Ambientes integrados
Decoração
6 residências com planta aberta para otimizar espaços e privilegiar o convívio

Foto: Mariana Camargo | Mariana Camargo
Caracterizada por flexibilidade e fluidez, a solução “open space” é estética e funcional. O conceito propõe a redução do uso de divisórias e barreiras, e a junção de cômodos diversos, o que pode ser feito em pequenos apartamentos ou em mega residências.
A solução de privilegiar os espaços abertos remonta aos projetos residenciais de Frank Lloyd Wright (1867-1959) no começo do século 20, quando os ambientes de estar e jantar começaram a se integrar. Na Europa, o franco-suíço Le Corbusier (1887-1965) foi quem estabeleceu os cinco pontos da arquitetura a partir da “planta livre”. Apesar dos grandes exemplos modernos, os ambientes integrados demoraram décadas para se popularizarem.
A integração entre living, sala de jantar e cozinha é a solução mais popular quando pensamos em espaços contínuos. Por aqui, a tendência que chegou há pouco mais de duas décadas, hoje traz também propostas que fogem do tradicional. Um exemplo é a derrubada das paredes de living, varanda, terraço e jardim, abrindo novas possibilidades criativas de convívio.

Já os projetos mais ousados apostam em soluções que unificam as áreas social e íntima, o que possibilita um melhor aproveitamento de espaço em ambientes menores. “A dimensão do apartamento não é o único critério a ser levado em conta antes de se escolher uma planta aberta. Mais importante é que o conceito seja relacionado ao estilo de vida dos moradores. Fazer uma leitura da vida do cliente é mais importante que o tipo de imóvel”, afirma Antonio Carlos Figueira de Mello, sócio do Superlimão.
Para a professora de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) e sócia fundadora do escritório Saboia+Ruiz Arquitetos, Thais Saboia Martins, os espaços abertos são uma forma de compensar o pouco tempo que dedicamos à família.“Quando estamos em casa, vale a pena estarmos realmente juntos”.
Iluminação e ventilação
Optar por uma moradia integrada não significa necessariamente abrir mão de organização e silêncio, mas demanda um acordo tácito no uso compartilhado dos espaços. Do ponto de vista funcional, espaços integrados multiplicam a luminosidade – o que pode deixar a casa mais aquecida num dia ensolarado de inverno –, e facilitam a ventilação cruzada, permitindo ambientes mais frescos no verão.

“A meu ver se ganha sobretudo em espacialidade, na qualidade do espaço”, explica Thais. “Os ambientes se ampliam, o exterior se funde com o interior, as pessoas se movimentam livremente, os mobiliários ou os nichos baixos podem configurar espaços mais reservados ao se eliminar as barreiras tradicionais, como paredes e portas.”
Mesmo que a opção de integrar a residência inteira seja fascinante, é importante também prever a possibilidade de isolar alguns espaços, mesmo que temporariamente. “É interessante trabalhar com portas camarão, de correr, ou divisórias”, recomenda a arquiteta Eliza Schuschovski, da SCK Arquitetura. A seguir, você confere projetos com plantas abertas que vão desde uma grande casa na represa a soluções urbanas e compactas.
Terraço integrado

Para atender ao estilo de vida da moradora, uma jovem paulistana de 30 anos, e otimizar ao máximo os 70 m² do imóvel, o projeto assinado pelo Rua 141 + Rafael Zalc integrou a cozinha à área social e ao terraço.
A reforma contou com outra mudança na cozinha e lavanderia. “Como estas áreas eram bem reduzidas, propusemos a integração com o living para aumentar a entrada de iluminação natural e ventilação. Essa conexão entre os ambientes ocorre através da bancada linear de concreto aparente, que inicia no hall de entrada”, explica a arquiteta e sócia do Rua 141, Mona Singal.
A decoração apostou em materiais rústicos e artesanais, com diferentes cores e texturas. O ladrilho hidráulico, que é um material antigo, foi proposto no piso dos banheiros e na cozinha com desenho contemporâneo, apenas com linhas e tons pastel. A estante projetada no living, que conta com uma porta de correr, dá acesso à área íntima. No terraço, onde já havia uma área para plantio com sistema de drenagem instalado, o cantinho foi aproveitado para o cultivo de algumas espécies.

Loft com vista
Pensado para um jovem solteiro, com perfil moderno e descontraído, esse loft de 50 m² localizado no centro de São Paulo aproveita os painéis de vidro em toda sua extensão, com luz abundante e vista para o verde das copas das árvores, para trazer o clima da cidade para dentro do imóvel.

“Integrando cozinha e sala, o tamanho do apartamento ficou com um espaço bem interessante”, destaca Antonio Carlos Figueira de Mello, sócio do Superlimão. Um armário em marcenaria e uma porta de correr dividem o quarto e a sala. “Assim dá para fechar a bagunça no quarto, receber visitas na sala e comer na sacada”, sugere.
A decoração da sala priorizou elementos neutros, concreto aparente e aço, e procurou liberar a circulação para a varanda. As prateleiras se apoiam sobre vigas de concreto e, para aproveitar ao máximo o espaço, a máquina de lavar foi instalada no closet.


Da sala à varanda
O apartamento de 135 m² em bairro nobre de São Paulo foi reformado com o intuito de integrar a sala à varanda para aproveitar ao máximo a espacialidade dos ambientes. A varanda foi decorada com uma parede verde que traz uma pitada de jardim para dentro de casa.

“Graças à integração, temos uma ventilação cruzada que deixa o apartamento mais fresco, uma multiplicação da luz e uma sensação espacial aumentada”, avalia o arquiteto Fernando Forte, do escritório paulistano FGMF Arquitetos. A cozinha foi mantida separada por escolha dos moradores, um casal com dois filhos e um terceiro a caminho. “Eles precisam de uma cozinha a todo vapor para preparar comida para as crianças”, diz Forte.
Para o projeto de interiores, a base cinza do tipo cimentícia foi usada na maior parte dos revestimentos, com acréscimo de forros e painéis em madeira, que dão um toque atemporal e trazem calor. Alguns móveis, como os sofás dos dois lados, a mesa de centro e a estante da sala foram desenhados pelo escritório. O quarto das crianças foi reformado de modo a criar uma interligação que leva ao “quarto da bagunça”, um closet que serve também como espaço para brincar e que pode ser alcançado também engatinhando.

À beira do lago
A imensidão azul da represa pode ser vista de todos os ambientes que compõem a área social dessa casa localizada em Porecatu, no Norte do Paraná. Integrados, o living e a área gourmet criam um espaço de convivência que se abre para a varanda, que dá acesso à piscina.
“Quando a piscina está longe da vista não dá vontade de entrar, por isso optamos que ela seja percebida de todos os cômodos. E a cozinha aberta facilita a conversação com familiares e amigos”, explica a arquiteta Juliana Meda.

A casa, usada por um casal com três filhos nos fins de semana, tem estilo contemporâneo, linhas retas e visual limpo. O amplo living é pensado para reuniões de família e churrascos com os amigos. Longos panos de vidro permitem que a luz natural entre por todos os lados.
A obra foi econômica e rápida, desde o aproveitamento do terreno até a padronização e aproveitamento dos materiais utilizados. O terreno foi mantido no original e a casa se apóia sobre pilares metálicos, para economizar nos custos de nivelamento e para manter a circulação de ar e evitar a acumulação de umidade, já que a estrutura é metálica.
A madeira usada no piso, no teto e em outros elementos decorativos foi escolhida por conversar muito com bem com o metal e pela praticidade na limpeza, numa superfície total de 350 m².

Cozinha aberta
Moradia de um casal de aposentados, o apartamento de 180 m² com vista privilegiada para uma praça em bairro nobre de Curitiba tem uma integração total da cozinha com à área da TV, a poltrona de leitura, a sala de jantar e o espaço gourmet.

“O casal queria espaços bem integrados, possibilitando o convívio de quem está na cozinha com quem está na sala”, conta a arquiteta Eliza Schuschovski. Por isso a cozinha, antes isolada por uma parede, foi integrada à área social. Para criar contraste entre os ambientes claros, a cozinha se apresenta como um bloco escuro. O uso do verde floresta na bancada e da laca metalizada cobre na louçaria se tornaram mais um ponto de destaque no ambiente.

O piso porcelanato tem acabamento padrão concreto e as paredes brancas dão relevância para o forro em freijó, que traz conforto e aquece o ambiente, sem perder a essência minimalista do casal. Decoram os ambientes itens de design brasileiro, como a Poltrona Mole, de Sérgio Rodrigues, o Cabideiro Stand By, assinado por Claudia Moreira Salles, além das diversas peças da Sollos, por Jader Almeida.



Passar as férias juntos
Destaque na sala é a estante que atravessa o espaço de ponta a ponta: começa na cozinha, se transforma em solução para acomodar a TV e vira um armário no quarto. “O espaço original era um retângulo sem nada: a primeira solução foi criar a integração entre os ambientes; a segunda foi apostar num sofá modular que se transforma em duas camas de solteiros”, detalha Ana Carolina Boscardin, que assina o projeto com Edgard Corsi e Fernanda Staut, do Studio Boscardin.corsi Arquitetura.

Um casal com duas filhas optou por um apartamento de 60 m² totalmente integrado para passar as férias juntos em Florianópolis. Apenas o banheiro e a lavanderia ficaram fechados. Cozinha e sala são separadas do quarto de dormir apenas por uma porta de correr que pode ser escancarada e revelar um ambiente único.
Ana Carolina vê uma tendência crescente dos projetos “open space”. “As metragens são cada vez menores e já se foi o tempo em que as plantas eram compartimentadas. Os espaços vão ficar cada vez menos ociosos e, para isso, têm que estarem integrados”, defende.


