Definitivamente, a natureza é a maior inspiração para o designer e pesquisador francês Patrick Blanc, que projeta verdadeiros tapetes verdes sobre o concreto, em ambientes internos e externos. Após 25 anos da exposição de seu primeiro trabalho profissional, em um museu de La Vilette, em Paris, o designer é reconhecido internacionalmente pela assinatura inconfundível de seus muros vegetais, que já marcaram presença em diferentes países.
De passagem por Curitiba para uma palestra na terceira edição do Architectour, Seminário Internacional para a Cultura e o Turismo, Blanc explicou o conceito do jardim vertical e falou da importância – e dificuldades – em valorizar a biodiversidade brasileira na produção de uma arquitetura mais verde.
Um conceito que move a produção da arquitetura contemporânea é a sustentabilidade. Quando você criou o primeiro projeto, essa preocupação não era prioridade na agenda dos designers e arquitetos. Como surgiu a ideia de construir o primeiro jardim tropical?
Sempre fui apaixonado pela natureza, e, na adolescência, eu tinha um aquário de peixinhos tropicais e plantas aquáticas. Após alguns meses de cuidados, constatei que as raízes das plantas absorviam os nitratos dos peixes, atuando como filtro biológico. A partir de então, comecei a colocar cada vez mais plantas e busquei um suporte de madeira para dar mais espaço à invenção. Depois, o cobri com plástico para deixar a água circular, e algas começaram a crescer ao redor das raízes. Durante 10 anos de tentativas o resultado foi uma parede vegetal independente e, em 1968, aos 15 anos de idade, eu já tinha um apartamento coberto por plantas.
Como é o mecanismo básico de produção e de funcionamento de um jardim vertical?
O jardim é sustentado por uma parede “verde” feita de PVC, separada por poucos centímetros da parede original. Essa grande placa aritifical tem furos, que ficam separados por 10 ou 15 centímetros, onde são grampeadas plantas, em todas as direções da parede. Para a manutenção, é preciso irrigá-las, e para isso são instalados tubos que transportam uma solução composta por água e sais minerais, bombeada a partir de um depósito atrás do projeto. A poda das paredes é especial e eu tenho uma equipe de profissionais que conhece a minha assinatura e cuida dos jardins verticais que faço.
Como inserir a natureza na arquitetura urbana?
Das quatro bilhões de pessoas que vivem no mundo, 70% moram em cidades, deslocadas de uma vivência natural. Trazer a natureza novamente ao dia a dia é muito importante. Os seres humanos se transformaram em seres urbanos, ainda que exista algum movimento para a incorporação do verde nas cidades. O que eu faço, na verdade, é recriar um ambiente ancestral, no qual nossos antepassados viveram, a fim de reconstituir uma memória que está gravada no nosso inconsciente.
O Brasil é reconhecido internacionalmente por sua biodiversidade. Nosso país serve de inspiração para os seus projetos?
O Brasil é um excelente exemplo de como a natureza pode sugerir uma diversidade de combinações entre plantas e texturas para os meus projetos. Aqui temos o homem em contato quase direto com a planta, e isso me parece uma oportunidade única de estar num lugar ideal. O Paraná tem seu exemplo particular, a araucária, além da presença marcante de muitas bromélias. É um país privilegiado nas fontes de inspiração e produção na área da arquitetura, do design e do paisagismo. Um dos maiores reflexos disso é o trabalho do paisagista Burle Marx, mundialmente conhecido por seu trabalho.
Quais seriam as dificuldades de conceber um jardim vertical num país tropical, marcado pela umidade e pela ameaça de insetos?
Os jardins verticais já passaram pelo Brasil? Há perspectivas para projetos fixos?
Sim, tive dois projetos itnerantes. A primeira passagem foi em 2004, na Fundação Álvares Penteado, em São Paulo, numa exposição sobre os fósseis da Chapada do Araripe, em Pernambuco. E a segunda foi no Rio de Janeiro, em 2009, durante a comemoração do ano da França no Brasil. Em relação a projetos fixos, há intenções de negociação, mas ainda nada definido.
Todos os seus trabalho são focados no conceito do jardim vertical. Há como diversificar dentro dessa proposta?
Claro que há. Meus jardins suportam uma estrutura de três dimensões, o que me possibilita trabalhar com uma diversidade de formas e plantas, inclusive flores. Mas realmente sou amante da mesma coisa, me considero “monomaníaco”. Na minha casa, por exemplo, todas as paredes são recobertas de plantas.
Qual o nome da planta que foi registrada em seu nome ?