É uma experiência na qual, variadas as circunstâncias, me parece que a maioria das pessoas já esteve: apreciar, cuidar, viver liliputianamente uma fração de paisagem —com alguma ajuda da imaginação, que proporciona boas viagens. Não estamos mencionando as “janelas para o mundo”: quadros, fotografias e outros recursos que quebram a insipidez monástica das paredes dos apartamentos.
Que podem ser muita coisa —mas não o nosso assunto de hoje. Na cultura oriental, desde sempre condicionada pela falta de espaço — e apreciação da natureza — há algumas tradições das quais o mundo ocidental se está apropriando: na medida em que passamos a viver em minúsculas casas e apartamentos, em função “das três telas de cristal líquido”, os cultivadores de bonsai se tornaram mais numerosos.
É um “jardim mínimo“, mas no qual a vida dos verdadeiros, sua variação ao longo das estações do ano, o desenvolvimento dos indivíduos como criaturas vivas, pode ser apreciada.
Os recursos que reforçam a ideia de uma paisagem em miniatura estão sempre presentes: o musgo referencia a vegetação rasteira sob a árvore; eventuais trilhas e miniaturas de construções nos fazem
viajar na escala das dimensões. Tem bastante aceitação a fração de paisagem submarina: aquários onde a vida vegetal e animal convivem, mas sempre dentro da ideia do mundo em miniatura.
viajar na escala das dimensões. Tem bastante aceitação a fração de paisagem submarina: aquários onde a vida vegetal e animal convivem, mas sempre dentro da ideia do mundo em miniatura.
É um ambiente muito rico, porque admite vida animal: onde até mesmo os ciclos alimentares e vitais podem ser observados. Os comportamentos das diversas espécies não são simples como parecem à primeira vista, e sua compreensão é um exercício de inteligência.
Acho que o fascínio dos aquários é precisamente a observação dos pequenos seres coloridos, que nem mesmo nos percebem. Ou percebem que somos um ambiente externo a seus mundinhos, e nos observam… O romantismo da viagem costuma ser reforçado com alusões diretas: além das pedras e da vegetação, carcaças de navios naufragados e escafandristas…
É claro que há pessoas que não se satisfazem em sonhar na paisagem dos bonsais e aquários: há quem goste de se imaginar no pesadelo de um deserto povoado de aranhas caranguejeiras, serpentes e outros seres assustadores. Ou então no ultra-socialismo de um formicário, que dizem ser muito interessante, mas no meu entendimento, só para uma comunidade de tamanduás.
Os japoneses cultivam também o suiseki, contemplação de pedras arranjadas para formar uma paisagem com tudo dentro, na sala: uma fração de um planeta, ainda que semelhante ou igual ao nosso, em escala reduzida e confortadoramente sob nossos cuidados. Ao contrário do nosso mundo principal, fora de controle e despencando nos abismos sem retorno do super aquecimento, da poluição, da extinção das espécies…