Arquitetura
Por que a UFRJ recusou R$ 300 milhões para reforma do Museu Nacional
Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil | Tomaz Silva/Agência Brasil
Destruído pelo fogo, o Museu Nacional já recebeu uma oferta milionária do Banco Mundial para reforma e modernização de sua estrutura. Essa história só veio à tona porque o dono dela diz estar revoltado com o descaso que culminou na destruição de 90% do acervo da instituição no incêndio de 2 de setembro de 2018, que está sob apuração da Polícia Federal.
Israel Klabin, 91, ex-presidente do grupo Klabin (papel e celulose), foi quem conseguiu o cheque de US$ 80 milhões do Banco Mundial para financiar a reforma do museu em meados dos anos 1990. Na cotação atual, o valor seria o equivalente a R$ 332 milhões.
Desde o incêndio que atingiu suas instalações em setembro do ano passado, o Museu Nacional, no Rio de Janeiro, recebeu cerca de R$ 1,1 milhão em doações. A título de comparação, foram prometidos mais de R$ 3 bilhões em dois dias para a reconstrução da Catedral Notre-Dame, na França, que pegou fogo na segunda-feira (15).
Klabin disse à reportagem do Journal Brazil que chegou a trabalhar no pré-projeto que seria apresentado à instituição financeira para o recurso ser liberado. No entanto, o dinheiro nunca saiu do papel por um veto da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), a responsável pela gestão da instituição museológica.
Segundo Klabin, o Banco Mundial impôs uma condição para autorizar o recurso: a UFRJ teria de entregar a administração do museu, que passaria a ser uma organização social.
Na prática, o museu se tornaria uma associação privada sem fins lucrativos que presta serviços de interesse público. “Os professores e membros influentes da UFRJ foram contra”, disse o empresário.
A UFRJ foi procurada pela Folha de S.Paulo, mas, até esta publicação, não havia se manifestado sobre as declarações de Israel Klabin.
O empresário tinha trânsito com o então presidente do Banco Mundial, James Wolfensohn, também seu amigo, e com o setor público – Klabin foi prefeito do Rio entre 1979 e 1980.
O empenho de Klabin em reformar o palácio tinha também um motivo mais de ordem afetiva. Foi na então Universidade do Brasil, hoje conhecida como UFRJ, que o executivo cursou engenharia civil e matemática.
Pelos entraves que barraram a reforma, e, agora, com o incêndio que destruiu o museu, o executivo disse ao Brazil Journal que está com raiva do Brasil.
“Sabe o que vai acontecer agora? Vai acontecer a mesma coisa com o Jardim Botânico, com a Biblioteca Nacional e várias outras instituições herdadas por um governo incapaz e ineficiente. Estamos vivendo em um estado cartorial. O Brasil inteiro nas mãos de governos ineficientes cuja gestão é sempre politizada.”
*Matéria publicada originalmente dia 04/09/2018. Com Folhapress.