Decoração

Professora se desfaz de tudo para viver em mini casa e encontrar a felicidade

Isadora Rupp*
05/10/2018 17:20
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Foto: Reprodução

Há pouco mais de dez anos, a escritora, fotógrafa e professora norte-americana Tammy Strobel vivia uma vida cuja rotina soará típica para muitos: com um padrão financeiro além dos seus meios. Ela e o marido tinham dois carros na garagem; o apartamento de dois quartos vivia abarrotado de coisas e, ainda, acumulavam 20uma dívida de empréstimo estudantil.
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O trabalho de Tammy na época a esgotava física e mentalmente. “Estressada e infeliz” eram os termos usados por ela para se definir. Em uma conversa franca com o marido, ambos resolveram se desfazer de boa parte de suas coisas e viver numa mini casa — história contada no documentário “Minimalism: A documentary about the important things” (disponível na Nexflix), que mostra a história de pessoas que, como Tammy, escolheram viver com menos, e em um espaço reduzido.
A ideia do minimalismo não é exatamente nova: empregar recursos mínimos na feitura de algo, seja na arte, na moda e na arquitetura é recorrente ao longo da história. “É um tema que atravessa a arquitetura moderna. O livro ´Por uma Arquitetura´, de Le Corbusier, já dava conselhos como ‘more em uma casa menor do que a dos seus pais’, ‘use menos roupas’, ‘tenha menos utensílios’. Isso em 1922”, lembra o arquiteto, historiador e professor do curso de Arquitetura da UTFPR, Irã Dudeque. A premissa do documentário em relação à moradia é que, em um mundo tão populoso, casas e apartamentos de grandes metragens não fazem sentido.
O professor Antonio Castelnou, do curso de Arquitetura e Urbanismo da UFPR, concorda. “Desde meados do século passado, o acelerado crescimento urbano vem apontando para esse problema. A necessidade de viver perto do trabalho, evitando grandes percursos diários, o alto custo na aquisição e manutenção da moradia, principalmente nas áreas supervalorizadas das metrópoles e a crescente conscientização de que não é sustentável ter um modo de vida baseado na cultura do consumo e desperdício são alguns fatores que incidiram para que ocorresse essa mudança na atual concepção de morar nos centros urbanos”, pontua Castelnou, que é doutor em Meio Ambiente e Desenvolvimento.
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E a arquitetura vem buscando soluções para que pessoas vivam bem em pequenos espaços — com residências funcionais e confortáveis em metros quadrados reduzidos, um misto de adaptação, necessidade e desafio, com centros urbanos cada vez maiores. Hoje, mais da metade da população mundial vive em áreas urbanas, segundo a ONU, proporção que deve ser de 66% em 2050. “Isso traz novas condicionantes relacionadas tanto ao tempo como ao espaço, com a proliferação de lofts, que integram ambientes, e coworkings.
Viver em espaços menores também promove maior economia energética e menor impacto ambiental. E é igualmente um desafio, pois é preciso deixar hábitos para trás e abandonar as ideias do acúmulo de bens e esbanjamento de recursos”, frisa Castelnou.
Morar em um lugar pequeno é confortável, diz Dudeque, quando o morador tem acesso fácil aos serviços públicos. “Se você mora em um lugar que tenha serviços públicos bons, pode abolir certas coisas em casa. Em Paris, por exemplo, muitas casas não têm sala de estar, porque a sala de estar parisiense é o café. Se tiver uma biblioteca boa próxima de casa, não precisa ter livros nela. Agora, o sujeito que mora em um condomínio fechado, mais distante, coloca serviços na sua própria residência. Esse é o sentido. A pessoa que mora em um local pequeno vai depender de uma boa cidade.”
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Equilíbrio

Outro fator importante quando se trata da otimização dos espaços é a utilização e a adequação. Só reduzir a metragem não é um bom caminho. “Para se ter um espaço apropriado a qualquer função, é fundamental que seja feito um estudo de ergonomia. Reduzir ao extremo ambientes pode levá-los a se tornarem não-funcionais, inadequados ou até mesmo opressores. Locais muito pequenos podem gerar grandes problemas, como tendências à depressão, sentido de isolamento e até claustrofobia”, destaca Castelnou.
Para ser conveniente ao uso humano, dimensões, tratamentos de superfícies, mobiliários e equipamentos de um lugar devem considerar todas as necessidades físico-biológicas das pessoas, diz o professor da UFPR, que englobam iluminação, ventilação, conforto térmico e acústico, segurança, beleza, privacidade e identidade. “Em muitos casos, não é reduzindo-se espaços que se vai encontrar a solução mais adequada, mas sim conciliar essas questões dimensionais com aspectos funcionais e estéticos”, aponta.
“Confunde-se luxo e ostentação com praticidade e eficiência, quando, na verdade, o que ocorre é o desperdício, o exagero e especialmente a não-funcionalidade, pois o excesso não representa necessariamente um ganho em qualidade de vida.”
Especial para Gazeta do Povo.

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