Arquitetura
Após incêndio, prefeitura licita restauro do Belvedere; obras devem começar ainda em 2018
Condição do prédio após o incêndio. Telhado ficou totalmente destruído. Foto: Aniele Nascimento / Gazeta do Povo | Gazeta do Povo
Nove meses após o incêndio de grandes proporções que atingiu um dos símbolos do art nouveau em Curitiba, a prefeitura lançou, no último dia 12, o edital para licitar as obras de restauro e revitalização do Palácio Belvedere.
Orçado no valor máximo de R$ 1.458.287,97, o documento prevê o restauro interno e externo do edifício com prazo de oito meses para a execução da obra, a partir da assinatura da Ordem de Serviço. “Se não houver contestações [em relação à licitação], acredito que até 15 de novembro o contrato esteja pronto para ser assinado”, explica Reinaldo Pilotto, superintendente de Obras e Serviços da Secretaria Municipal do Meio Ambiente (SMMA), pasta à frente da realização do pregão. “A licitação e o projeto não estavam prontos e ainda tínhamos a questão [do levantamento] dos recursos”, completa ao justificar o intervalo de quase um ano entre o incidente e a abertura da licitação para as obras.
Restauro
A necessidade de restauro do Palácio do Belvedere, prédio datado de 1915, não é nova e já vinha sendo discutida desde 2015, muito antes do incidente que comoveu a cidade, em dezembro passado. Em junho de 2017, o prefeito Rafael Greca (PMN) chegou a assinar um decreto que transferiu R$ 1.073 milhão, oriundos da venda de potencial construtivo, para este fim, mas o incêndio ocorreu antes que as obras de revitalização tivessem sido iniciadas.
Os estragos causados pelas chamas, que destruíram o telhado e boa parte do segundo pavimento do edifício, e pelas intempéries, uma vez que a cobertura emergencial foi instalada 108 dias após o incêndio, elevaram o valor da obra para R$ 1,4 milhão. A diferença, que soma R$ 384,5 mil e permitiu a abertura do processo licitatório, veio do Fundo Municipal do Patrimônio (Funpac), após aprovação do uso do recurso pelo Conselho Municipal do Patrimônio Cultural (CMPC).
Projeto
Os termos da licitação aberta pela Prefeitura de Curitiba contemplam a restauração e readequação do Belvedere de forma que sua estrutura seja recuperada e o imóvel tenha condições de abrigar a nova sede da Academia Paranaense de Letras (APL), para a qual seu uso foi foi cedido desde 2015, e um café-escola do Sesc (Serviço Social do Comércio) – ambos previstos no projeto de restauro datado de antes do incêndio.
“Não alteramos nada em relação ao que havia sido proposto anteriormente. Mas o incêndio mudou toda a situação, o diagnóstico do prédio. Em relação ao uso, mantivemos as mesmas adequações e solicitações da Academia Paranaense de Letras e do café, mas o projeto de restauro [pós-incêndio] é um novo projeto”, detalha Carla Choma Frankl, arquiteta do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc), responsável pelo estudo que norteou o edital.
Segundo a profissional, o segundo pavimento é a área que receberá maior atenção nas obras, uma vez que o espaço foi o que sofreu os maiores danos causados pelo incêndio. Entre eles estão a destruição do telhado e do piso, que serão totalmente refeitos.
“As esquadrias também foram quase todas queimadas [neste pavimento]. Elas serão refeitas tendo como modelo as [peças] carbonizadas e ficarão na madeira natural, sem pintura, como forma de diferenciação [das originais]. Os ornamentos da varanda também serão reproduzidos. Basicamente, o segundo pavimento como um todo será reproduzido, pois dele restaram as paredes em alvenaria”, conta Carla.
O primeiro pavimento, ainda de acordo com a arquiteta, está melhor conservado. Mesmo assim, será necessária a substituição do piso quase que integralmente e a recuperação e reconstrução de parte da escada que liga os dois pisos do prédio. Boa parte dos ornamentos que caracterizam o edifício, e que contribuem para localizá-lo dentro do estilo art nouveau, foram preservados na fachada em alvenaria da construção.
Novas estruturas
Dentro das novidades com as quais o Palácio Belvedere passará a contar após a finalização da obra, a instalação de um elevador está entre as mais significativas. Visando a acessibilidade do prédio, ele terá duas paradas e será instalado externamente a partir de uma estrutura metálica, com fechamento em vidro. A linguagem, que “marca a época de sua execução”, é uma exigência do Memorial Descritivo da licitação, inclusive.
A construção de um deque externo em madeira de ipê, que servirá para ampliar a área do café-escola e potencializar a atratividade do espaço, também está prevista no projeto.
“Temos a intenção de integrar o Belvedere às Ruínas de São Francisco, retirando suas grades. Estamos em processo de aprovação deste projeto, para o qual ainda não existem recursos, mas a ideia é integrar e valorizar ainda mais esses dois bens tombados”, reforça a arquiteta Carla.
A revitalização da Praça João Cândido, por sua vez, deverá ocorrer assim que a obra esteja finalizada, como sinaliza Pilotto, da SMMA, e irá contemplar do piso e ao jardim.