Aqui em Paris é verão, a estação dos pique-niques nas ruas. Tudo começa “semi-oficialmente” com o dîner em blanc, o chamado jantar branco, em que milhares de pessoas vestidas com roupas brancas se reúnem em segredo e, no horário marcado, “invadem” um lugar público da cidade para um evento coletivo. Para participar é preciso ser convidado. As regras de comportamento são bem rígidas, para que a cidade fique impecavelmente limpa do início ao fim da noitada. Velas, música, gastronomia e alto astral para comemorar a chegada do calor. Já vi acontecer na Champs Élysée, na Place du Palais Royal, na Place de la Concorde e no Louvre. A estação começou dia 21 de junho, com a Fête de la Musique (Festa da Música), noite em que todos saem de casa para cantar e dançar nas ruas da cidade, chova ou faça sol. A partir daí é dia até as 11 da noite e cada um aproveita como pode. Com música é uma boa pedida.
Um “objeto” do futuro
Inaugurou em janeiro de 2015 a Filarmônica de Paris, projeto de Jean Nouvel, construído ao nordeste da cidade, onde fica a Cidade da Música e a Cidade da Ciência. Trata-se de uma Paris contemporânea, de paisagem diferente da que estamos acostumados e que apresenta o que ainda está por vir. O edifício é feito em lâminas de metal espelhado, um rendado cibernético. Uma arquitetura à la “ovni”, cujo interior descortina um ninho musical.
Para entrar na sala principal, sobe-se uma escada rolante que fica no espaço externo. No pavimento superior, um grande terraço apresenta a bela vista sobre um mar de árvores. Uma porta quase invisível dá acesso à nave espacial. E os olhos, impressionados com a grandiosidade da arquitetura, só olham para cima.
Há dois meses, fui assistir a um dos meus quartetos de corda preferidos, o “Kronos quartet”. Sentada na quarta fileira, da introspectiva sala azul, podia ouvir a respiração dos músicos. Voltei mais recentemente, desta vez à grande sala dourada espacial e me senti no berço do universo, em outro planeta, ao assistir ao cine-concerto de 2001, Uma Odisséia no Espaço. O filme de Stanley Kubrick, de 1948, tem uma narrativa atual, que foi apresentada neste espaço “catedral” e com a filarmônica tocando. Não sabia se estava acordada ou sonhando.