O caso de uma antiguidade contemporânea
Mose: tradição e inovação. Foto: Karl-Heinz Macek/Divulgação | Karl-Heinz Macek
Um objeto que se faz por meio de um savoir-faire artesanal e antigo, mas que conta com um olhar contemporâneo. Começou com um olhar e uma fotografia da Laguna de Veneza. A foto virou desenho de uma escultura que representa o movimento da paisagem. Teoricamente, este desenho deveria se transformar em uma escultura feita em vidro soprado no método artesanal, o vidro de Murano.
Batizado de “Mose” (Moisés em Italiano), o projeto é uma metáfora-homenagem à Veneza, ilha mágica onde nos locomovemos pelas águas, e ao milagre de transformar “fogo” em “água”. Afinal, o vidro é trabalhado em uma temperatura acima de 1000 graus, praticamente em fogo, e Mose é um “vaso” que acolhe água. Moisés abriu o mar e o objeto acolhe o mar dentro de si.
Mose nasceu em 2010, para participar de um concurso internacional de design. Foi para meu portfolio de apresentação profissional e acabou sendo apadrinhado por um cliente de arquitetura que me levou a um “Fornace” em Murano. Foi apresentado na Feira Maison & Objet em Paris, em 2011. De lá para cá, Mose e eu crescemos. Trabalhei com três diferentes maestros vetrai, cada um com seus dois assistentes.
Nestes anos todos, aprendi sobre o processo do vidro artesanal, principalmente como não se controla quando se trabalha sem uma fôrma, “apenas” com o sopro e o gesto, ou os muitos gestos … não se controla a temperatura externa, nem a umidade, nem a quantidade exata de cor, muito menos a interação entre as cores. Sim, porque o azul não é simplesmente azul, mas uma mistura imprecisa de azul com âmbar ou azul com azul-acinzentado. O processo é totalmente imprevisível e, por isso mesmo, é interessante. Aprendi com erros e acertos, com a insatisfação do resultado, com a vontade de desistir.
Há alguns dias fui para Murano para fazer uma nova série de Mose. A mais livre de todas até agora. Livre de forma, livre de dimensões exatas e obediente ao acaso. Foram preparadas as diretrizes básicas: croquis, dimensões aproximadas e cores desejadas (preparadas alguns dias em avanço). E sempre acaba a cor, surge uma experiência nova baseada em um querer antigo. Ao vivo, muito diálogo e aprendizado com o maestro.
Assim, depois de 6 anos de experiência, o processo começa a fluir naturalmente e o resultado desta vez ficou ainda mais surpreendente. A novidade é que, em setembro, as pelas que compõem o projeto estarão em exposição na Galerie Agnes Monplaisir em Paris. No Brasil, estão na Armani Casa, em São Paulo.
* Daniela Busarello é arquiteta e garimpeira do bom e do bonito, Daniela Busarello trocou Curitiba por Paris em 2007. O que deveria ser um ano sabático se transformou em oito anos de criação na capital da luz: arquitetura de interiores, cenografia, design gráfico, fotografia, arte e design. db@danielabusarello.com
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