Arquitetura
Primeiro prédio com área de lazer trouxe jeito escandinavo de morar para a Curitiba dos anos 1960
Construído no final da década de 1960, o Parque Residencial Pinheiros trouxe um novo conceito de moradia, com espaços de convivência compartilhados. Foto: Letícia Akemi/ Gazeta do Povo | Leticia Akemi
“Uma cidade está nascendo”. Foi com essas palavras que a edição de nº 201 da revista Panorama, publicada em 1969, definiu a construção do Parque Residencial Pinheiros, localizado na rua Manoel Eufrásio, no Juvevê.
A frase pode parecer um tanto exagerada para quem passa em frente ao condomínio hoje e constata que, mesmo composto por vários blocos e uma espaçosa área externa, ele está longe de ser o maior da cidade –ou mesmo do bairro. Porém, no fim dos anos 1960, quando Curitiba crescia, mas ainda desconhecia o conceito de condomínio com áreas de lazer, a intenção era que ele ocupasse toda a quadra na qual está localizado e abrigasse até 5 mil habitantes.
“Quando o projeto foi concebido, ele realmente era o maior conjunto habitacional do Paraná, porque abrangia toda a área do terreno. Mas, posteriormente, ela foi subdividida em lotes e o Parque Pinheiros foi reduzido”, conta um dos arquitetos responsáveis pelo projeto, Luiz Forte Netto. De acordo com uma placa situada até hoje próxima à entrada do condomínio, também assinaram o projeto José Maria Gandolfi, Lubomir Ficinski Dunin e Roberto Gandolfi. Nela consta ainda que a Galvão S/A foi responsável pela incorporação do empreendimento, e a Thá, pela construção.
Conforme Netto, a intenção inicial era permitir que as pessoas morassem “praticamente no centro da cidade” e em meio a uma floresta de pinheiros, unindo o útil ao agradável. Mas, de acordo com Tânia Galvão, filha do proprietário da incorporadora, Nelson Torres Galvão, havia o objetivo de proporcionar um estilo de vida diferente para quem optasse morar em apartamentos. A ideia veio de uma visita feita pelo casal Nelson e Maria Batista Galvão à Finlândia em 1962. “Meu pai voltou encantado com algumas coisas que ele viu lá, com os espaços para as pessoas circularem, para as crianças”, lembra.
Assim, o Parque Residencial Pinheiros foi idealizado para oferecer esse conceito diferente de moradia. A primeira medida para isso foi mantê-lo aberto, sem grades ou portões, para que qualquer pessoa pudesse circular por ali e estar em contato com a floresta de mata nativa preservada no terreno. O local era chamado de Bosque do Juvevê justamente porque ali nasce o rio Juvevê, afluente do rio Belém que hoje é canalizado.
Além disso, próximo aos cinco blocos de apartamentos – um com 15 andares e os outros com sete, foram construídos churrasqueira e parquinho, para que adultos e crianças tivessem opções de lazer. “No prédio mais alto ainda funcionava um jardim de infância e em um dos menores tinha um berçário, para que as famílias pudessem ir trabalhar e deixar os filhos atendidos”, frisa Tânia. Mas poucas famílias se utilizaram disso e os espaços foram fechados.
Homenagem
Antes de ser comprado pela Galvão, o terreno no qual foi construído o Parque Residencial Pinheiros pertencia à família Groetzner, proprietária da antiga fábrica de biscoitos Lucinda. Na placa de inauguração do condomínio há um agradecimento à família pela preservação da área.
Adaptações ao longo do tempo
Após sua inauguração, em novembro de 1970, o Parque Residencial Pinheiros começou a ser adaptado às necessidades dos moradores, às exigências da cidade e também às demandas dos incorporadores. Assim, o terreno acabou dividido – embora nenhuma das fontes consultadas saiba precisar o período em que isso aconteceu – e outros condomínios foram construídos naquele espaço.
Mais tarde, por questões de segurança, o condomínio foi cercado e, ao longo dos anos, passou por diversas modificações, como a retirada das estruturas de lazer originais e a instalação de canchas, parquinho, academia, espaço para compostagem e para separação do lixo reciclável, além da implantação de passeios, rampas e outros elementos para facilitar a locomoção e a acessibilidade, de itens que passaram a fazer parte das exigências dos bombeiros e de câmeras de segurança.
Detalhes da arquitetura também foram alterados. “No início, o condomínio tinha como acabamento da fachada um conjunto de pestanas. Era bonito, mas virou abrigo de morcegos e teve que ser retirado”, exemplifica o atual síndico – e morador do local há cerca de 40 anos – Emílio Boschilia. Outra mudança foi a colocação de pastilhas na fachada externa dos blocos.
“O condomínio não é um conjunto de prédios, de edificações. É uma coisa viva, sabe? Ele evolui com o tempo, tem que se adaptar”, avalia o síndico. Entre as próximas mudanças previstas estão a implantação de outros itens para garantir a segurança dos moradores e o adensamento do bosque. “Nos últimos seis anos, já plantamos aqui mais de 250 árvores – e algumas já estão dando fruto”, diz.
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