Revestimento

Arquitetura

Práticos e sem emendas, pisos monolíticos estão entre os queridinhos dos revestimentos; confira

Karina Pizzini, especial para HAUS
03/05/2024 18:03
Thumbnail
Das indústrias norte-americanas e residências europeias às casas brasileiras, os pisos monolíticos são opção para dar maior amplitude, originalidade e praticidade aos ambientes. Comumente utilizados em indústrias e hospitais, eles têm se tornado cada vez mais populares e ganhado espaço também em residências por todo o país.
“Monolítico” significa pedra de grandes proporções ou um monumento de uma única pedra. Então, como o nome sugere, esses pisos têm por característica apresentar uma única camada, ou seja, um piso sem rejunte ou emendas. Tipicamente utilizado em locais que precisam de transporte de equipamentos pesados ou sensíveis, eles chamaram a atenção primeiro dos europeus, que os incorporaram em projetos residenciais.

Resina líquida

A aplicação dos pisos monolíticos acontece a partir de uma mistura que pode ser de mono ou bi-componentes, sendo um deles uma resina em estado líquido. As misturas mais comuns no Brasil têm como base resinas de poliuretano (PU) e de epóxi – os dois dão aspecto semelhante ao do porcelanato e, por isso, também são conhecidos por “porcelanato líquido” –, MMA (metil metacrilato) e de microcimento – que é diferente do cimento queimado, embora tenha aspecto semelhante.
“Os revestimentos mais comuns, à base de resina epóxi e poliuretano, são diferentes, mas têm funcionamento parecido: ambos formam uma massa que pode ser aplicada no piso. A diferença está na composição química. O poliuretano tem uma característica com mais brilho, já para o epóxi recomenda-se o uso de uma cera específica para que se cause esse efeito”, explica o professor do departamento de Construção Civil da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), Adauto José Miranda de Lima.
Divulgação
Divulgação
A diretora da Resinaria Revestimentos, empresa especializada em revestimentos monolíticos sediada em São Paulo, Priscila Matias, conta que com essas resinas é possível conferir diferentes aspectos estéticos aos pisos. “Hoje temos revestimentos acetinados, com flocos acrílicos (Flake), com quartzos pigmentados para áreas internas e externas (Sands e Stone Carpet), com pigmentações metalizadas (Stain ou Metalics), entre outros. Essa evolução das resinas também nos permite aplicar revestimentos flexíveis, como os com conforto termoacústico, ou ainda com resinas impermeabilizantes integradas a eles”, conta.

Aplicação

Cada resina apresenta uma característica específica, que interfere na aplicação e secagem do material sobre a superfície. O diretor da Eurodecor, empresa especializada em revestimentos contínuos de alto padrão, com sede em São Paulo, Bruno Leonardo Lima, explica que a resina é aplicada sobre o piso, formando uma superfície única após a secagem. Uma vez que ela se ajusta a pisos já existentes, é uma boa solução também para projetos de reforma.
Além da composição química, outro ponto que difere os tipos de pisos monolíticos é o fato de que algumas resinas são mais líquidas e, consequentemente, mais autonivelantes do que as mais pastosas, ou seja, são fáceis de se ajustar a qualquer superfície. “[O piso monolítico] é mais rápido de aplicar do que outros tipos de piso, porque esse material é autonivelante e se espalha como líquido. Depois que ele cura (seca), se torna resistente, sem fenda ou fissura”, detalha Adauto.
Divulgação
Divulgação
Priscila explica que os pisos autonivelantes são, na verdade, um tipo de sistema de aplicação de monolítico. “Em suma, possui como característica uma maior espessura e acabamento plano. Os monolíticos podem ser aplicados de forma autonivelante, espatulado, multicamadas ou simplesmente como uma pintura”, diz a diretora.
A única diferença na aplicação dos pisos monolíticos em indústrias ou residências é a espessura utilizada, que pode variar entre 1 e 5 milímetros. “Um milímetro é praticamente uma pintura, de 4 a 5 milímetros você tem de fato um revestimento monolítico. Quanto maior a espessura, maior a resistência ao uso que ele terá. No interior de uma residência, pode-se utilizar de 1 a 2 milímetros, por exemplo”, explica o professor Adauto Lima.
Já a pintura monolítica é uma simples pintura a base de resina, que também pode oferecer um piso sem rejunte e é mais resistente do que uma pintura convencional. Entretanto, menos resistente do que um piso monolítico, podendo variar de 100 a 500 micras de espessura.

Secagem

Adauto explica que a má utilização do componente pode gerar problema de “cicatriz”. O mesmo pode ocorrer com a utilização de misturas para pisos sem rejuntes que não adicionam resina, pois é ela que dá maleabilidade ao processo de aplicação.
“O ideal é que se trabalhe com um porte maior, que se possa misturar mais material e lançá-lo ao mesmo tempo sobre o piso para que não haja nenhuma diferença na curagem. O processo de secagem é o que diferencia os pisos monolíticos com base de resina dos que não possuem o material”, diz. Além disso, a massa sem resina tende a desidratar durante a secagem, reduzindo o volume no processo e ficando suscetível a fissuras de retração.
Divulgação
Divulgação
Neste sentido, Bruno Lima enfatiza que “o tempo de curagem não admite erros”. Essa pode ser a maior dificuldade encontrada para o consumidor que tenta aplicar o piso sozinho, uma vez que algumas lojas ofereçam kits prontos para aplicação no modo “faça você mesmo”. Por isso, é importante contar com o serviço profissional de um arquiteto que especifique a composição e espessuras indicadas em cada caso, além de mão de obra especializada para a aplicação.

Arquitetura e estética

A ideia foi copiada no resto do mundo e aos poucos foi ganhando popularidade no Brasil, sobretudo devido a sua facilidade de manutenção e limpeza, resistência e rapidez na aplicação. Segundo o arquiteto Giuliano Marchiorato, a estética também favorece a sua crescente popularidade. “Os ambientes ficam mais integrados, mais abertos. Esses pisos também passam uma honestidade arquitetônica, por ser um piso que não copia outros tipos de materiais”, avalia.
O arquiteto explica que eles são uma opção de revestimento “mais quentes” e que também podem ser usados em áreas úmidas. “Tecnicamente é um piso mais quente do que as pedras e cerâmicas e, esteticamente, faz alusão à contemporaneidade”, complementa Marchiorato.
Divulgação
Divulgação
Esteticamente, os pisos são difíceis de se distinguir entre si, pois mais de uma resina pode apresentar o mesmo visual. As opções são variadas e, segundo Priscila Matias, a estética, o desempenho e o local de uso (áreas externas ou internas, residenciais ou corporativas) são os fatores que determinarão o piso monolítico ideal para cada projeto.
“Os revestimentos em microcimento, por exemplo, têm um apelo rústico ou industrial; os revestimentos em poliuretano alifático (Senso) possuem elegância quando usados com cores neutras ou ganham aspecto moderno [quando combinados] a cores fortes e paginações. Já os revestimentos em resina MMA – metil metacrilato Flake ou Stone Carpet – são ideais para quando se necessita de resistência extrema para áreas molhadas – que demandam impermeabilização, resistência a intempéries ou antiderrapância, como banheiros, vestiários, sacadas, calçadas e varandas externas. São muitas possibilidades”, finaliza a empresária.
*Matéria originalmente publicada em 3 de fevereiro de 2020.