Arquitetura
Projetos brasileiros marcam presença na Bienal de Arquitetura de Veneza
Complexo Jardim Edite e Casa da Vila Matilde. Os dois projetos foram selecionados para a Bienal de Veneza. Fotos: Nelson Kon e Pedro Kok/ Divulgação
Você sabe o que uma escola no Vidigal (Rio de Janeiro), a reforma de um conjunto habitacional em São Paulo e outra escola no Recife têm em comum? Eles fazem parte do grupo de 15 projetos que representa o Brasil durante a 15ª Bienal Internacional de Arquitetura de Veneza – Reporting from the front, que está sendo realizada até novembro, na Itália. Todos fazem parte da mostra “Juntos” e os trabalhos foram selecionados pelo curador escolhido pela Fundação Bienal de São Paulo, Washington Fajardo.
O diretor da 15ª edição do evento, o arquiteto chileno Alejandro Aravena, prevê trabalhos que contribuam para o bem comum e melhoria de vida das pessoas. Ideias que promovam o encontro do ativista com o arquiteto e com a arquitetura. Confira os projetos brasileiros.
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Vila Flores, Goma Oficina, Porto Alegre / Associação Cultural Vila Flores
O projeto está sendo realizado há cerca de 6 anos, quando o conjunto arquitetônico localizado na várzea do Rio Guaíba foi aberto para a comunidade com a intenção de tornar-se um centro de cultura, educação e economia criativa. A Associação Cultural Vila Flores (ACVF) foi criada em 2014 e desde então acolhe iniciativas de pequenos empreendedores e artistas que promovem o diálogo entre as diferentes áreas do conhecimento.
Criado pelo instituto CASA para a Fundação Vale em 2014, o selo tem como objetivo premiar a qualidade nos projetos de moradia social ligado ao programa Minha Casa Minha Vida. Semelhante aos selos verdes, a chancela foca em questões próprias à qualidade da arquitetura, do urbanismo e da inserção social destes projetos. Uma moradia pode ganhar bônus se cumprir todos os critérios.
Localizado na favela do Vidigal no Rio de Janeiro, o Sitiê é um Parque Urbano com mais de 8 mil metros quadrados e um instituto para o Meio Ambiente, Artes e Tecnologia. Por 20 anos, um total de 16 toneladas de lixo foram acumuladas no espaço, fato que começou a mudar quando a área foi limpa pelos moradores. Eles começaram um processo de reflorestamento, incluindo áreas para agricultura urbana, levando o Sitiê a ser reconhecido como a primeira agrofloresta do Rio de Janeiro em 2012. Em 2015 com o apoio da FGV Direito-Rio, o Sitiê alcançou o status de OSCIP, passo fundamental para se tornar uma organização da sociedade civil.
Com 2,15 km de extensão, o parque foi inaugurado em 2012. Tem quadras poliesportivas de futebol, basquete e tênis de mesa, ciclovia, praia artificial, academia carioca e a melhor pista de skate do país. Conta também com uma arena carioca batizada de Fernando Torres, ampliando ainda mais o espaço para apresentações culturais, ao lado da Praça do Samba.
Casa do Jongo, Pedro Évora e Pedro Rivera (Rua Arquitetos), Rio de Janeiro / Dyonne Boy e Tia Maria (Ong Jongo da Serrinha)
Tombado pelo IPHAN como o primeiro bem imaterial do Estado do Rio, o jongo (uma dança) ganhou uma casa. A ONG Jongo da Serrinha está à frente do projeto da casa do Jongo, com a transformação dos escritórios e galpão de uma antiga gráfica em um centro cultural e educacional. O espaço tem salão para danças, auditório, estúdios, salas para cursos profissionalizantes, espaço para exposições permanentes, lojas, refeitório e salas administrativas. A Casa conta ainda com cineclube, galerias, escola de artes e horta comunitária, além de um ambiente para rezas e terreiro para jongo e capoeira.
O Circuito é dedicado à valorização da cultura e memória do patrimônio afro-brasileiro. Distribuído em seis endereços no Porto Maravilha, ele aborda dimensões distintas da vida dos escravos africanos. Destaque para o Cais do Valongo e da Imperatriz, local que foi porta de entrada de mais de 500 mil africanos e declarado Sítio Arqueológico pelo IPHAN.
Circo Crescer e Viver, Rodrigo Azevedo (AAA Azevedo Agência de Arquitetura) e Maxime Baron, Rio de Janeiro / Junior Perim e Vinicius Daumas
O circo social desenvolve ações nos campos da formação, produção e difusão das artes circenses. O projeto selecionado diz respeito à nova lona projetada pelo arquiteto carioca Rodrigo Azevedo para o espaço. A nova lona terá melhor estrutura, será mais sustentável e com maior aproveitamento. O projeto ainda está no papel e aguarda financiamento.
A escola de artes e tecnologia para crianças carentes é iniciativa do artista plástico Vik Muniz. O foco é a educação de crianças entre 5 e 8 anos. O método a ser usado foi desenvolvido pelo MIT (Massachusetts Institute of Technology), que coloca a criança no papel de produtora de arte. Outra característica da escola será o intercâmbio de culturas, conseguido pela visita de professores de universidades internacionais.
Escola Novo Mangue, Bruno Lima, Francisco Rocha, Lula Marcondes, (O Norte – Oficina de Criação), Recife / Comunidade do Coque
Escola pública de educação ambiental organizada pelo Centro de Cidadania Umbu-Ganzá, UNICEF, Prefeitura da Cidade do Recife e Rede de TV de Luxemburgo. Com elaborado desenho arquitetônico, a escola foi construída na comunidade do Coque, no Recife. Hoje estudam 385 crianças até o 5° ano, além de turmas de Educação de Jovens, Adultos e Idosos (EJA).
Casa da Vila Matilde, Danilo Terra, Pedro Tuma, Fernanda Sakano (Terra e Tuma Arquitetos Associados), São Paulo / Dona Dalva Borges Ramos
Casa da Vila Matilde, Danilo Terra, Pedro Tuma, Fernanda Sakano (Terra e Tuma Arquitetos Associados), São Paulo / Dona Dalva Borges Ramos
Em 2011, o filho de Dona Dalva sondou junto ao escritório de arquitetura a possibilidade de projetar uma casa para sua mãe na Vila Matilde. O projeto teria de se adequar aos restritos recursos financeiros da família. Mas, deu certo. A casa térrea tem sala, lavabo, cozinha, área de serviço e suíte no térreo. No pavimento superior uma suíte foi projetada para receber visitas, totalizando uma área de 95 metros quadrados. A área sobre a laje foi apropriada como horta.
Placas de Rua da Maré, Laura Taves, Azulejaria, Rio de Janeiro / ONG Redes de Desenvolvimento da Maré (parceria)
Placas de Rua da Maré, Laura Taves, Azulejaria, Rio de Janeiro / ONG Redes de Desenvolvimento da Maré (parceria)
O projeto Maré de Ruas e Histórias faz parte da oficina de Arte sobre Azulejos, uma iniciativa da Redes de Desenvolvimento da Maré. Foram feitas placas com os nomes das ruas, inicialmente da Nova Holanda, onde a experiência começou. A ideia é o resgate da história das ruas pelos moradores como forma de se criar uma identidade. A Maré é hoje o 9º bairro mais populoso do Rio, com 16 comunidades e mais de 130 mil habitantes.
Ciclo Rotas do Centro, Clarisse Linke (Instituto de Políticas de Transporte e Desenvolvimento – ITDP Brasil), Zé Lobo (Transporte Ativo), Pedro Rivera (Studio-X), Rio de Janeiro / Usuário de bicicleta
O ciclo teve início em 2012 quando arquitetos, urbanistas e interessados juntaram o que já existia de planos para o centro do Rio de Janeiro e criaram novas propostas que buscavam saber por onde as pessoas estavam pedalando e aonde elas gostariam de ir de bicicleta. As rotas foram mapeadas e foi criado um planejamento cicloviário para toda a região do Centro (bairros do Centro, Lapa, Saúde e Gamboa).
O Vivenda faz reformas em moradias no Jardim Ibirapuera, Zona Sul de São Paulo, oferecendo kits de materiais de construção que podem conter pisos, azulejos, janelas, tintas. Os kits instalados podem ser parcelados em 12 vezes. O valor ainda inclui assessoria técnica na elaboração do projeto. O compromisso é que o cliente possa, em até 15 dias, ter o projeto elaborado e a reforma pronta. Já foram feitas mais de 210 reformas, com mais de 800 pessoas atendidas.
Complexo Jardim Edite, Fernando de Mello Franco, Marta Moreira e Milton Braga (MMBB); Eduardo Ferroni e Pablo Hereñú (H+F), São Paulo / Miguel Bucalem, Elton Zacarias, Ricardo Pereira Leite, Elisabeth França, Luiz Fernando Fachini (Administração pública)
O conjunto habitacional foi projetado para ocupar o lugar da favela de mesmo nome, que fica junto à ponte estaiada. Para garantir a integração do conjunto ao entorno, foi articulada a verticalização do programa de moradia, que inclui restaurante escola, unidade básica de saúde e creche. Um térreo elevado do condomínio residencial interliga todos os edifícios habitacionais em cada quadra. São 252 unidades habitacionais de 50 metros quadrados.
Piseagrama, Fernanda Regaldo, Renata Marquez, Roberto Andrés e Wellington Cançado (editores); Felipe Carnevalli e Vitor Lagoeiro (editores assistentes); Paula Lobato (estagiária), Belo Horizonte / Comunidade e Colaboradores
Piseagrama é uma revista sobre espaços públicos com periodicidade semestral e lançada nos meses de março e setembro. Ela promove relações entre as artes, a política e a vida cotidiana, com foco na noção de público. Além da publicação, a equipe realiza ações em torno de questões de interesse público como debates, micro-experimentos urbanísticos, oficinas, campanha com propostas para as cidades, loja itinerante e publicação de livros.