Prêmio
Arquitetura
Pela primeira vez, dupla de arquitetas é premiada no Pritzker, o “nobel” da arquitetura
Foto: Alice Clancy
Duas mulheres irlandesas foram anunciadas nesta terça-feira (03) como vencedoras do mais importante prêmio internacional de arquitetura, o Pritzker. As irlandesas Yvonne Farrell e Shelley McNamara se juntam ao seleto grupo de arquitetas mulheres a terem recebido a honraria, formado até então apenas por Zaha Hadid, Kazuyo Sejima e Carme Pigem.
O resultado foi anunciado pelo presidente da Hyatt Foundation, Tom Pritzker, em Chicago, que destacou a capacidade das duas profissionais de criar espaços que são, ao mesmo tempo, respeitosos com a história dos lugares e inovadores na proposta de renovação espacial.
Reconhecidas por projetarem diversos prédios públicos na Irlanda, mas também internacionalmente, com edifícios assinados na França e no Peru, por exemplo, elas têm no portfólio desde instituições acadêmicas, cívicas e culturais, até empreendimentos habitacionais. São, segundo os jurados do Pritzker, obras modernas e impactantes que nunca repetem ou imitam, mas têm sua própria voz arquitetônica.
No comunicado oficial, o júri 2020 destacou “o compromisso incessante [das arquitetas] com a excelência na arquitetura, sua atitude responsável em relação ao meio ambiente, sua capacidade de ser cosmopolita e abraçar a singularidade de cada local em que trabalham”.
No trabalho que desenvolvem, Farrel e McNamara frequentemente trabalham com localidades desafiadoras, muitas das quais incorporam sensibilidades geográficas e climáticas, como as famosas montanhas e falésias irlandesas.
Entre as obras que assinaram nos últimos anos estão projetos como o do Campus Universitário UTEC Lima (2015), por exemplo. Localizado em um terreno com com uma estrada afundada em uma ravina de um lado e um bairro residencial do outro, o edifício vertical e em cascata responde às necessidades locais e climáticas com espaços abertos projetados para receber deliberadamente a brisa refrescante do oceano e minimizar a necessidade de ar-condicionado.
Nos escritórios do Departamento de Finanças de Dublin (2009), outra obra que se destaca no portfólio das arquitetas, a seleção de calcário local usado em painéis grossos confere força ao edifício e as janelas recuadas ou niveladas com a fachada têm grades abaixo delas para circular ar fresco por todo o edifício. As exposições de todos os lados do edifício, atípicas da arquitetura da cidade, oferecem vistas panorâmicas.
"Eles demonstram uma força incrível em sua arquitetura, mostram profunda relação com a situação local em todos os aspectos, estabelecem respostas diferentes para cada comissão, mantendo a honestidade de seu trabalho e excedem os requisitos do campo por responsabilidade e comunidade", resumiu Pritzer em comunicado à imprensa.
Cinco décadas de atuação
Os nomes de Farrell e McNamara não são desconhecidos do universo das premiações da área. Bolsistas honorárias do RIBA (Royal Institute of British Architects, ou Instituto Real de Arquitetos Britânicos, em português), elas são sócias da Grafton Architects, escritório que já recebeu premiações como o Leão de Prata da Bienal de Veneza (2012), a medalha James Gandon Medal pelo Conjunto da Obra em Arquitetura do Instituto Real de Arquitetos da Irlanda e a RIBA Royal Gold Medal (2020).
Trabalhando juntas desde a década de 1970, as sócias, que se conheceram na universidade na década de 50, já ocuparam ainda a cadeira Kenzo Tange na Harvard Graduate School of Design (2010) e a cadeira Louis Kahn na Universidade de Yale (2011). Como docentes, atuaram em instituições como a École Polytechnique Federal de Lausanne e a Academia di Architettura di Mendrisio.
Via assessoria de imprensa do Pritzker, McNamara falou sobre o reconhecimento e sobre as filosofias que norteiam o trabalho da dupla: “Dentro do espírito de uma prática como a nossa, muitas vezes lutamos para encontrar espaço para a implementação de valores como humanismo, habilidade, generosidade e conexão cultural com cada lugar e contexto em que trabalhamos. Portanto, é extremamente gratificante que esse reconhecimento seja concedido a nós e à nossa prática e ao corpo de trabalho que conseguimos produzir por um longo número de anos ”.