Decoração

Cozinha de chef

Rodolfo Stancki
23/01/2014 02:30
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No comando de pelo menos duas cozinhas – uma no restaurante, para servir muita gente, e outra em casa, para exercer a culinária por puro prazer –, os chefs sabem que elas são diferentes na essência. As comerciais muitas vezes têm dimensões industriais e um caráter mais impessoal – pelo menos na decoração. Enquanto que as residenciais acabam sendo, para a maioria dos cozinheiros, um refúgio particular para se fazer o que mais gosta até no tempo livre.
O estilo desses territórios privados acabam refletindo muito da personalidade dos chefs. Preferências por cores e móveis, objetos de recordação e peças de coleção, que não poderiam ser usadas no restaurante, ganham lugar de destaque nas prateleiras e armários ao lado da geladeira e do fogão de casa.
Com cores fortes, mesclando laranja e preto, a cozinha da chef Daniela Prosdócimo Caldeira, do La Table Gastronomie e do La Table Douce, revela muito sua personalidade. A começar pelo fogão e pela pia, que ocupam o coração do ambiente com um balcão de granito, que tem a lateral decorada com panelas do dia a dia. “Cozinhar é algo central na minha vida. Queria que isso se refletisse na minha casa também.”
O gosto dela pela decoração aparece na mistura do contemporâneo com o rústico, o que fica evidente no contraste dos eletrodomésticos e nas linhas mais modernas com móveis em madeira maciça, como a mesa de jantar da família e do armário. “Isso reflete um pouco da minha própria culinária, que também é bem moderna e tradicional.”
A fusão entre o novo e o velho também aparece nos utensílios domésticos. Enquanto usa termômetros de última geração para preparar receitas de doces, ela reserva um espaço para as colheres de madeira, que honram a maneira como os antepassados costumavam cozinhar. “É uma coisa bem de vó”, brinca ela, que tem dois filhos pequenos.
Espaço exclusivo
Para o chef Júnior Durski, o nome por trás do restaurante Durski e da rede Madero, a cozinha de casa é como um laboratório, em que se testam receitas para novos pratos. Na bancada central de jatobá, ele prepara o cardápio de seus novos empreendimentos como se fosse uma terapia, usada para fugir do corre-corre diário.
Ciumento, ele afirma que não divide sua bancada com ninguém. “Minha casa tem duas cozinhas diferentes. Não gosto de dividir meu ‘escritório’”, brinca. O mesmo vale para seus acessórios. Há panelas, facas e outros utensílios que são de uso exclusivo dele. Uma das frigideiras, por sinal, está nessa condição há mais de 20 anos.
A decoração do espaço, assinada por sua esposa, a arquiteta Kethlen Durski, tem ladrilhos hidráulicos, móveis em estilo clássico e objetos que remetem à culinária, como quadros com pratos chineses nas paredes. Apesar disso, Durski afirma que a verdadeira alma do ambiente está no balcão, com um fogão da marca Tecno especial para chamas altas, e no fogão a lenha, que fica ao lado da churrasqueira. “Quero que minhas filhas não percam tradições importantes, como comer pinhão na chapa. Algo bem da minha infância.”
Relaxamento
Na cozinha da chef Manoella Buffara, que assina o cardápio do restaurante Manu, especializado em culinária contemporânea, as receitas são preparadas despretensiosamente, usando o livro da Dona Benta. O título “não pode faltar de jeito nenhum” no cômodo.
Pelos móveis, ela espalha um pouco de suas manias, como a de deixar potes sempre etiquetados e ter tudo no lugar. Manu também abriga uma coleção de memórias de suas viagens, como uma mandolina japonesa (um tipo de ralador), tapetes americanos e panelas italianas da marca Bialetti.
“Gosto de entrar na minha cozinha e esquecer do mundo lá fora. Aqui é tudo mais bonitinho e organizado”, conta a cozinheira, que tem um “canto do café”, em que deixa as canecas prontas para a primeira refeição do dia. Por ali, um galo marca se vai chover ou fazer sol durante as horas seguintes. “É meu xodó”, diz.

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