Arquitetura
Templo da Igreja Universal em Curitiba divide opiniões por estilo “clássico atrapalhado”
Novo templo da Igreja Universal do Reino de Deus em Curitiba divide opiniões. Fotos: Hugo Harada/Gazeta do Povo | Gazeta do Povo
A região do Rebouças-Água Verde tem uma nova (e maior) polêmica obra de engenharia. A Arena da Baixada, ainda envolvida em enrosco com o uso de dinheiro público, perdeu o reinado. As atenções se voltam agora para o templo da Igreja Universal do Reino de Deus (Iurd), que se levanta como um gigante sobre a quadra inteira da antiga fábrica da Matte Leão, no perímetro da Avenida Presidente Getúlio Vargas, da Rua João Negrão, da Rua Engenheiro Rebouças e da Rua Piquiri.
Tudo sobre a obra é superlativo. Nem parece desse mundo. A compra do imóvel histórico que ficava no terreno de 16 mil m² saiu por R$ 32 milhões. A obra, que está sendo conduzida pela empreiteira portuguesa Teixeira Duarte, custou mais R$ 414 milhões (128 milhões de euros), como mostra um comunicado da empresa. O estádio padrão Fifa do Atlético, apenas para ilustrar, saiu algo em torno de R$ 60 milhões a menos.
O espaço vai comportar cerca de 5 mil pessoas, o equivalente a duas vezes a capacidade do Teatro Guaíra, que é de 2.167 lugares. A previsão é de que a nova catedral da Universal fique pronta até o final de outubro, como informa o site da instituição.
Quem dobra o pescoço para observar a construção, percebe de imediato um quebra-cabeça de referências clássicas: colunas jônicas, janelas em arcos plenos (arredondadas), cúpulas douradas e um frontão (frente triangular do topo do prédio). “É um clássico atrapalhado“, sentencia o historiador e arquiteto Irã Taborda Dudeque, que leciona na Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR). “O projeto simplesmente junta elementos clássicos, como um Frankenstein, mas não respeita as proporções e teorias clássicas.”
Dudeque dá como exemplo as cúpulas. “Na tradição clássica, a cúpula sinaliza que guarda algo importante, como na Basílica de São Pedro, que indica que ali está enterrado o primeiro Papa da história. Mas aqui não tem nada. É só uma coisa dourada”, frisa.
Oportunidade para região
Na opinião do arquiteto Luis Salvador Gnoato, que ensina no curso de Arquitetura e Urbanismo da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), a roupagem clássica do templo encontra justificativa. “As pessoas estão acostumadas a ver templos ou igrejas em imóveis antigos. Há uma necessidade do público de ver identidade histórica na arquitetura religiosa”, explica. “Neste caso, como o prédio é novo, o arquiteto recorreu a algumas referências clássicas para dar esse efeito.”
E Gnoato lembra de um fato interessante: a região do Rebouças precisa ser revitalizada. “Tem pouca vida, pouco apartamento. E a inserção do templo naquele quarteirão pode ajudar a transformar a área”, destaca. “Mas o dado negativo é que ele é grande demais em relação ao resto da paisagem”, critica. “Precisava de um espaço externo ainda maior, ou as milhares de pessoas vão ficar apinhadas ali fora.”
A reportagem contatou a assessoria de imprensa da Iurd por inúmeras vezes desde o dia 19 de julho, mas não obteve resposta até as 18 horas desta quinta-feira (10 de agosto), quase um mês depois.