Um convite para parar e olhar o céu

Key Imaguire Junior
14/11/2016 20:54
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Selene (deusa da Lua) de brincos. Foto: Jonathan Campos/Gazeta do Povo | GAZETA

Em nossas cidades, não só ouvir, mas ver estrelas torna-se cada vez mais difícil.
Os povos antigos eram todos grandes astrônomos – e não havia como não serem, sob aquele espetáculo. A quase totalidade de seus deuses morava no céu, e davam seus nomes a planetas e constelações. Só os do mal ficavam escondidos sob a terra.
Para nós, até mesmo algumas ocorrências especiais como eclipse, chuva de meteoros e passagem de cometas (que estão lá em cima, longe de poluição e outros fatores escurecedores), só chegam a nós pelo noticiário, onde são apresentados em fotos feitas com equipamento especial de uso científico ou a partir de satélites.
Não é preciso mencionar esses itens: poluição atmosférica, aquecimento climático, excesso de iluminação, construções volumosas que obstruem nosso visual. São mais do que conhecidos e fazemos de conta que nada temos com isso.
O que particularmente incomoda é precisamente estarmos desvinculando o céu de nossas vidas. Assistimos a filmes com viagens espaciais, falamos do caos climático, alguns mais esclarecidos vão ao planetário, tememos, ou não, ETs e alienígenas, tudo olhando telinhas de celulares e monitores.
Não é mais possível um mínimo de consciência do universo, do cosmos pelo qual viajamos, nem identificar estrelas e constelações ou assimilar a fantástica riqueza cultural que nos proporcionaram. Talvez por isso o ser humano esteja cada vez mais arrogante em relação ao meio ambiente: nossa condição de habitantes de um cisco estelar não pode mais ser entendida.
Nossa civilização já destruiu quase toda a superfície do globo terrestre. Mesmo onde há o que apreciar, foi confinado a um parque, que não se pode percorrer livremente. Sempre haverá um guia turístico nos ensinando o que ver ou hordas de turistas fazendo selfies sem ver coisa alguma além de seus reflexos na câmera.
Natureza, para nós, está se tornando sinônimo de catástrofe: inundação, seca, terremoto, tsunami, tornado – mesmo em lugares antes livres deles.
Ver estrelas? “Certo perdeste o senso”, já dizia Bilac. Como ainda não podemos destruir o cosmos, podemos, pelo menos, escondê-lo.

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