Casas racionais e com menos móveis. Essa é a mensagem da Design Week de Milão

Quem peregrinou pelos corredores sem fim do Salão Internacional do Móvel de Milão de 2017, que abriu suas portas nesta terça-feira (4) e se estende até próximo dia 9, acredita ter visto mudanças sutis no universo do design e da decoração. Mas no fundo são bem profundas.

A estética industrial, por mais que agrade atemporalmente a todos nós, ficou no passado. Os grandes designers superaram essa fixação. No lugar, ambientes aconchegantes, que abraçam os visitantes como as velhas casas de campo. A intenção dos pensadores do design é clara: fazer você parar um pouco, frear o frenesi do dia a dia, resgatar as atividades simples do dia a dia e nossa proximidade com a natureza. Como celebra o designer Tom Dixon neste ano: “Precisamos de um lugar para parar e reabastecer”.

O melhor exemplo vem da espanhola Patricia Urquiola, que criou para a Gan um jardim de tapetes bem confortável para áreas externas. Atualiza o conceito de sentar na grama e é um convite a desfrutar de mais tempo parado. A Missoni fez parecido: dedicou a coleção a alguns animais e colocou no ar sons de fontes e de pássaros cantando. Ou ainda da Tribú, que completou uma parede inteira de um living com musgos.

Para esse resultado, espaços livres de excesso que primam por formas simples, minimalistas. O único ‘excesso’ são as linhas arredondadas, sutis, com ginga, que parecem querer abraçar. As linhas mais racionalistas também ficaram atrasadas. Os cantos arredondados dominam todas as marcas. Com destaque para Kartel, Riva 1920, Magis, A Lot Of Brasil, Edra, Gebruder Thonet, MDF Italy, Moroso e Emmemobili.

As peças também buscam a leveza por meio de espessuras finíssimas ou de estruturas vazadas. Como a MYYOUR e Mattiazzi. Entre os materiais, muita madeira, com todo tipo de acabamento, e ainda mais mistura com outros elementos, principalmente o metal, o couro e o vidro. O melhor destaque vai para a Riva 1920 que esbanja uma peça mais encantadora que a outra, indo de objetos mais rústicos, inclusive com uma mesa de centro no formato do mapa do Brasil, até peças simples, bem acabadas, com ar maduro de fazenda.

Entre os tecidos, o veludo vem com tudo, aparecendo com ou sem brilho, além da lã, do linho e do linhão, focando nos materiais naturais. Nas cores, o Salão de Milão vem mais sóbrio, com diversos tons de verde, rosa, cinza. Com algumas exceções de marcas que sempre trabalham com cores mais vibrantes.

A Lot Of Brazil apostou em um Brasil mais folclórico com a coleção Cariri. Inspirada no Nordeste e na natureza brasileira abundante, a coleção tem peças dos Irmãos Campana, uma cadeira de balanço que segue a mesma linguagem da série Estrela, mesas e cadeiras cheias de bossa de Andrea Borgogni, entre outras.

O stand da Artefama, com apoio da Apex, não trouxe lançamentos, mas celebra o melhor do design brasileiro, com peças assinadas por Bruno Faucz e Zanine de Zanini. A catarinense Butzke marcou presença com diversos lançamentos. O que mais chamou atenção foram as cadeiras arredondadas de madeira, de linhas bem simples.