Decoração

Fuori Salone: vanguarda nas ruas de Milão

Flávia Alves, enviada especial*
31/05/2012 03:57
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Antes de citar as novidades, uma ressalva. “O Fuori Salone já foi um evento exclusivamente experimental, dedicado aos novos artistas. Hoje essa ideia ainda existe, mas ao mesmo tempo ocorrem lançamentos exclusivos e eventos paralelos ligados a grandes expositores, como a Kartell e a Valcucine, que neste ano participou somente do Fuori”, explica Marlon Chiumento, designer da curitibana Inove que morou sete anos em Milão. Apesar disso, ele reconhece: se na Rho Fiera (local que abriga a exposição oficial) foi difícil ver algo novo, nas ruas de Milão não faltaram questionamentos, vanguarda e transgressão.
“Ali, no Fuori, está o futuro das novas estéticas”, afirma o designer Paulo Biacchi, da Fetiche Design, que expôs neste ano, em Milão, a Coleção Bastidor, desenvolvida em parceria com Carolina Armellini. A esse caráter inovador, ele atribui um ponto fundamental: a ausência de amarras comerciais, mesmo em projetos desenvolvidos pelas grandes marcas.
Na prática
Para traduzir tantas tendências e explicar como é o processo em que as ideias deixam as mostras e passam a fazer parte do dia a dia, a dupla da Fetiche desenvolveu um trabalho em parceria com a multinacional Schattdecor, empresa alemã que tem fábrica em São José dos Pinhais e fornece material para a indústria moveleira.
Paulo Biacchi conta um caso que mostra bem esse processo. “Em 2009, 2010, o neon era apontado como tendência pelos trend hunters, tanto no design quanto na moda. Hoje se vê a sua aplicação em massa. A Mini Cooper, por exemplo, lançou a linha Play The Fluo”, conta. “E em um bem durável, o que mostra a força da tendência”, reforça a designer da Shattdecor Sara Worms, que também esteve em Milão e, junto com Biacchi, lembra que 2012 é a vez da Tangerine Tango (um tom de alaranjado), apontada pela Pantone como a cor do ano.
E é neste movimento de observar o presente e olhar mais para frente que a Fetiche destaca três macrotendências, chamadas por eles de “natureza programada”, “natureza humana” e “mega minimal”.
Na primeira, explica Biacchi, formas orgânicas complexas são casadas com materiais de alta tecnologia para criar objetos imprevisíveis. Como exemplos desse movimento ele cita Zaha Hadid – arquiteta iraniana baseada em Londres responsável por projetos que vão do mega, como o museu nova-iorquino Guggenheim, ao mínimo, como sapatos usados em desfiles de moda – e o britânico Ross Lovegrove, conhecido pelo seu essencialismo estético. “Eles estão na vanguarda de uma estética nova, em que o arquiteto não pega no lápis, mas programa um computador que, a partir de uma equação, chega a um projeto. É uma estética com a cara de Dubai”, traduz. Mas onde se encaixa a natureza? Vale lembrar que ela está repleta de fórmulas matemáticas – um exemplo clássico é o da sequência de Fibonacci, presente no caracol do caramujo e no desenrolar da samambaia – e que esta programação pode ampliar esta aplicação de formas cada vez mais únicas aos projetos, assim como as formas naturais.
A segunda macrotendência, a “natureza humana” vai para o lado oposto. “Neste cenário, o mais importante é o processo, que depende totalmente do designer”, diz Paulo, que cita como exemplo a peça “Sea Chair”, em que três artistas transformaram restos de material plástico retirados do Pacífico. “A peça final não tem nada de extraordinário, mas o processo conta uma história”, diz Sara.
Fechando a tríade, mais como algo que já está acontecendo do que tendência propriamente dita, o “mega minimal” traduz o óbvio nunca visto. “É um minimalismo sensorial, que em 2012 explodiu com a Nendo (marca japonesa capitaneada por Oki Sato). Ao se observar a criação, como a Press Lamp, é impossível não pensar: ‘como isso é simples, como ninguém pensou antes?’. Mas o fato é que ninguém tinha pensado mesmo”, afirma Biacchi.
* A repórter viajou a convite da Givi Mobili e da Cinetto do Brasil.

Fuori Salone