Em regiões do centro do Brasil, há solos esterilizados por sucessivas queimadas – e ali, em plantando, nada se dá. A vegetação consiste num capim amarelado e uns poucos arbustos retorcidos, com poucas folhas. E cupinzeiros – dezenas, às vezes centenas lembrando os prédios de uma cidade. Além do que se vê acima do solo, as galerias, túneis e salas afundam na terra, e a semelhança com as cidades humanas fica ainda maior.
Vai para meio século que ouço falar no metrô de Curitiba. Para além das boas e más razões para que seja feito – ou não, é claro – tento identificar essa tendência humana para espetar a atmosfera e a litosfera com suas construções.
Acho que o inventor do metrô foi Adriano, imperador de Roma de 117 a 138. Cansado do frenesi da vida romana – há notícias de que beirava, realmente, pelo insuportável – construiu um retiro a alguns quilômetros, a Vila Adriana – até hoje, um lugar bucólico na paisagem de colinas do Lázio. Para evitar que o tráfego dos veículos dos fornecedores, trabalhadores e soldados da Guarda Pretoriana o incomodasse, simplesmente enterrou essas circulações: na superfície, apenas pedestres, jardins, espaços culturais. Não satisfeito, Adriano e seus arquitetos ainda inventaram a rótula – subterrânea também, para disciplinar o tráfego.
Talvez o grande imperador tivesse notícia dos cristãos, vivendo nas catacumbas do subsolo romano, clandestinidade da qual saíram apenas dois séculos mais tarde, sob o governo de Constantino.
Mas para o conceito atual de metrô, o subsolo do planeta teve que esperar pela Revolução Industrial, Robert Fulton, as locomotivas e outras tecnologias. E, evidente, que o congestionamento de veículos nas grandes cidades exigisse um alívio. Vale notar que nas capas de pulps e nos gibis, a visão dos artistas fosse sempre por pistas elevadas e esteiras rolantes entre prédios e/ou veículos aéreos de pequeno porte. Nada de túneis.
Mas para o conceito atual de metrô, o subsolo do planeta teve que esperar pela Revolução Industrial, Robert Fulton, as locomotivas e outras tecnologias. E, evidente, que o congestionamento de veículos nas grandes cidades exigisse um alívio. Vale notar que nas capas de pulps e nos gibis, a visão dos artistas fosse sempre por pistas elevadas e esteiras rolantes entre prédios e/ou veículos aéreos de pequeno porte. Nada de túneis.
Algumas cidades usaram com brilhantismo a solução enterrada – e, tanto quanto sei, onde se deu particularmente bem, foi na rica, organizada e fria Montreal. Os canadenses descobriram mais uma conveniência no uso do subsolo: isolamento contra o frio e os invernos intensos e prolongados. As ligações entre áreas de alta densidade comercial e residencial se beneficiam de quilômetros de galerias – nas quais não há apenas as estações de trem, mas também comércio, lazer e cultura. No entanto, essa tendência é complicada, energeticamente cara, exigindo um poder público atento e responsável. Um apagão, aí, é impensável.
Imagino, daqui a alguns milênios, uma expedição arqueológica de Alfa-Centauro escavando as ruínas de um curioso planeta calcinado do Sistema Solar. Os cientistas questionam entre si: “Eram os humanos cupins?”.