A rotina dos estudantes, professores e trabalhadores do campus Centro Politécnico, da Universidade Federal do Paraná (UFPR), está mais colorida há cerca de um mês: no fim do julho, dois grande murais passaram a integrar a paisagem do campus, um em homenagem ao livro "Universidade do Mate", no bloco de Engenharia Elétrica, e outro em tributo a Enedina Alves Marques, no bloco de Ciências Exatas.
A iniciativa integrou a programação cultural da 75ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Progresso para a Ciência (SBPC), realizada entre 23 e 29 de julho na UFPR. A proposta, apresentada pela relações públicas da Pró-Reitoria de Extensão e Cultura Michele Dacas, era utilizar a arte para destacar pontos da história da instituição, que converge com a história do Paraná, do Brasil e da ciência brasileira.
“Para o primeiro painel, pensamos numa temática fundacional e decidimos retratar o livro ‘Universidade do Mate’, escrito pelo historiador Ruy Wachowicz e que está completando 40 anos de sua primeira edição. Ele é bem emblemático porque traz essa perspectiva socioeconômica do marco fundacional da UFPR, sistematiza os pilares que levaram à fundação”, explica Michele.
Assinado pelo muralista Gardpam, que também é responsável por outras obras na cidade, como o painel que retrata Paulo Leminski, finalizado no primeiro semestre deste ano na região da Estação Tubo Central, o mural tem 9,5 metros de altura por 11,5 de largura. Em preto, branco e tons de cinza, a arte mostra o antigo Prédio Histórico da universidade, araucárias como as que existem na região da Praça Santos Andrade e folhas de mate.

O segundo, com 8,2 metros de altura por 9 de largura, homenageia Enedina Alves Marques, primeira engenheira negra do Brasil. “É uma figura importante para a UFPR, para o estado do Paraná e para o Brasil. Uma mulher negra que se formou em Engenharia e é responsável por obras de grandes estruturas da engenharia. É importante trazer a referência dela para futuras gerações”, avalia Michele.
A obra foi produzida pelo artista Paulo Auma, com o auxílio de três assistentes: Tônico, Juninho e Claudemir Franco. Em primeiro plano, ela mostra o rosto de Enedina e, ao fundo, traz algumas das obras com que ela trabalhou, como o Colégio Estadual do Paraná, a Casa do Estudante e a Usina Hidrelétrica Capivari-Cachoeira (hoje Usina Pedro Parigot de Souza).
Embora os temas tenham sido pré-estabelecidos, os artistas foram escolhidos por meio de edital aberto à toda a comunidade.
Difusão de história e arte
Outro objetivo da iniciativa foi levar arte a um espaço inusual da universidade, daí a escolha do Centro Politécnico como pano de fundo para as obras. “A arte é direito de todos e o projeto representa a cultura sendo desenhada de forma mais transversal na universidade, sem estar nos espaços onde tradicionalmente está, como os centros de artes e de ciências humanas”, explica.
A ideia foi, conforme Michele, muito bem recebida. “Tivemos uma recepção muito positiva, com diferentes camadas da comunidade universitária interagindo com os murais. Esse é o papel da arte pública”, conta.
Entre as reações, houve o interesse de professores e alunos de produzir novos murais em outros blocos. A continuidade, porém, ainda não é certa, pois é preciso avaliar a disponibilidade de recursos tanto financeiros quanto humanos para produzir novos murais fora do âmbito da reunião da SBPC.