Galeria: a mãe do shopping center
A Galeria Tijucas, em Curitiba, vista de dentro para fora. Foto: Daniel Castellano/Gazeta do Povo
As primeiras passages surgem em Paris a partir de 1822: ano fácil de lembrar, para nós. Nem tão fácil é lembrar que a Revolução Francesa tinha pouco mais de 30 anos – então, ainda eram presentes as imagens da violenta deposição da aristocracia francesa, praticada pela ascendente burguesia. Que vinha montada não no cavalo branco do já eliminado Napoleão, mas no trem de ferro da industrialização.
As galerias parisienses são o grande atestado arquitetônico da modernidade de sua época: a ideia de “rua interna”, abrigada do clima, dedicada inicialmente ao comércio de tecidos. Este cada vez mais diversificado e sofisticado, leva a fórmula a ser reproduzida e ampliada – tornando-se, ela mesma, um modismo urbano. O ambiente assim concebido e construído, como assinalou Walter Benjamin, é cheio das ambiguidades: é antes de mais nada interno, mas tem uso de rua; é abrigado, mas não isolado do céu, visível através das coberturas em ferro e vidro; é espaço comercial, mas incorpora o lazer das promenades.
Dos poucos metros de largura, as passages vão se ampliando, englobando novos itens de consumo, e se tornando mais complexas como espaço. Chegam até as concepções grandiosas, já em outros países, como a Galeria Vittorio Emanuele, de 1861, em Milão – ainda hoje, o famoso “comércio mais caro do mundo”.
Dos poucos metros de largura, as passages vão se ampliando, englobando novos itens de consumo, e se tornando mais complexas como espaço. Chegam até as concepções grandiosas, já em outros países, como a Galeria Vittorio Emanuele, de 1861, em Milão – ainda hoje, o famoso “comércio mais caro do mundo”.
No Brasil, não tenho referências seguras, mas falou-se das galerias a partir da década de 1950. Vinham com a marca “du chic parisien” , mas ofertando comércio bem mais popular: bancas de revistas, salões masculinos (femininos, assim na vitrine, jamais!), cafés e confeitarias, relojoarias, tabacarias, pequenos presentes…
Não sei se o controle representado pelos portões fazia parte do conceito original. Tenho dúvidas. Eles se tornaram necessários porque a nossa juventude transviada gostava de atravessá-las, na madrugada, com seus poderosos bólidos de duas ou quatro rodas, sem silenciador de escapamento. Considerando que, nessas galerias, havia também o acesso aos edifícios residenciais, tem-se ideia da dimensão do problema criado pela indisciplina brasileira.
Se a galeria se fez para o consumo do pedestre, no centro das cidades, o shopping center é função do automóvel. O conceito é o mesmo: percurso controlado e climatizado, com ofertas diversificadas. Entre a galeria e o shopping center, há formulações espaciais intermediárias – não se passa de um para o outro num passe de mágica urbanística. Só o que se tem a lamentar no processo é o esvaziamento das ruas, que perdem em diversidade, em densidade cultural e social.