Aos olhares do povo daqui, sou avant garde-independente. Aos olhares do povo de lá, sou exótica-autêntica. Dentro de mim, sou íntegra, verdadeira e alegre. Virei viajante, uma Marco Polo de saias, sedenta de olhares, curiosa de sabores, cores, perfumes e sensações. Curiosa de ventos , temperaturas e paisagens diferentes.
Diz-se que a verdadeira viagem do descobrimento não consiste em mudar a paisagem e, sim, em olhá-la de um jeito novo. É isso, mas é também viajar e experimentar e mergulhar em outras paisagens e culturas. É entender que a misturinha boa é a da memória arquetípica com a da memória do presente, do passado imediato que é o “ontem”.
Parti para uma “quarentena” no Brasil, abri a caixa mágica do “olhar viajante” para explorar algo tão conhecido: a minha “velha” casa, a casa dos meus pais. Cheguei nesta casa aos três anos e meio. Casa onde estudei, e muito desenhei. Onde plantei a primeira araucária com a minha mãe. Onde toquei piano, dancei, cozinhei. Onde idealizei um “mundo perfeito”. É a casa onde vivi, e aprendi a ser humano-arquiteto-poético.
Esta é uma casa que ao passar dos anos está cada vez mais madura, mais cheia de vida! Tornou-se uma casa porque é cultivada como um lar, todos os dias. Ela está em Curitiba, no sul do Brasil, tem menos sol, e a colonização foi europeia. Não é o Brasil do imaginário popular planetário. Não tem carnaval. Não tem bom futebol, nem praia. Felizmente tem um “certo gene brasileiro”: é repleta de sorrisos, otimismo e ao longe, no horizonte, ainda revela a Serra do Mar.
Volto então para a casa-raiz, ventre do viajante. A partir dali crio histórias mirabolantes, através de um olhar minucioso, microscópico, pontiagudo. Este olhar foca em paisagens internas minúsculas. Investigo e experimento o cotidiano de estar aqui nesta arquitetura de cubo branco, repleta de “tesouros barrocos”.
Nela observo o feito à mão brasileiro, o objeto único, a intensidade do tempo-amor-dedicação de seus habitantes-artistas. Para eles, cada objeto está ali posicionado para construir um feliz momento de vida. Todos esses objetos fazem parte também da minha história e, por estar há alguns anos longe deles, longe deste cotidiano, eles ganham força, beleza e identidade!
As fotos são uma mistura do olhar de arquiteta, da minha alma poeta, das delicadezas dos cliques instantâneos. Um diário-íntimo de imagens. Um olhar analítico do cotidiano banal.
chezBRASILmoi * minha casa no Brasil