Arquitetura
Região do Alto da XV concentra casas ícones do modernismo curitibano; entenda por quê
Casa João Luiz Bettega, de Vilanova Artigas, é um dos exemplares de casas modernistas no Alto da XV. Foto: Fernando Zequinão / Gazeta do Povo | Gazeta do Povo
Quem circula pela região do Alto da XV e tem o olhar apurado para os detalhes do trajeto identifica no concreto e nas formas puras das construções elementos comuns à paisagem local. Mais do que uma mera coincidência, isso se deve ao fato de os bairros que compõem o perímetro guardarem alguns dos principais e mais emblemáticos exemplares da arquitetura moderna curitibana, assinados por nomes igualmente reconhecidos no âmbito local e nacional.
Só para se ter uma ideia, mais de um terço de todas as residências modernistas listadas como Unidades de Interesse de Preservação (UIPs) pela Prefeitura de Curitiba tem a região como endereço. Outra concentração dos exemplares modernos está na região do Batel, outro ‘reduto’ modernista da capital.
“Estas casas eram implantadas nos bairros que estavam sendo criados [por volta dos] anos 1960, quando a cidade vai deixando o modelo concêntrico e adotando o modelo linear [de planejamento urbano]. O processo de expansão da cidade coincide com a consolidação desta nova arquitetura”, explica a arquiteta Maria da Graça Rodrigues Santos, doutora em Estruturas Ambientais Urbanas pela Universidade de São Paulo (USP).
Símbolos de um tempo
‘Flutuando’ sobre um terreno localizado na esquina da Avenida Nossa Senhora da Luz com a Rua Professor Brandão, a casa Mário de Mari é um desses exemplares. Primeiro imóvel tombado dentro da nova fase do Conselho Municipal do Patrimônio Cultural de Curitiba (CMPC), no último mês de abril, a casa foi construída em meados da década de 1960 para servir de residência do engenheiro que a batiza e que assina seu projeto e execução.
Ao contrário de suas irmãs de estilo, ela traz a madeira, vidro e pedras, e não o concreto, como suas principais matérias-primas. A implantação em forma de “U” volta todos os cômodos da residência para um pátio central, garantindo privacidade à área de lazer, e aproveita o desnível do terreno, o que faz com que ela pareça estar ‘solta’ do chão. Atualmente, o imóvel é sede do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Paraná (CAU-PR).
Vizinhas com nome e sobrenome
A cerca de 2,5 km dele, trajeto que pode ser percorrido em aproximadamente meia hora a pé, outras duas casas que trazem o tom vermelho em suas fachadas guardam e preservam a história da arquitetura moderna da capital.
Assinada por ninguém menos do que Vilanova Artigas, a casa João Luiz Bettega foi projetada para o médico homônimo e amigo do arquiteto, expoente da Escola Paulista de Arquitetura. Com 496 m², a residência tem quatro quartos e salas de estar e jantar integradas, uma novidade nos anos 1950.
Grandes recortes em vidro, responsáveis por garantir iluminação natural e conforto térmico, rampas de acesso aos pavimentos superiores e o bloco elevado sobre os pilotis, que marcam a arquitetura moderna, em especial a assinada por Artigas, também estão presentes no projeto. De propriedade da arquiteta Giceli Portela, o imóvel foi restaurado para abrigar seu escritório.
A poucas quadras dali, na Rua Dr. Faivre, 621, é a residência b quem rouba a cena. Projetada pelo arquiteto curitibano Lolô Cornelsen para o casal Nine e Medoro Belotti, a casa foi construída em 1953 e tira partido da elevação do terreno como forma de destacar sua estrutura retangular.
No térreo, os pilotis recuados em relação aos limites da construção evidenciam ainda mais a fachada, ritmada pela repetição das 15 janelas contínuas, que parecem compor uma única estrutura. Hoje, no local, funciona o restaurante Marbô Bakery.
“O Lolô terminou o curso de Arquitetura no Rio de Janeiro, e esse exemplar é inspiradíssimo no modernismo carioca. A casa do Artigas é mais corbusiana, mais [ligada] ao modernismo paulista. Já a Mário de Mari traz uma arquitetura inspirada na feita por Frank Lloyd Wright, mais voltada para as questões naturalistas, como o uso da madeira e do tijolo”, resume Salvador Gnoato, professor do curso de Arquitetura e Urbanismo da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR).