Arquitetura
Casas de madeira com casca de alvenaria na Curitiba do século 19
Contraste de cor, materiais e estilos na casa que fica na Rua Fernando Amaro. Fernando Zequinão / Gazeta do Povo | Gazeta do Povo
Coração de madeira e casca de alvenaria. A fórmula parece estranha, mas os exemplares desse tipo de construção estão por aí, espalhados pelos bairros mais tradicionais de Curitiba, como Ahú, Alto da XV, Mercês, Bom Retiro e Pilarzinho. Mergulhando um pouco na história da imigração na cidade, vê-se que a popularização das casas de madeira deveu-se, no fim do século 19, principalmente à abundância da matéria-prima e à oportunidade de construir moradias de forma barata e em grande escala.
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“Com o fluxo imigratório, a grande oferta de mão-de-obra e o início das serrarias a vapor, houve um impulso na construção civil”, esclarece o arquiteto Fábio Domingos Batista, autor de um dos volumes do livro “Casa de Araucária: Arquitetura da Madeira em Curitiba”. Segundo ele, o uso da madeira na arquitetura existe desde a colonização do Brasil, mas, o que diferencia as casas de madeira de Curitiba, é a técnica construtiva. “Aqui foi utilizado o sistema de tábua e mata-junta, que nada mais é do que o uso de tábuas verticais com o acabamento com uma madeirinha mais fina”, explica.
Fachada de alvenaria
O uso das casas de madeira com fachada de alvenaria tem relação com o contexto legislativo e social da época. “As casas de madeira, por serem mais baratas e produzidas em larga escala, ficaram associadas a moradias para pessoas mais humildes e, por isso, sofriam um certo preconceito”, explica o arquiteto Key Imaguire Jr., também autor de “Casa de Araucária”.
De acordo com o livro “Espirais de Madeira – uma história da arquitetura de Curitiba”, do arquiteto e professor Irã Taborda Dudeque, o Código de Posturas de 1919 trazia algumas restrições em relação à construção civil em Curitiba. A cidade foi dividida em três zonas, com regras distintas de edificação.
Na região chamada de 1ª zona, só eram permitidas casas de alvenaria, no alinhamento da rua e com alturas idênticas. Porém, nesta área, “muitas residências de madeira foram toleradas atrás de fachadas de alvenaria”, segundo citação do livro. Na 2ª zona, eram permitidas casas de madeira, com a condição de serem pintadas a óleo, terem apenas um pavimento e recuo frontal de pelo menos 10 metros. Na 3ª região, as construções de madeira deveriam seguir as mesmas regras, mas como estavam mais distantes do centro, poderiam ser pintadas de cal.
“Havia má vontade em relação às casas de madeira. A legislação era coercitiva. Aparentemente não era interessante ter esse tipo de construção no visual da cidade”, sentencia Imaguire. Assim, a ideia de usar as frentes de alvenaria pareceu uma boa solução para “maquiar” a fachada que ficava para a rua.