Decoração

A tradução do Brasil no mobiliário

Daliane Nogueira
05/05/2011 03:18
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Antes mesmo da arquitetura. Minha ligação com os móveis e a madeira vem desde garoto. Eu tinha um tio-avô que era alucinado por marcenaria e na casa onde eu morava havia móveis de diversas épocas. Eram peças inglesas, francesas e do período colonial do Brasil. Uma obra arquitetônica sem mobiliário é escultura, não tem o sentido do morar. Minha paixão pela arquitetura modernista ficou ainda maior quando, logo após minha formatura, em 1952, um grande professor e amigo, o paranaense David Azambuja, fez o convite para que eu participasse do projeto do Centro Cívico de Curitiba. Então eu comecei a minha vida profissional na área de arquitetura.
Assim começou sua relação com o Paraná?
Sem dúvida. Tanto que um ano depois abri uma loja de móveis modernos na Praça Carlos Gomes. Chamava-se Móveis Artesanal Paranaense. Era uma sociedade com o Carlo Hauner. A loja não teve muito sucesso, vendeu só dois sofás em seis meses. Acho que os curitibanos na época se interessavam mais em comprar móveis em outras cidades. Depois disso trabalhei com o Hauner na Forma, em São Paulo e em 1955 fundei a Oca, no Rio de Janeiro. Então em 1957 lancei a Poltrona Mole, com a qual ganhei um prêmio na Itália (Concurso Internacional do Móvel, em 1961, em Cantù).
Livros de design e enciclopédias creditam ao senhor a fama de “pai do móvel moderno brasileiro”, título que considera um exagero. Por quê?
Realmente isso é um exagero. Se o móvel moderno brasileiro teve um pai, foi o (Joaquim) Tenreiro, não há nenhuma dúvida. Ele, nos anos 1940, já produzia móveis um pouco diferentes do que era visto. Mas entendo que a minha produção empolgou estrangeiros e isso me projetou.
Há quanto tempo sua marca é licenciada pela empresa paranaense Lin Brasil?
O licenciamento já tem aproximadamente dez anos. A Gisele (Pereira Schwartsbud, proprietária da Lin) perguntou porque os meus móveis eram tão falados e não tinham tanta comercialização. Eu disse que trabalhava mais sob encomenda. Veio então a sugestão de industrializar e aumentar a produção. A ideia foi colocar em linha o que ela definiu como os meus clássicos, basean­do-se nos estudos da Maria Cecília (Loschiavo dos Santos, autora do livro Móvel Moderno no Brasil).
Com que frequência vem a Curitiba para acompanhar a produção dos móveis?
Venho pelo menos uma vez ao mês. Acompanho, principalmente, a produção de protótipos de móveis que foram criados e não foram desenvolvidos. Há algumas plantas perdidas, incompletas.
Tem alguma que destacaria entre esses “perdidos”?
Ultimamente a poltrona chamada de Chifruda tem sido a mais badalada. De certa maneira por ser estranha completamente. É uma peça que não é para ser vendida em qualquer lugar. É produzida de forma limitada, para grandes colecionadores, para museus.
Sua matéria-prima base é a madeira maciça. Como surgiu a preocupação com o o uso de material de reflorestamento?
Eu era tido como alguém que abusava do jacarandá na década de 1960. Não tinha a noção ecológica de agora. Me arrependi muito, principalmente ao ver que o jacarandá estava quase extinto.
A solução veio com o uso de madeira de reflorestamento, que não está na lista negra.

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