A Rua XV de Novembro vista de cima. Foto-montagem: Letícia Akemi / Gazeta do Povo | Gazeta do Povo
Você deve ter passado mil vezes por ela e, aposto, que não olhou para cima. Não para as nuvens a fim de averiguar o clima. Um pouco mais para baixo. Para tudo que fica entre o calçadão de pedras portuguesas e o limite do céu. A Rua XV de Novembro, ou Rua das Flores, é rota da correria diária, das lojas e dos serviços de banco. É ponto de encontro, passagem e cenário das fotos de turistas. E é também registro histórico da cidade. Quer ver?
Construído em 1972, em apenas três dias, teve a paisagem histórica tombada pelo patrimônio no final da mesma década, o que obviamente foi crucial para preservar a arquitetura e manter as características de outros tempos. “Temos nesta rua um mostruário da arquitetura desde o final do século 19 até os anos 1990. Cada quadra é um ambiente, o que deixa mais rico o conjunto”, afirma o arquiteto e professor da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), Salvador Gnoato.
Para Key Imaguire Júnior, arquiteto, mestre e doutor em História e professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR), a rua se tornou uma história viva, com belíssimos exemplares arquitetônicos dos períodos eclético e moderno. “Quem passa pela Rua XV de Novembro conhece quase tudo do que se construiu na arquitetura de Curitiba.” O nosso passeio partiu do Bondinho, que fica na junção da Travessa Oliveira Belo e Rua Ébano Pereira, até o prédio da UFPR. A Boca Maldita, porta de entrada da rua famosa, fica de fora do passeio, afinal, tem muita história por lá para contar.
Último exemplar do movimento paranista, criado por Frederico Lange de Morretes, ao lado de João Turin e João Ghelfi. A estética paranista aplicada ao art déco é consequência do ecletismo e uma tentativa de criar um padrão estético regional. Fotos: Letícia Akemi e Fred Kendi / Gazeta do PovoA antiga loja de tecidos Casa Louvre, de 1912, é o único exemplo da art noveau no Paraná, segundo a arquiteta Maylin Ling, que restaurou o imóvelO prédio que sedia uma agência do Itaú tem estilo neogótico – tendência do período eclético – e foi construído em 1893A antiga sede do Clube Curitibano é um exemplar art decó com influência do modernismo. Entre os detalhes, ferro fundido e aço e menos ornamentosO petit-pavê, os domos de acrílico roxo, as floreiras e os bancos são herança dos anos 1970, quando a rua deu lugar ao calçadão, em obra do arquiteto Abrão Anis AssadA UFPR teve a construção iniciada em 1913, em estilo neoclássico, em um projeto do engenheiro Baeta de FariaEm meio a prédios ecléticos e modernistas, as galerias do Plano Agache (plano urbanístico do francês Alfredo Agache) da década de 1940. O conceito urbanista do século 19 começou em Paris e deu origem aos shoppings centers. A construção (à direita) já abrigou o Banco de LondresA porta do prédio onde funcionou a Livrarias Ghignone segue o movimento art nouveau, de linhas sinuosas e assimétricasOs bares Mignon (1925) e Triângulo (1939), a Casa das Canetas (1948) e a Confeitaria das Famílias (1945) são os mais antigos estabelecimentos comerciais da Rua XV em atividadeA construção já abrigou o Grande Hotel Moderno, inaugurado em 1913 como bar em estilo inglês. Nesse caso, a fachada art déco – primeiro movimento modernista da arquitetura - foi reformada. O restauro não foi possível por falta de informações suficientes dos materiais utilizados na época de sua construção. “Os ornamentos sequenciais lembram o movimento de uma máquina. É o modernismo chegando com poucos adornos”, afirma o professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Key Imaguire JúniorOs balcões da arquitetura eclética não existiam por acaso, eles eram usados para os moradores apreciarem o movimento e serem vistos. “Dentro do ecletismo, o estilo é bem neoclássico”, afirma Key MaguireA Universidade Federal do Paraná (UFPR) teve a construção iniciada em 1913, em estilo neoclássico, em um projeto do engenheiro Baeta de Faria. Tombado pelo Patrimônio Histórico e Artístico do Paraná, faz um contraste harmônico com o modernismo da Associação Comercial do ParanáOrnamentos de várias procedências geográficas, em voga no período do ecletismo