Arquitetura
Depois de quase virar shopping e supermercado, Presídio do Ahú é restaurado para abrigar fórum

Imóvel que abrigou o antigo presídio do Ahú foi restaurado e revitalizado. Foto: Marcelo Andrade/Gazeta do Povo | Gazeta do Povo
A inauguração das novas instalações dos Juizados Especiais e do Fórum Criminal pelo Tribunal de Justiça (TJPR) na manhã da última sexta-feira (6) pôs fim a uma novela que se arrastava há mais de uma década: a ocupação do imóvel que abrigou o antigo Presídio do Ahú.
Desativada em 2006, a Prisão Provisória de Curitiba, como era oficialmente batizada, já tinha a discussão acerca de sua destinação em curso muito antes disso. Nos anos 1990, o então governador Jaime Lerner chegou a anunciar a intenção de transferir a área para a iniciativa privada. Com isso, cogitou-se o uso dela para abrigar um conjunto habitacional, um shopping e até um supermercado, até que, em 2003, sua posse passou definitivamente ao Tribunal de Justiça, que construiria ali o Centro Judiciário de Curitiba.

LEIA MAIS SOBRE PATRIMÔNIO DE CURITIBA
Concurso
Em 2006, um concurso nacional de arquitetura foi lançado e selecionou um projeto de revitalização para a área, mas somente seis anos depois ele saiu efetivamente do papel. “Este projeto foi desenvolvido internamente, com a estrutura do departamento de engenharia do tribunal, mas obedecendo aos parâmetros que o Ippuc [Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba] estabeleceu a época do concurso, como a revitalização do presídio (preservando sua volumetria, pátio central, cobertura com telhas de barro e fachada original) e a construção de uma praça pública à frente dele”, explica José Luiz Leite da Silva Filho, chefe da Divisão de Arquitetura do TJPR. Isso se deve, segundo o arquiteto, ao desejo de preservar o prédio como o marco na paisagem da cidade que ele representa.

O prédio
Datado entre o final do século 19 e início do 20, o edifício em estilo eclético do eterno Presídio do Ahú foi construído para outra finalidade: abrigar o Asilo para Alienados Nossa Senhora da Luz, da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia. Tido pelo governo do estado como ideal para funcionar como centro de detenção, o então presidente do Paraná, Francisco Xavier da Silva, se comprometeu a tocar as obras do asilo na Avenida São José (atual Avenida Marechal Floriano Peixoto, no Prado Velho) e, em 1905, fez do prédio no Ahú o presídio.

A capacidade inicial da penitenciária, que foi a primeira do Paraná, era de 52 celas. Com a passagem dos anos, obras de ampliação e de reforma (após o incêndio que atingiu as instalações do pavilhão nos anos 1960) fizeram com que, dos originais dois pavimentos, o prédio passasse a contar com um terceiro piso, mantendo, porém, sua volumetria e altura originais.

Revitalização
Dentro das instalações do novo Centro Judiciário, o prédio do antigo presídio passará a abrigar as 11 secretarias dos Juizados Especiais, hoje localizados na Avenida Getúlio Vargas, no Água Verde. Para isso, foi necessária a realização de uma obra de grandes proporções, que atualizou a edificação para o novo uso ao mesmo tempo em que manteve as características arquitetônicas que remetem aos tempos da penitenciária.
A fachada foi restaurada e todas as paredes externas, que têm entre 60 cm e 70 cm de largura, mantidas. “Internamente o prédio [foi demolido e reconstruído, sendo] 100% novo”, acrescenta Alexandre Arns Steiner, diretor do Departamento de Engenharia e Arquitetura do TJPR.

A reportagem visitou o local antes da instalação do mobiliário necessário às atividades das secretarias. O silêncio e o vazio do grande pátio, agora coberto por vidro e cercado pelo que antes eram as duas alas do presídio, fazem ecoar no imaginário as histórias, sonhos e incertezas que, é de se crer, rondaram os que ali perderam a liberdade e fizeram dos companheiros de cárcere sua nova “família”.

Agora, o burburinho característico das repartições públicas irá preencher os 10 mil m² do prédio, cujas antigas celas deram lugar às salas de conciliação, audiência, espaços administrativos e posto bancário. Dos tempos da prisão, somente a área das antigas solitárias, no subsolo, terão alguma relação com sua função primária ao servirem de abrigo para os materiais apreendidos.


Custo
“A obra foi executada e concluída dentro dos 18 meses de prazo previstos e teve um orçamento final total pouco acima dos R$ 100 milhões [valor que engloba a revitalização do antigo presídio e a construção do novo prédio lateral, com cerca de 26 mil m²]”, destaca Steiner. Ele acrescenta ainda que, além de devolver o prédio à sociedade, o tribunal terá uma economia de R$ 1,9 milhão no ano somente com a área da antiga penitenciária – valor este gasto com o aluguel do prédio da Getúlio Vargas.