Reconhecimento

Arquitetura

Por sustentabilidade, prédio do Erastinho recebe menção do G20; conheça o projeto

Vivian Faria, especial para HAUS
14/11/2023 14:29
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A arquiteta Adriana Sarnelli discutia bons exemplos de arquitetura hospitalar em um evento no fim de setembro quando recebeu uma notícia trazida da Índia: o Erastinho, hospital projetado por seu escritório, o Sarnelli Arquitetura, foi listado pelo G20 como um dos 100 edifícios icônicos em termos de sustentabilidade de 2021.
A listagem, inédita, foi uma iniciativa do governo da Índia, país à frente do G20 atualmente. Ela foi feita a partir de indicações de organizações de cada país membro – no Brasil, um dos responsáveis pelas indicações foi o GBC Brasil –, que deveriam selecionar os projetos mais relevantes em termos de sustentabilidade social, ambiental e econômica.
A menção foi mais um reconhecimento que o edifício do Erastinho teve por sua sustentabilidade. Concebido com o objetivo de, nas palavras de Adriana, “deixar um legado”, o hospital recebeu dupla certificação: LEED for Healthcare e WELL. “Quando foi certificado, foi o primeiro hospital brasileiro a receber o selo LEED for Healthcare e teve a maior pontuação da certificação entre hospitais na América Latina”, conta a arquiteta.
Uso de vidros tratados e das bandejas de luz ampliam iluminação natural dentro do hospital.
Uso de vidros tratados e das bandejas de luz ampliam iluminação natural dentro do hospital.
Tudo é resultado, conforme Adriana, de uma proposta que pensa tanto no bem-estar de quem está dentro do hospital, seja por internação ou compromisso profissional, quanto de quem circula fora dele. “Ele foi pensado para ter a melhor iluminação e a melhor ventilação, para ocupar o perfil natural do terreno”, diz.
A fachada é feita com vidros tratados para permitirem a passagem do máximo de luz, ou seja, serem o mais transparentes o possível, controlando a entrada de calor. Além do impacto na iluminação natural e no conforto térmico, o material impacta menos o sistema de climatização.
O colorido da fachada, uma marca do edifício inaugurado em setembro de 2020, é uma solução para permitir que a luz do sol entre mais profundamente no edifício. “As marquises coloridas são bandejas de luz em que o sol reflete, jogando a luz, mas não o calor, para dentro do prédio”, explica Adriana.
Divisórias internas foram pensadas para também permitirem a chegada da luz natural nas áreas de circulação.
Divisórias internas foram pensadas para também permitirem a chegada da luz natural nas áreas de circulação.
Para ampliar esse efeito, as divisórias entre os quartos e as áreas de circulação são feitas com vidro duplo e uma persiana embutida. Assim, exceto em situações em que o paciente precisa de privacidade, a luz circula livremente pelos andares. A medida também permite que todos os que estão dentro do hospital consigam visualizar o lado de fora, permitindo que acompanhem a passagem do tempo e estejam mais próximos da natureza.
Função semelhante tem o jardim de luz no último pavimento do edifício. Ali, todos os leitos de UTI se abrem para uma área externa, com o objetivo de promover o bem-estar dos pacientes. “Precisamos lembrar que alguns pacientes, como os transplantados de medula óssea, ficam internados por longos períodos e não podem ficar numa caixa fechada”, afirma.

Biofilia, biomimética e cores

Ainda assim, há áreas no hospital que não podem ser abertas. “Nesses ambientes confinados, trabalhamos com elementos naturais e com biomimética. Fizemos uma árvore em marcenaria, um piso com um desenho azul em curvas que lembra um rio, círculos no forro com pontos de fibra ótica que piscam e parecem um céu estrelado”, enumera.
As formas orgânicas, mais naturais, também fazem parte da edificação. O próprio desenho da fachada tem linhas curvas, assim como a cobertura da passagem entre o edifício e o estacionamento.
A natureza foi trazida para dentro do projeto.
A natureza foi trazida para dentro do projeto.
“Usamos também muita cor. Temos mais de 50 sanitários e todos são coloridos, cada um com duas a três cores”, detalha Adriana. Os quartos, por sua vez, têm duas cores, enquanto outras áreas de atendimento e de circulação têm diferentes pontos de cor.
Na área externa, há ainda uma grande praça com fonte e piso emborrachado para que as crianças possam brincar.

Outros elementos

O hospital conta também com sistema de reuso de água pluvial para irrigação externa e lavagem de pátios, calçadas e praças. Além disso, tem torneiras com controle de vazão e fechamento automático. A iluminação artificial, por sua vez, é toda em LED.
“Há um mês, foi inaugurada uma usina de energia fotovoltaica que vai gerar 1144 MWh/ano. Então, hoje, ele é autossuficiente em energia e ainda 'empresta' o excedente do que produz para o ‘Erastão’”, conta Adriana. As placas foram instaladas sobre o estacionamento, cobrindo as vagas existentes.
Cores e elementos lúdicos criam um ambiente para agradável para os pequenos pacientes.
Cores e elementos lúdicos criam um ambiente para agradável para os pequenos pacientes.
O Erastinho é a unidade operacional do Hospital Erasto Gaertner dedicada ao atendimento oncopediátrico, com 4.800 metros quadrados de área construída e um total de 56 leitos. O edifício, cujo projeto foi desenvolvido entre 2015 e 2016, conta com quatro pavimentos: no térreo, há atendimento ambulatorial; no primeiro andar, há unidades de internação privativas e semiprivativas; no segundo pavimento, há leitos de UTI e de transplante de medula óssea; o último andar, por sua vez, é técnico e abriga toda a infraestrutura que permite o funcionamento dos diferentes sistemas do hospital.