Alta performance
Decoração
Fogões a lenha trazem design contemporâneo e resgatam memórias afetivas em projetos urbanos
Os fogões a lenha de alta performance aliam eficiência energética e design aos projetos residenciais urbanos. | Divulgação
O cheiro da lenha, o calor na cozinha e o pinhão sapecando na chapa enquanto a família se acolhe e divide bons momentos. As memórias afetivas em torno do fogão a lenha são muitas e impulsionam um movimento de resgate deste produto em projetos arquitetônicos residenciais urbanos.
“O fogão a lenha está sendo usado como experiência, uma volta ao passado, em busca do sabor, do calor. Chega quase a ser um brinquedo sensorial, um elemento para trazer lembranças de infância, do que as pessoas passaram em família, do calor da casa de mãe e de vó”, justifica a arquiteta Natália Canalli, do escritório Canalli Arquitetura.
Do tempo da vovó ficaram as boas lembranças, mas, em termos de design e eficiência, muita coisa mudou, e hoje é possível incorporar fogões a lenha em projetos atuais e minimalistas. “Os fogões a lenha que colocamos atualmente nos projetos são de alta performance e contam com design e fabricação contemporânea’’, conta Natália.
No mercado há mais de 50 anos, a família de Jackson Bunese, proprietário da Kaminofen (empresa que comercializa e instala fogões a lenha e lareiras), acompanhou toda a evolução do produto. No fim da década de 1990, a empresa introduziu no portfólio os fogões de alto rendimento, na época contando apenas com modelos importados. “O princípio de funcionamento é o mesmo de 50 anos atrás, você coloca o fogo de um lado e a fumaça sai de outro. Mas a indústria foi aprimorando a entrada de ar, a câmara de combustão, as saídas de chaminé, o design e os materiais usados na fabricação”, explica Bunese.
As melhorias resultaram em produtos com alta eficiência, que utilizam o princípio de dupla combustão, conforme explica Verônica De Ávila, engenheira de produção da Metávila. “Em um fogão normal você consegue usar cerca de 20% do poder calorífico, ou seja, do que é queimado. Já no produto que usa a dupla combustão, essa proporção praticamente se inverte, e a eficiência fica entre 70% e 80%. Além de queimar a lenha, são também queimados os gases que ela produz.” Isso implica fogões não só mais potentes, mas também mais ecológicos, já que esses jogam na atmosfera uma fumaça mais limpa e que não deixa os ambientes internos com cheiro.
Materiais modernos
Quando o assunto é o material, a evolução também é visível. No lugar do esmalte e das chapas de ferro fundido, que demandam mais em termos de manutenção e limpeza, entram o aço inox e as chapas de vitrocerâmica. “Atualmente, é possível até cozinhar diretamente nas chapas, que são feitas de materiais sem componentes cancerígenos”, exemplifica Verônica.
Em relação ao design, as linhas retas atuais (ao contrário do estilo rococó do modelo clássico) contribuem para que eles se encaixem em projetos mais urbanos e limpos. “Hoje, temos produtos gabinetados, com design reto e moderno. Muita gente deixou de usar o fogão a lenha durante um tempo porque não gostava da estética. Agora, eles ganharam lugar nos espaços gourmet, junto às churrasqueiras e fornos a lenha”, fala Bunese.
Sabor e calor
Se por um lado a evolução tecnológica resultou em melhorias, o que permanece intacto nos fogões a lenha é a experiência sensorial que eles proporcionam: o sabor da comida continua sendo único. “Não existe igual. E em relação ao fogão a gás, o que usa lenha demanda um pouco mais de tempo, mas depois que se atinge a temperatura ideal é fácil de mantê-la”, avisa Verônica.
Outra demanda de quem busca incluir os fogões a lenha em suas casas é em relação ao aquecimento. Vale deixar claro que ele não substitui as formas tradicionais, como calefatores, lareiras e aparelhos de ar-condicionado. “Mas com a tecnologia de dupla combustão, que traz mais eficiência, é possível sim que se aqueçam ambientes pequenos apenas com estes fogões”, defende Verônica.
Cuidados na instalação
Em relação ao calor, aliás, é preciso considerar que os fogões a lenha têm demandas específicas quando comparados aos fogões a gás, que podem ser instalados sem muitas exigências. “É preciso ficar atento ao manual de instalação de cada modelo, mas basicamente tem que se respeitar uma distância mínima, de 30 a 50 centímetros, de materiais não resistentes, para que eles não deformem com o calor”, alerta Verônica.
E como o fogão a lenha nem sempre substitui o uso do fogão a gás, é preciso considerar se o espaço comporta as duas opções, ou se ele será incorporado em outro ambiente que não o da cozinha do dia a dia, como uma churrasqueira.
“Qualquer casa pode receber fogão a lenha, casa de madeira, de alvenaria, mas o ponto crucial para o bom funcionamento é a chaminé, que tem que passar o ponto mais alto da casa com menos curva possível”, adverte Bunese. Como os fogões de alta performance concentram mais calor, eles também demandam mais cuidados na instalação da chaminé. O ideal é que se avalie bem o projeto antes de comprar um modelo. No caso das casas, a instalação é mais simples, o que não ocorre em projetos de apartamentos, a não ser em uma cobertura ou em unidades nas quais a construtora já previu a instalação no projeto de construção. Isso porque não bastaria, por exemplo, acoplar no duto da churrasqueira. “O bom é que alguns projetos de prédios residenciais já começam a incluir estes dutos na construção, principalmente em áreas mais frias, como na Serra Gaúcha”, conta Verônica.
À moda antiga
E mesmo com todas as opções de alta performance, há quem queira manter inclusive a memória visual dos fogões de antigamente, e as peças de design clássico cabem muito bem em vários projetos. É o que conta Danielli Wal, arquiteta do escritório Ponto 41, que recentemente fez o projeto de reforma de uma casa no bairro Santa Quitéria, em Curitiba. “A proprietária havia morado na casa quando jovem e há muitos anos acabou se mudando. Um tempo depois, retornou à casa, que foi construída por seu irmão. Eles tinham um fogão a lenha quando ela morou com os pais e ela quis manter este lugar, de memória afetiva.”
E se há perda de eficiência, por outro lado os modelos clássicos têm a seu favor o preço - segundo Bunese é possível encontrar opções no mercado a partir de R$ 1 mil. Outro ponto positivo é o fato de terem menos exigências em relação à instalação, já que o calor que vai para o duto é bem menor do que nos modelos de alta performance.
Outra opção é construir o fogão em alvenaria. “Temos visto muitas pessoas que buscam também o modelo de fogão mineiro, ou fogão campeiro, em que a estrutura é feita em alvenaria e depois colocadas as chapas”, relata Bunese, referindo-se aos modelos bem típicos das fazendas de antigamente.
“O modelo vai depender do que o cliente busca. Mesmo os mais tradicionais podem ser usados em projetos atuais, fazendo mescla com o contemporâneo”, destaca Natália.
Custos
Para incluir o fogão a lenha no projeto, dois custos precisam ser considerados: o do fogão e o da instalação. Se os modelos tradicionais partem de cerca de R$ 1 mil, os de dupla combustão podem chegar a R$ 25 mil (principalmente os modelos importados), aponta Natália. Na Kaminofen, que comercializa apenas os modelos de alta combustão, os preços variam entre R$ 9 mil e R$ 11 mil, dependendo do tamanho (são três, 70 cm, 85 cm e 90 cm) e do acabamento, em inox ou vitrocerâmico.
Na Metávila, os fogões de fabricação da marca homônima de ferro fundido oscilam entre R$ 4,5 e R$ 5,5 mil, e os com chapa vitrocerâmica entre R$ 9,5 e R$ 10,5. Já os da marca premium Liv partem de R$ 10 mil e podem chegar a R$ 17 mil (chapa vitrocerâmica), com variações em relação ao tamanho e modelo.
A instalação pode variar de R$ 800 a R$ 2,5 mil, segundo Bunese. “Tudo vai depender de como será feita esta instalação e de quanto material será utilizado, dependendo basicamente do tamanho do duto”, explica.