Decoração

Aplique os “3Rs” da sustentabilidade

Monica Cubis, especial para a Gazeta do Povo
22/10/2010 02:02
Thumbnail
“Ser sustentável envolve questões ambientais, sociais e econômicas. Vai além da reciclagem, esse é apenas um dos princípios. Quando alguém descarta um móvel, não está sendo sustentável. Não precisa necessariamente demolir e transformar em outro objeto. Uma sugestão é reformar e reutilizar o móvel. Reaproveitar é a maneira mais fácil para o consumidor colaborar com o meio ambiente”, opina a arquiteta e coordenadora do curso técnico de design de interiores do Centro de Educação Profissional de Design, Artes e Profissões (Cepdap), Cristiane Baltar.
Muitas empresas oferecem produtos sustentáveis, fabricados a partir de recursos naturais ecologicamente corretos, materiais reciclados ou métodos produtivos de menor prejuízo ambiental. São madeiras certificadas, tintas que levam garrafa pet na composição, pisos feitos de PVC reciclado, porcelanatos e pastilhas que reaproveitam vidro, revestimentos feitos com sobras de madeiras nobres, além do uso de matérias-primas renováveis ou que geram menos impacto na natureza, como bambu, cascas de coco, ladrilhos hidráulicos e tintas à base d’água. “A sustentabilidade tem vários reveses. Pode-se privilegiar objetos produzidos na região, que minimizam efeitos decorrentes do transporte, como emissão de poluentes, e produtos que não geram resíduos, mas é difícil encontrar algo assim. Um exemplo é a madeira sintética, que preserva os recursos naturais, mas pode não utilizar uma tecnologia limpa de produção, gerando poluição, ou mesmo tintas, colas, vernizes e resinas, que podem conter agentes contaminadores”, exemplifica Lia Dutra, instrutora do curso técnico de design de interiores do Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial do Paraná (Senac-PR).
Lia considera fundamental aplicar na decoração a estratégia ecológica dos “3Rs” – reduzir, reutilizar e reciclar, popularizada por organizações ambientalistas, com o intuito de proteger o meio ambiente dos resíduos sólidos. Segundo a instrutora, uma desvantagem do “ecodesign” é que não está acessível para a maioria das pessoas. “A ideia de refazer, reinventar e reutilizar realmente está em alta na decoração. Mas os produtos que há no mercado são muito caros, ainda elitizados. Não se torna acessível para a classe média. Desta forma, o discurso da sustentabilidade acaba caindo na banalidade. Existe a intenção, mas na prática muitos só usam porque é moderno e chique. São poucos os que compram para abraçar a causa.” A instrutora considera que “há um certo preconceito com a palavra ‘reaproveitamento’, quando feito de maneira artesanal ou caseira. Muitos ainda acham que falta estilo, por isso é importante implantar o conceito de design ao de reutilização. Cabe a nós, profissionais da área de arquitetura e decoração, ajudarmos a mudar esse pensamento.”
Para Cristiane Baltar, o artesanato é mais indicado como sugestão de design alternativo, para ser feito em casa. Além disso, todo processo artesanal, quando feito para ser vendido, resulta em um produto mais caro, o que contribui para dificultar a aceitação. Por ser diferente, é preciso observar o contexto da decoração, geralmente mais jovial e despojada. “Não é todo mundo que vai querer comprar, mas justamente por ser diferente é que pode ficar interessante, personalizado”, diz Lia Dutra.
Sobras de tecidos, por exemplo, podem ser usadas para fazer tapetes, revestimento de patchwork na parede ou fuxicos, que se transformarão em cortinas, almofadas, colchas e outros acessórios. “Os fuxicos são um ótima sugestão para decorar. A diferença é que antigamente eram utilizados um de cada cor, sem a preocupação com o resultado estético. Um profissional de decoração trabalha isso de forma mais elaborada, criando uma composição cromática e criativa, voltado não só para moradias de baixa renda”, sugere.
Lia defende que a preocupação com a sustentabilidade deve começar ainda na formação acadêmica, e que muitos jovens profissionais têm levado esse discurso à sério. “É preciso reeducar o cliente, o fornecedor e o profissional que desenvolverá os projetos. Exige conscientização e essa é uma prática que só vem com o dia a dia.”