Que cidade é esta? Marcas, construções e linguagens que ajudam a reconhecer
Daniel Castellano/Gazeta do Povo
Nosso subtítulo alternativo poderia ser “Síndrome de Planeta dos Macacos”. Se você pegar – ou for apanhado por– uma curva no espaço-tempo e cair numa cidade qualquer do planeta, saberia identificá-la?
Acho que fica cada vez mais difícil, a menos que você “caia” numa dessas poucas cidades privilegiadas, com paisagem natural inconfundível – digamos, Rio de Janeiro ou Santiago do Chile.
Acho que fica cada vez mais difícil, a menos que você “caia” numa dessas poucas cidades privilegiadas, com paisagem natural inconfundível – digamos, Rio de Janeiro ou Santiago do Chile.
Claro, existem monumentos identificadores construídos ou artificiais (não é preciso mencionar nenhum, certo?), mas são raros, estão deixando de ser feitos e os novos são de tanto mau gosto que o mínimo a esperar da sensatez humana é que sejam demolidos o quanto antes…
As cidades que se identificam à primeira vista por uma configuração humana harmônica com a paisagem natural são raras. O único caso que conheço é Veneza.
“Relação harmônica com a paisagem” não significa necessariamente que o cenário seja mar, cordilheira ou grandes rios. Pode ser, por exemplo, uma vegetação específica regional. Curitiba já teve esse privilégio, com as araucárias que lhe deram nome e já foram quase todas assassinadas. Deve haver outras espécies em outros lugares capazes de produzir essa identidade natureza/paisagem.
Para quem souber ler arquitetura e configurações urbanas, as áreas históricas das cidades podem identificá-las. Essa leitura exige um certo acervo de conhecimentos prévios: estilos e modismos arquitetônicos, técnicas construtivas, correspondências entre pessoas e espaço, e assim por diante. Belo exemplo, Colônia do Sacramento, no Uruguai. Um tipo de alfabetização que deveria ser mais comum do que é,começando mesmo no ensino básico.
Não espere identificar a cidade pelas pessoas que encontrar. O tipo físico só será denotativo se você desembarcar da cápsula espacial numa aldeia Inuit do Canadá ou equivalente. Mas, excluindo umas poucas cidades, o cruzamento e intensificação dos fluxos migratórios estão diluindo as características raciais – ou misturando-as incompreensivelmente. Bem, talvez isso até resolva alguns problemas da espécie humana.
Não espere identificar a cidade pelas pessoas que encontrar. O tipo físico só será denotativo se você desembarcar da cápsula espacial numa aldeia Inuit do Canadá ou equivalente. Mas, excluindo umas poucas cidades, o cruzamento e intensificação dos fluxos migratórios estão diluindo as características raciais – ou misturando-as incompreensivelmente. Bem, talvez isso até resolva alguns problemas da espécie humana.
Quanto à roupa, então, não confie nisso para identificar o lugar. A rapaziada de jeans, camiseta e tênis domina qualquer cidade do mundo.
Se, por um lado, essa bobagem do “politicamente correto” preconiza a aceitação da diversidade, por outro, em frontal contradição, coloca a globalização como um dos valores positivos da contemporaneidade. E globalização significa o sepultamento da cultura e da diversidade. A arquitetura, que já foi um dos grandes definidores da paisagem urbana, perdeu essa prerrogativa, submersa na mediocridade do mercado imobiliário.
Encontrar, prestigiar, acentuar o que uma cidade tem de particular, de específico, de individualidade urbana, deveria ser uma ideia primordial do planejamento urbano. Ainda que não tenhamos intenções de embarcar em cápsulas espaciais.