes: um gradil emoldura a luminária ao lado da cama e o painel de madeira recebe a cabeceira revestida em linho.
Sofisticação no veludo
Ares de realeza e sofisticação pautaram a reforma de um apartamento antigo em Curitiba voltado para um casal. Para alcançar esse efeito, o projeto assinado por Janaina Macedo combina texturas e tecidos nobres com tonalidades fechadas.
O home office concentra soluções que compõem a identidade do projeto. A estante em marcenaria autoral que se apoia em uma das paredes do espaço leva portas em couro, prateleiras em tons acobreados e um espelho bronze ao fundo. O toque afetivo personaliza o ambiente, e está na escultura trazida da África do Sul pela filha do casal e na máquina de escrever do marido.
No entanto, é nas cortinas que o ambiente encontra um elemento essencial para compor a sofisticação. “Como a proposta era trazer esse ar de realeza, o primeiro tecido que vem à mente é o veludo”, indica Janaina. “Já a seda dá privacidade, mas sem perder a luz natural, e tem a mesma nobreza do veludo”.
A solução proposta é uma combinação dos dois tecidos: o veludo entra como uma barra da cortina, cuja linha tem a mesma altura da mesa do home office e da linha da estante que delimita a área fechada e a aberta. “É uma informação subliminar que valoriza a composição”, ressalta. As pregas wave arrematam o tecido, trazendo um caimento cheio e elegante.
Protagonistas e dramáticas
A dramaticidade é o conceito central de um apartamento em Porto Alegre que atende as funções de moradia e trabalho para uma designer de moda. Os dois usos se mesclam ao longo da planta que une dois apartamentos, com projeto assinado pelo escritório gaúcho ILLA. Apesar de morar sozinha, ela costuma receber a família vinda do interior do estado — necessidade que deu origem a um quarto de hóspedes que têm nas cortinas suas protagonistas.
“Na junção de duas unidades, uma é área social e ateliê, a integração entre as duas é a cozinha, e a outra é a área íntima”, explica Taís Lagranha Machado, arquiteta responsável pela obra. É nesta segunda unidade que se concentra o quarto da moradora, fechado com uma divisória de vidro, e o quarto de hóspedes, apelidado de “hotel”. “Esse espaço só precisava ser fechado quando alguém estivesse visitando. Por isso, optamos por deixar só a cortina vermelha [como divisória]”.
A cortina em sarja e pregas wave é presa em um trilho curvo, o qual é embutido em uma estrutura metálica presa à laje. “Uma característica deste projeto era não ter medo de ousar. A gente tinha o vermelho como uma cor importante na paleta do projeto. Espalhar esses elementos pelos ambientes ajuda a não pesar o espaço”, complementa Taís.
Além desses pontos de cor, complementam o espaço móveis de garimpo e elementos de linguagem industrial, como o concreto aparente.
Ares de campo
Um apartamento no Juvevê, mas que parece uma casa de campo. O desafio das arquitetas do escritório Moca Arquitetura transformou os 270 m² destinados a um casal apostando na madeira, no verde e em grandes aberturas. “Fizemos uma mescla de muitos materiais naturais para ter essa pegada de campo, ao mesmo tempo em que tudo é automatizado: ar, piso aquecido, luzes e venezianas”, destaca a arquiteta Ana Sikorski.
Inspiradas pelo relato do casal cujo hotel de lua-de-mel tinha quartos integrados às suítes, os três quartos do apartamento seguem a mesma proposta, criando ambientes que remetem a spas. O quarto de hóspedes segue a mesma proposta: uma parede verde com ramos preservados de avencas torna o espaço ainda mais acolhedor. Ela é vizinha ao espaço destinado à banheira, um piso elevado que divide os usos do ambiente.
Nesta proposta, as cortinas emolduram a abertura que dá para o bosque do condomínio: ao mesmo tempo em que complementam o ambiente, não tiram a atenção da vista. Para isso, as profissionais apostaram no linho misto, sobreposto com telas rendadas.
“Quando você entende a cortina como decorativa, ela pode ter textura, cor, ser elemento para completar a paleta que você já criou. As cortinas aquecem. Elas funcionam como um complemento de painéis: você brinca com diferentes texturas”, destaca Ana.
Serenidade e neutralidade
O verde marca a serenidade na linguagem de um apartamento pensado para uma viúva que desejava um espaço tranquilo para ela, além de poder receber a família nos finais de semana. Assim, o projeto assinado pelo escritório Solo Arquitetos se baseou em intervenções rápidas e localizadas no imóvel recém-entregue, como o desenho do mobiliário e a escolha dos materiais — daí o verde, que dialoga com o cinza claro das paredes.
“É uma cor para trazer serenidade e uma sensação boa para a nova casa”, ressalta o arquiteto Lucas Aguillera. O volume em cor se entende da sala para o interior do apartamento.
A praticidade era obrigatória no projeto: o mobiliário trabalha a madeira tauari e o laminado melamínico branco, pensados para facilitar a manutenção. Livros e louças estão entre os poucos objetos antigos agregados à nova residência, já que uma preocupação era deixar que os netos brincassem livremente na casa.
As cortinas em linho sintético com forro em gabardine compõem a paleta cinza, ambos sintéticos para facilitar a manutenção. “É um tecido com aspecto mais natural, fosco. A ideia é que o cinza da cortina seja uma expansão da parede, sem chamar mais atenção do que deveria”, esclarece Lucas. O arquiteto Gabriel Zem Scheineder complementa. “Como é um projeto mais enxuto, os elementos precisam ter mais coerência. Os tecidos devem conversar um com o outro, como cortinas e sofás”.
Infantil, mas atemporal
Um quarto infantil que pudesse crescer junto de seu pequeno morador foi a tônica do projeto assinado pela designer de interiores Flávia Mattar. Linhas puras e retas demarcam a marcenaria multiuso, que conta com mesa de estudos, armários e espaço para brincar, já prevendo os futuros usos. A atemporalidade se estende às cores: à base branca se somam pontos de cor em azul marinho e vermelho. “A premissa é mudar as referências ao longo do tempo: à medida em que ele cresce, o quarto muda: do papel de parede à colcha e da infância à adolescência”, aponta a profissional.
Detalhes em tecido trazem aconchego ao projeto, como na cabeceira estofada e nas cortinas em tecido composto de algodão e poliéster. A escolha visa facilitar a rotina: o caimento do algodão se alia à praticidade do poliéster, que pode ser lavado na máquina. As pregas-macho arrematam seu caimento.
Uma das vantagens do tecido de fibras naturais é permitir a entrada de iluminação natural no quarto. E, para quando a ideia é escurecer o ambiente, a cortina tem apoio de uma persiana rolô blackout.