Oásis cultural
Arquitetura
Projeto cultural do ator Luís Melo, Campo das Artes traz arquitetura sustentável com espaços multiuso
A área total do espaço é de 164 mil metros quadrados, com cerca de 2 mil metros quadrados de área construída pública e mil metros quadrados de área de apoio.
Um lugar que acolhe arte, educação e cultura em meio a um cenário campestre. Este é o Campo das Artes, a materialização do sonho de vida do consagrado ator paranaense Luís Melo. O espaço cultural abriu as portas ao público oficialmente no último mês de março, com espetáculos que integraram a 30ª edição do Festival de Teatro de Curitiba. Essa história é muito mais antiga, entretanto: foi em 2008 que o projeto começou a sair do papel e ganhar vida no distrito de São Luiz do Purunã, no município de Balsa Nova, a 40 quilômetros de Curitiba.
Em busca do local que abrigaria o Campo das Artes, Melo foi de Almirante Tamandaré a Colombo, de Piraquara a Antonina. Havia uma condição fundamental para o ator, que era impactar o mínimo possível o ambiente em que a construção seria inserida. “Conheci esse espaço em São Luiz do Purunã a partir de um convite do Beto Bruel, que é um dos maiores iluminadores do mundo. Ele disse que tinha o lugar ideal para construir, que é o campo. Aqui, anteriormente, era um pasto, então não precisaríamos derrubar nenhuma árvore”, lembra Melo. “A ideia é utilizar uma parte dessa área para o projeto, e outra para preservação e recuperação da mata”, conta.
Revestidos com madeira reutilizada, os barracões que formam a principal estrutura do Campo das Artes parecem ter pousado na área privilegiada, que é cercada pela mata nativa dos Campos Gerais, integrando-se de forma leve e natural ao ambiente. “A ideia inicial é que o Campo parecesse com um barracão de madeira, porque a minha paisagem é essa: a casa de madeira, a neblina, a geada, a araucária. Sou curitibano, adoro esses espaços. Por isso o revestimento externo e interno é em madeira”, explica Melo.
O reaproveitamento de materiais, uso de retrofit e adoção de soluções sustentáveis é um dos principais pilares do projeto. “A ideia era trabalhar o máximo possível com coisas reutilizáveis. Toda a madeira que foi usada na caixaria para fazer concreto foi usada internamente, no revestimento”, exemplifica o arquiteto Renato Santoro, responsável pelo projeto de interiores do Campo das Artes. O projeto também conta com estrutura de captação de água da chuva e painéis solares. Além disso, contêineres instalados no terreno ganharam novas funções, como espaços de armazenamento e acervo.
Ideias múltiplas
O Campo das Artes sempre foi um projeto pensado com muitas cabeças, inclusive na parte arquitetônica. O projeto inicial foi delineado pelo arquiteto, cenógrafo e figurinista JC Serroni. “Fiz o galpão de uso múltiplo e os galpões laterais, utilizando o conceito de abrir a arquitetura para a paisagem. Pensando nisso, também fiz uma bancada de 60 metros que acompanha a curva desse lugar, com a paisagem deslumbrante de fundo. Ali as pessoas podem trabalhar e sentar para apreciar a vista”, diz Serroni.
Santoro define a arquitetura do espaço como elegante, limpa e discreta. “São as pessoas, espetáculos e exposições que devem aparecer ali”, afirma. Os espaços neutros também facilitam o uso multidisciplinar do local, que promove o desenvolvimento de projetos culturais, artísticos e educativos. Os ambientes foram pensados para a criação de intersecções entre as mais diversas linguagens artísticas e áreas do conhecimento, como arte, design e gastronomia.
Os ambientes com aspecto industrial, com a parte elétrica e hidráulica aparente, têm também uma razão prática. “Precisamos de uma arquitetura de fácil manutenção. Se tivermos algum problema conseguimos resolver sem quebrar a parede. Aqui também tem muita umidade, então teríamos mais problemas se fosse tudo embutido”, explica Melo. No Campo das Artes, o ator não tem medo de ousar. “Acredito que em um espaço de arte é importante fazer provocações, arriscar materiais, usar a obra como um campo de experimentação, um laboratório de ideias que possam ser desenvolvidas e testadas”.