Arquitetura
Trincas, fissuras e rachaduras: saiba como identificar e resolver o problema

Foto: Gilberto Abelha/Arquivo/Gazeta do Povo | Gilberto Abelha - Jornal de Londrina
Depois do terremoto que atingiu a região de Curitiba na madrugada desta segunda-feira (18), alguns imóveis acordaram com fissuras, rachaduras e trincas. Se não tratadas, tais “patologias” podem comprometer a estrutura da construção e a segurança de seus habitantes. Em casos mais graves, por exemplo, podem ocorrer até desabamentos de parte do imóvel.
Os motivos que fazem com que os “tracejados” apareçam nas paredes, vigas e lajes são diversos, indo de infiltração a tremores de terra, como explica Marcelo Solera, coordenador técnico da Comissão de Segurança de Edificações e Imóveis da Prefeitura de Curitiba (Cosed).

“O trânsito de veículos, a execução de uma obra vizinha onde seja feita a escavação ou compactação do terreno ou qualquer outra trepidação no solo pode causar modificações na edificação e [favorecer] o surgimento das fissuras”, acrescenta.
Qual é qual?
Apesar da nomenclatura distinta, em linhas gerais as fissuras, trincas e rachaduras são a mesma coisa: aberturas alongadas que se estendem pelas paredes ou partes estruturais da construção, como vigas, pilares e lajes. O que as difere é o tamanho e o “tempo de vida” desta abertura.
Assim, a fissura é primeiro estágio da patologia e corresponde a aberturas finas (de até 1 mm) e alongadas, geralmente superficiais. A trinca, que vem na sequência, ocorre quando esta abertura aumenta (entre 1 e 3 mm) a ponto de dividir a estrutura, como as paredes, em duas partes distintas. Já as rachaduras são caracterizadas por aberturas (acima de 3 mm) através das quais podem passar o vento e a água das chuvas, por exemplo.

Para verificar se há ou não evolução da abertura, a dica do coordenador técnico da Cosed é marcar com um lápis suas extremidades e medir sua largura com uma régua, anotando a data da medição. A cada dez dias, em média, a pessoa pode fazer o acompanhamento desta medida, para observar se ela cresceu em extensão e/ou em largura.
Riscos
Se não tratadas, as trincas, fissuras e rachaduras podem comprometer a estrutura do imóvel, com riscos até de desabamentos parciais ou colapso da construção, em casos mais graves. E não é apenas o tamanho da abertura a responsável por identificar a gravidade da patologia, como lembra Vera Lúcia de Campos Correa Shebalj, perita e vice-presidente do Instituto Brasileiro de Avaliações e Perícias de Engenharia do Paraná (Ibape-PR). “Às vezes uma abertura pequenininha é mais perigosa do que uma brecha”, completa.

A direção da abertura é outro ponto que deve ser avaliado. Trincas, fissuras e rachaduras horizontais ou verticais não costumam estar relacionadas a problemas estruturais do imóvel e geralmente têm como agentes causadores a dilatação térmica, infiltração ou sobrecargas existentes na estrutura do imóvel, como explica Solera.
“As aberturas com ângulo de 45° são as mais preocupantes, pois podem ser decorrentes de recalque [afundamento parcial] da fundação. Elas podem aparecer nas paredes, vigas, lajes ou pilares e, quando forem grandes, significar que o recalque já afetou a estrutura do imóvel”, alerta o coordenador.
Como solucionar?
O primeiro passo para eliminar uma fissura, trinca ou rachadura com segurança é identificar o que está causando a abertura. Para isso, o proprietário ou o morador deve contratar um engenheiro habilitado junto ao Conselho Regional de Engenharia e Agronomia, capaz de avaliar se se trata ou não de um problema estrutural e o que será necessário executar para frear e corrigir a patologia.
“Quando o corpo dá algum sinal devemos procurar um médico. Com o imóvel acontece o mesmo. A trinca e a fissura são os sinais que ele dá”, acrescenta Vera Lúcia.
A Cosed realiza vistoria em imóveis localizados em Curitiba que apresentem problemas graves relacionados a trincas, fissuras e rachaduras com o objetivo de verificar se elas representam risco eminente a seus ocupantes. A vistoria pode ser solicitada pelo telefone 156. “Nós verificamos se há risco estrutural eminente e, em caso positivo, notificamos o responsável pelo problema”, explica Solera.