Arquitetura e aprendizado
BRDE Palacete
Legado ativo e educação patrimonial como ferramentas do ensino
Foto: Reprodução/ Facebook | Daniel Schuch
Todos os anos, a turma do sexto período do curso de Arquitetura e Urbanismo da UTFPR, que cursa a disciplina de Patrimônio Cultural e Restauro 2, se divide entre grupos e cada equipe escolhe uma construção tombada como patrimônio histórico e cultural do Estado para fazer uma visita. “Ela vai até o local, fotografa, tira medidas, conversa com os proprietários, conhece a história, desenha, faz a planta com corte, elevação e toda a parte técnica”, explica a arquiteta e professora da disciplina, Rafaela Fortunato, complementando que, ao final da disciplina, os estudantes constroem uma maquete física do bem selecionado.
Segundo a professora, esse contato direto com as obras que ilustram
concretamente o que os alunos até então conhecem principalmente via teoria é
essencial para o processo de aprendizagem, além de contribuir com a valorização
do patrimônio, mantendo sempre viva e circulando a história e a memória da
cidade.
concretamente o que os alunos até então conhecem principalmente via teoria é
essencial para o processo de aprendizagem, além de contribuir com a valorização
do patrimônio, mantendo sempre viva e circulando a história e a memória da
cidade.
“Estas visitas in loco são importantes porque dão toda uma nova dimensão ao aluno, ele percebe aquele repertório, visualiza na prática os elementos do ecletismo na arquitetura, entende como foi feito o restauro, desde o papel de parede, os vidros, entre outros”, reforça ela.
Para a professora de arquitetura, o diálogo com a arte e a história oferece toda uma gama de riqueza enquanto ferramenta lúdica. “Cada vez que eu levo a turma, tem uma exposição diferente, então além da parte arquitetônica, são conectados com a parte artística. Nas visitas, os alunos podem conhecer o Palacete, a Vila Odette, a Capela da Glória, é todo um ambiente do Alto da Glória que conta a história da erva-mate, que está conectada com a história do Paraná”.
Dentre os endereços listados na disciplina estão construções do período eclético, como o Palacete Leão Jr., importante exemplar do começo do século 20. Ali, as visitas dos alunos são mediadas pela equipe do Palacete abordando desde o período residencial, sob a tutela da família Leão, até o funcionamento atual, como espaço de exposições e eventos artísticos.
Aprendizado em vários níveis
Pesquisadora de arte contemporânea e espaços institucionais, a atual coordenadora do Espaço Cultural Palacete dos Leões, Rafaela Tasca, avalia que esses momentos com os alunos é uma oportunidade de criar relações que vão além do relato dos fatos históricos e da percepção arquitetônica. “Em um espaço tombado pelo patrimônio, há a possibilidade de uma ligação na esfera de pertencimento, um envolvimento que busca incluir culturalmente o visitante”.
Para ela, não se trata apenas de reconhecer a importância do local
em um determinado período, mas de manter o legado desse espaço ativo - no caso
do Palacete, isso acontece por meio das atividades culturais e educativas.
“Esta ativação acontece de duas formas – uma é conservar, que é o que a IBM fez
e o BRDE está fazendo, um investimento constante em manutenção. E a outra
acontece quando incentivamos a produção de novas memórias com exposições de
arte contemporânea e atividades culturais.”, reflete.
em um determinado período, mas de manter o legado desse espaço ativo - no caso
do Palacete, isso acontece por meio das atividades culturais e educativas.
“Esta ativação acontece de duas formas – uma é conservar, que é o que a IBM fez
e o BRDE está fazendo, um investimento constante em manutenção. E a outra
acontece quando incentivamos a produção de novas memórias com exposições de
arte contemporânea e atividades culturais.”, reflete.
Mas não é somente para os estudantes de arquitetura que o diálogo
com o patrimônio tem algo a acrescentar. Essa troca também é realizada com crianças
e adolescentes em idade escolar, e com professores.
com o patrimônio tem algo a acrescentar. Essa troca também é realizada com crianças
e adolescentes em idade escolar, e com professores.
A arte educadora Rosângela de Camargo Canetti é uma das professoras do Colégio Estadual do Paraná que costuma levar seus alunos até construções históricas e bens tombados para visitas guiadas. “Geralmente o aluno fica a maior parte de seu tempo em sala de aula, um campo limitado, recebendo apenas os conteúdos das matrizes curriculares impostas pelas mantenedoras das instituições de ensino. Acredito ser necessário ir além disso”, justifica.
As visitas a sítios de relevância histórica são utilizadas como ferramenta de ensino também por programas municipais de ensino como o Linhas do Conhecimento e o Veredas Formativas. O primeiro é voltado aos alunos de diferentes fases do ensino, enquanto que o segundo tem como objetivo complementar a formação dos professores, como explica Margareth Caldas Fuchs, gerente de educação e cultura da Secretaria Municipal de Educação de Curitiba.
Ela conta que o propósito do programa dedicado aos professores é também de reforço da consciência cívica. “Estão dentro desse programa formativo tanto os ativos quanto os aposentados, e muitas vezes estendemos para a comunidade. São várias ações que têm o objetivo de ampliação do referencial estético dos professores”.
Entre as atividades que envolvem os locais tombados está a Semana de Arte Cultura e Literatura, um projeto que envolve mais de 17 mil profissionais de educação em mais de 300 ações, entre as quais estão visitas mediadas a mais de 80 prédios de importância histórica na cidade. “Não é uma formação acadêmica, mas é pessoal, e isso vai impactar na sua condução até na sala de aula, com um olhar mais sensível, uma busca de um posicionamento mais crítico, e somente a arte e a cultura que vão te dar esse olhar. Para formar alunos pensantes, precisamos que os professores também frequentem esses espaços, estejam próximos a essas linguagens, isso é tão importante quanto a formação acadêmica”, reforça Fuchs.
Canetti concorda: “O patrimônio cultural é importante na educação, pois é através dele que o aluno tem a oportunidade de conhecer melhor a história e a herança cultural e fazer uma leitura do mundo que o rodeia. O contato do aluno com os espaços culturais, museus, monumentos, galerias, é mais que uma ferramenta de troca, apropriação e enriquecimento do saber, propicia sentimento de valorização e de necessidade da preservação desses bens”, conclui.
O superintendente da agência do Paraná do BRDE, Paulo Cesar Starke Junior, reforça a questão do potencial educativo do espaço. “Desde o início optamos pela gratuidade das atividades contribuindo para democratizar o acesso à cultura. Nossos visitantes são empresários, turistas, estudantes, pesquisadores, professores, alunos da rede pública. É um público variado que demonstra nosso compromisso de manter um patrimônio que pertence a todos”.