Prêmio Archa iSalone by Sketchup
Tendência na arquitetura, casa cápsula garante agilidade de implantação, flexibilidade e versatilidade aos ambientes; inspire-se com 9 projetos
Depois das tiny houses, as casas cápsula despontam entre as tendências da arquitetura. Modulares, elas são bastante personalizáveis e tem na agilidade de implantação, dentro do conceito plug and live, seu principal atributo. Isso porque todo o processo de "construção" é realizado na fábrica e a casa é transportada pronta para ser "plugada" ao endereço escolhido - na cidade, praia ou campo -, reduzindo a dor de cabeça e potencializando as possibilidades de uma segunda moradia, imóvel de férias ou destinado à locação via plataformas de hospedagem, por exemplo.
O potencial arquitetônico delas, que em nada perde em conforto, sofisticação, funcionalidade e apelo estético, quando comparado aos convencionais, foi amplamente explorado no Prêmio Archa iSalone by Sketchup, concurso criativo promovido pela Archa - maior plataforma brasileira de contratação de projetos de arquitetura - com o objetivo de destacar o talento, as soluções e o estilo de trabalho dos profissionais de arquitetura e design de interiores de todo o Brasil.
Nele, todos os 40 escritórios classificados desenvolveram o projeto de interiores de uma casa cápsula, a Capsu, direcionada para uso da família Matayoshi, composta pelo casal de empresários Felipe e Juliana, sócios-fundadores da Pace (marca de streetwear), sua filha e seus dois cachorros.
O projeto precisava contemplar, obrigatoriamente, áreas social (cozinha, sala de estar e jantar) e íntima (suíte master, banheiro e espaço extra). O resultado foi uma diversidade de propostas e conceitos com um elemento comum: a versatilidade das casas cápsula, em suas inúmeras posssibilidades de implantação e de interiores para abrigar as mais distintas necessidades de uso e localização. Confira algumas delas a partir das propostas dos nove escritórios finalistas do Prêmio Archa iSalone by Sketchup, que teve seu vencedor divulgado no último dia 1º de abril!
"Casa do Lago"
Proporcionar à família um local para a criação de laços e memórias. A partir deste objetivo, Beatriz Caron e Kenji Okabaiasse apostaram em um projeto no qual os ambientes naturais e arquitetônicos são apresentados com fluxos e conexões que diluem a percepção de dentro e fora.
A implantação foi proposta para as margens da Represa de Jaguari, na cidade de Santa Izabel, a 64 quilômetros de São Paulo, trazendo os dois módulos, íntimo e social, dispostos paralelamente. A união deles se dá por um pátio coberto, cujo acesso de entrada ocorre pela garagem.
Na área social, a cozinha em ilha é o destaque ao favorecer a interação entre os membros da família e a contemplação da paisagem do entorno. Os tons amadeirados "conversam" com os neutros e garantem sensação de conforto que se estende dela ao estar.
Eles aparecem também no módulo íntimo, com proposta minimalista. Nele, o quarto da pequena Momô traz uma "casa dentro da casa", com cama e outros móveis alinhados ao conceito montessori, que permite sua autonomia e conforto durante o uso e estada no ambiente.
"Capsu - A Origem"
O projeto assinado pelo escritório Arqton, formado pelos profissionais Ewerton Silva e Paloma de Lima Vieira, é um convite à contramão da vida acelerada. Baseado no conceito do minimalismo, os espaços foram projetados para que a família possa reduzir o ritmo, respirar e se conectar com o que realmente importa.
A Praça dos Elementos é peça central. Localizada entre os módulos íntimo e social, ela dá as boas-vindas e apresenta a representação dos quatro elementos (fogo, terra, ar e água), além de referências à cultura japonesa, como o ritual Tōrō nagashi (soltura de luminárias de papel na água em honra aos antepassados), presente na caixa de areia em raia sobre a qual são dispostos barquinhos de metal cuja luz remete ao fogo.
Tais referências orientais aparecem, também, no módulo social, com destaque ao revestimento ebanizado do bloco do lavado, que remete à técnica de queima da madeira wabi-sabi. Na outra ponta, o tom escuro aparece no fechamento da estante em juta preta, tecido trazido ao Brasil pelo japoneses. Ao centro, destaca-se o revestimento em pedra bruta de travertino silver escovado da ilha e do frontão da cozinha.
No módulo íntimo, uma antessala recebe o casal em seu dormitório, apresentando o closet e bancada para a vitrola e a coleção de discos de Felipe. A transição do piso em tom escuro para o claro leva à área íntima do quarto, que tem na cama baixa seu ponto focal. Já o domirtório da pequena Momô traz uma espécie de mesanino que incentiva o desenvolvimento cognitivo e amplia a área útil do cômodo, permitindo que ela possa brincar com os amigos no ambiente.
A implantação da "Capsu - A Origem" foi projetada para o Sítio Ilhabela, com vegetação tropical e exuberante, um local para se desfrutar do descanso junto à natureza.
Skyline
Um refúgio urbano. Assim pode ser descrito o projeto do Diniz Ayub Arquitetura, assinado por Marcela Turazzi Diniz e Vitória Ayub da Silva. Isso porque ele propõe a implantação dos módulos Capsu no topo do Edifício Mirante do Vale, no bairro da República, em São Paulo (SP), a mais de 160 metros de altura.
Nele, o pátio central recebe um cubo de vidro que hora funciona como sala de música para Felipe praticar seu hobby (tocar bateria), noutras se transforma em sala de cinema ou quarto de hóspedes. Á frente dele, a cobertura em Madeira Laminada Colada (MLC) vazada permite a entrada de luz natural e "brinca" com o jogo de luz e sombra.
A sala de estar é integrada à cozinha e espaço de jantar pela manutenção da paleta de cores em tons neutros e pelas formas arredondadas dos mobiliários, favorecedo a fluidez de fluxos pelos ambientes.
O módulo íntimo abriga o escritório que, em substituição da estante, traz uma parede utilitária com bolsões em couro inspirados nas peças da Pace alternados com quadros de anotações. O ambiente separa os quartos do casal e da pequena Momô, que trazem continuidade projetual nas formas arredondadas da marcenaria e das camas e também na paleta de tons.
Coração da casa
A cozinha como ambiente de convívio familiar, tradicionalmente tida como o coração da casa, é o ambiente-chave do módulo social do projeto assinado por Carolina Dallagrana, Anna Izabela Cruz e Eliane Patrícia Silvi. Assim, ela se abre para o pátio central externo e traz mesa acoplada à ilha, favorecendo a convivência e aconchego.
O espaço é integrado à sala de estar, pensada como um ambiente multifuncional, abrigando dos momentos musicais e sessões de filme às brincadeira de Momô, além de objetos de decoração afetiva, como a máquina de costura da mãe de Felipe.
Já no módulo íntimo, a funcionalidade e o relaxamento são os carros-chefe. O dormitório do casal possui três áreas distintas. O primeiro abriga a cama - separado do closet por um painel em MDF que remete ao muxarabi - voltada ao nicho em porcelanato esculpido que serve como área de trabalho ao mesmo tempo em que emoldura a vista a partir da janela. O banheiro apresenta uma atmosfera de spa com revestimentos que emulam pedra e seixos no piso do box.
O quarto de Momô segue o estilo montessoriano, com móveis baixos que favorecem sua autonomia e desenvolvimento e decoração temática inspirada no anime "Meu amigo Totoro". A automação é outro destaque da casa, presente da iluminação à permeabilidade ou ofuscamento visual dos vidros das cápsulas.
Interação com a paisagem
Expandir a interação da família com a paisagem circundante é a proposta apresentada pelos profisisonais Flávio Castro e Marina Martins, do FC Studio. Assim, além do pátio central - tido como ponto de encontro e onde foi instalado um grande banco em concreto que serve de assento e apoio -, é possível desfrutar do jardim das escultura (localizado ao lado do módulo social e composto por árvores frutíferas e obras de arte) e do jardim das hortaliças, na extremidade oposta que, como o nome sugere, é destinado ao cultivo de alimentos na horta.
Esprigaçadeiras e poltronas estão dispostas em diversas áreas do ambiente externo, incluindo um ao redor da fogueira, em nível mais baixo ao da implantação da casa e com acesso por uma escala helicoidal com apelo escultural. A piscina completa as áreas destinadas ao relaxamento e desfrute da área externa da Capsu.
O módulo social contempla sala de estar e cozinha integrados, além do lavabo. Nele, o constraste entre tons claros e escuros das paredes, piso, forro e móveis é destaque, assim como a curadoria de mobiliário assinado e de obras de arte, que traz nomes reverenciados nacional e internacionalmente.
No íntimo, destaca-se o "espaço de possibilidades", que contempla o quarto de Momô, de hóspedes e também o estúdio de música, onde Felipe pode praticar seu hobby: tocar bateria. A marcenaria, única, reúne as funções de apoio para o cuidado com a pequena (trocador e gavetas) e também a casinha dos pets. Na parede, uma instalação traz linhas e carretéis, uma referência à matéria-prima da Pace e à mãe de Felipe, que foi costureira.
Permeabilidade visual com privacidade
A privacidade é a protagonista do projeto assinado pelo GD. Arq Studio, das profissionais Gabriela Dutra e Thays Fernandes, representada na instalação da estrutura em madeira que "esconde" o módulo íntimo no pátio central e dos brises que avançam a partir dos dormitórios, que resultam em efeitos de luz e sombra que trazem ritmo aos espaços.
No pátio externo, uma grande área gourmet convida à convivência em família e com convidados, sendo composta por mesa de jantar e área de estar externa, rebaixada em caixa de areia. À frente dele, o deck em linhas curvas permite a contemplação do rio e o desfrute de momentos de relaxamento junto às espreguiçadeiras.
No quarto do casal, o tatame abriga a cama e convida à união da família de maneira mais íntima. Os tons neutros prevalecem, assim como a permeabilidade visual que atravessa o closet translúcido. O padrão de cama baixa se repete no quarto da pequena Momô, que ganha uma escada que dá acesso a um espaço de brincar acima dela. Os brises e cobertura externa vazada também estão presentes, criando uma área de terraço para uso da pequena.
O contraste criado pelo tom escuro da lâmina em madeira natural, que se estende do estar à cozinha do módulo social e dá vida à estante, e a madeira padrão Capsu do forro atraem o olhar para o módulo social, com ambientes integrados e aposta nas formas orgânicas do mobiliário, em analogia à culturas japonesa e brasileira.
"Muribushi"
O título do livro que retrata a vinda dos imigrantes de Okinawa para o Brasil batiza o projeto assinado pela Icó Arquitetura, composta por Fernanda Fornazier e Gabriela Mordoh. Implantada em região serrana, a proposta aposta nas linhas retas e móveis fixos para a área social, em referência à arquitetura japonesa. O Brasil, por sua vez, é representado nas peças de mobiliário solto, assinadas por designers locais. O destaque do módulo social, no entanto, está na cozinha, delimitada pelos tons escuros e iluminação indireta comuns nos Izakayas, os bares japoneses.
O pátio central reforça a proposta de conexão dos espaços pela cobertura translúcida em estrutura metálica e o banco em concreto armado que convida à reunião, às brincadeiras ao ar livre e ao relaxamento no ofurô encaixado no deck.
O estímulo à união entre os membros da família é reforçado pelo ambiente multifuncional do módulo íntimo integrado ao quarto de Momô. Nele, Felipe e Juliana podem ouvir música e realizar atividades de desenho e trabalho, por exemplo. E quando a pequena se cansa, basta fechar as portas corrediças para que ela possa desfrutar de um sono tranquilo.
A identidade do casal é visivelmente presente no dormitório, que traz como destaque uma obra feita por Felipe como pintura na parede. A cama, baixa em estilo "futton", é encaixada em um tablado de madeira, que confere calor e aconhego ao espaço.
Primeiro movimento
A Janeiro Arquitetura buscou na água as referências japonesas para basear o conceito do seu projeto, assinado pelas profissionais Fernanda Zeitoune, Eduarda Bond, Eduarda Brescia e Lyiza Meyrelles. Elemento-chave do pátio central, e simoblizando o primeiro movimento, essencial à vida, a água aparece na piscina ora rasa, como um espelho d'água, ora funda, sendo o conector entre os módulos íntimo e social.
A implantação da Capsu foi proposta para cidade de São Francisco Xavier. Assim, o layout do projeto se abre para o exterior e tem no pergolado, sob o qual foi colocada uma mesa de refeições, um ponto para momentos de reunião em família. Espreguiçadeiras e fogo de chão permitem a contemplação das montanhas.
Tal integração aparece também nos espaços internos e, na área social, é reforçada pela estante contínua em serralheria que une o living à cozinha. A TV, instalada em viga, percorre toda a extensão do módulo e é outro ponto de conexão entre os ambientes.
Na área íntima, os limites entre fora e dentro e a delimitação dos espaços se diluem. O quarto do casal é aberto, tendo a arara suspensa com comoda como elemento que distingue a àrea de dormir e a de estar ou trabalhar do domirtório. Momô é instigada à criatividade em seu ambiente privativo, com paredes interativas que trazem revisteiro e papel para desenhos. Em comum, os espaços apresentam portas em muxarabi em madeira natural, que favorecem a entrada da luz natural ao longo do dia e fazem referência à cultura japonesa.
"Casa Latitude 27"
O nome do projeto não foi dado ao acaso. Refere-se a coincidência entre a Ilha de Okynawa e a proposta de implantação do projeto da Monu Arquitetura - dos profissionais Larisa Kock, Guilherme Lessa, Juliana Oliveira, Karla Olinto, Julia Becker - a cidade de Florianópolis, ambas localizadas na latitude 27 em relação à linha do Equador.
A entrada da casa é marcada pelo espelho d'água localizado no pátio central, que traz ainda um grande espelho convexo que, segundo a cultura oriental, amplia e espalha boas energias. Dele, as pedras que ritmam o fluxo d'água aparecem também nos pés da mesa da sala de jantar, com tampo em folha de mármore brasileiro. Ao lado dela, a cozinha traz módulos com bandeirolas e armários gradeados que remetem aos bares japoneses. A mescla de materiais é outro destaque, com a presença de elementos em inox, madeira e vidro fumê, que misturam estilos moderno e antigo.
Outro elemento que chama atenção é o painel curvo da sala de jantar, que abriga a lareira e setoriza o ambiente sem reduzir a integração dele com a cozinha e a área de jantar.
Os espaços íntimos são marcados pela atmosfera mininalista. No quarto do casal, a pedra aparece novamente, agora na forma de pufes sobre a qual está instalada a cama. O dormitório da pequena Momô é o elemento central do módulo íntimo, sendo separado do dos pais pela divisória em vidro e cortinas em fio ou blackout, para os momentos de mais privacidade. Por fim, a casa contempla um museu-ateliê revestido por espelhos retorcidos, no qual peças da Pace são abrigadas em forma de exposição.