Arquitetura
Petit-pavé: o mais subversivo dos mosaicos
Calçada de petit-pavè da Praça Garibaldi, no bairro Sao Francisco. Foto: Daniel Castellano / Gazeta do Povo | GAZETA
Nem só de casarões vive a nossa história. O chão que a gente pisa também guarda boas surpresas. Montado pedra a pedra como um quebra-cabeça, o petit-pavé, também conhecido como mosaico português, funciona tal qual uma tela que reflete diferentes períodos culturais da cidade. Por isso deveria ser encarado como patrimônio cultural. É o que sugere a arquiteta do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc) Lúcia Torres de Moraes Vasconcelos, no livro Calçadas de Curitiba: Preservar É Preciso.
Motivos não faltam. O petit-pavé é o mais subversivo dos mosaicos. Enquanto as montagens tradicionais do mundo oriental são fundamentadas no ornamental, com um compromisso rigoroso para com os detalhes e a cor, o mosaico português é utilitário, bicolor e transforma o pormenor em motivo principal.
Diz-se que o mosaico português desembarcou em Curitiba por volta de 1920, quando da chegada dos primeiros portugueses que dominavam a técnica da calcetaria com basalto e calcário. Mas não é seguro afirmar que esses mosaicos seculares tenham sofrido influência direta dos portugueses, pois Curitiba já abrigava muitos povos e os portugueses jamais usariam um nome francês para intitular seus mosaicos, como destaca Lúcia em sua obra sobre o petit-pavé curitibano.
Entre os principais desenhos, destaque para os temas indígenas, típicos do movimento paranista entre 1920 e 1930. A ideia de usá-los nas calçadas da Av. Luis Xavier e da Praça Tiradentes, um dos primeiros lugares a receber o mosaico na capital, foi do então diretor do Museu Paranaense, Romário Martins, que passou a bola para o prefeito da época, Moreira Garcez. De lá pra cá, a ideia pegou. E alguns lugares bastante conhecidos de Curitiba foram homenageados com seus nomes gravados no chão, como no caso de galerias e redações de jornais.
Há quem odeie essas pedras, porém. Além de ser irregular, fator que sozinho já prejudica a acessibilidade a lugares centrais da cidade, o petit-pavé se desprende da calçada, acumulando e espirrando água em quem passa, e torna-se escorregadio com o tempo. Isso acontece porque o caminhar das pessoas funciona como um polimento para a pedra, tornando-a cada vez mais lisa.
Mas a arquiteta Silvia Zilotti, que chefia o serviço de patrimônio histórico do Ippuc, garante: os especialistas ainda não acharam um material ideal para pavimentar as calçadas. “Todas apresentam limitações ou restrição de algum tipo, seja de preço ou de uso”, justifica.