Arquitetura
Pedreira Paulo Leminski quase teve outra cara. Veja o projeto original
Mais palcos faziam parte dos projetos iniciais da Pedreira Paulo Leminski. Foto: Daniel Castellano/Gazeta do Povo
A lendária banda de rock Black Sabbath escolheu a Pedreira Paulo Leminski, em Curitiba, para iniciar a etapa brasileira de sua turnê de despedida. Mal sabiam os roqueiros (e o público) que o espaço rodeado por paredões de 30 metros de altura quase teve outra cara. Inaugurada em 1990, fechada em 2008 e reaberta em 2013, depois de grande apelo popular, a pedreira era para ter sido um complexo bem diferente e nem a Ópera de Arame estava nos planos iniciais.
Como o nome diz, a Pedreira Paulo Leminski funcionava como pedreira municipal. Depois foi usina de asfalto e depósito, até que a região foi incorporada pela cidade, tornando a atividade de implodir o solo em busca de pedras e a produção de asfalto impróprias e perigosas em meio à vizinhança. Desativada na década de 1970, passou a ser uma ferida na divisa entre os bairros Abranches e Pilarzinho, como afirma o arquiteto Jaime Lerner, que, na época, era prefeito de Curitiba.
Logo ao lado, funcionava outra pedreira, particular. Depois que as máquinas cessaram, a exploração já havia aberto uma “garganta” de ligação entre as duas e os olhos da prefeitura cresceram para a área. “Queríamos fazer o grande auditório da cidade ali”, afirma Lerner sobre a área maior. Alguns projetos do início da década de 1980 mostram mais de um palco e estruturas para acomodar o público.
Mas, no fim, o que imperou foi a simplicidade: o projeto basicamente aproveita a topografia natural da região. “Há sustentabilidade nisso, de usar o espaço sem modificá-lo muito. Transformamos os limões em uma limonada, porque aquilo era uma quebra na paisagem da região”, conta Abrão Assad, arquiteto e autor do projeto.
O nome também mudou. A ideia inicial era homenagear Nino Rota, compositor responsável por trilhas sonoras de filmes de Federico Fellini, e houve até um curta-metragem-convite para trazer o cineasta italiano para cá. Mas a ideia não foi para frente e a pedreira virou um tributo com uma cara muito mais curitibana: ganhou o nome de Leminski, poeta nascido aqui e que morreu em 1989.
Ópera de Arame
A área menor do complexo também precisava ganhar um novo propósito.O arquiteto Osvaldo Navarro, ex-presidente do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc), lembra que uma das ideias era fazer um teatro ao ar livre que abrigaria, ao final de cada espetáculo, uma exposição das vestimentas de ópera em manequins feitos de arame. “Mas pensamos ‘poxa, as roupas vão estragar se tomarem chuva’”, conta.
Outra opção era desenvolver um parque com viveiros de pássaros. “Até trabalhamos em um projeto, com cabos de aço esticados e telas gigantes por cima. Só que deixar as aves fechadas não seria legal”, diz Navarro. Assad lembra que teve a ideia de fazer um portal de entrada imitando a moldura de um quadro, para aproveitar a vista típica da região, cheia de pinheiros.
Acabaram voltando à ideia da ópera, mas, desta vez, coberta, até porque viria a calhar mais uma opção para os constantes dias de chuva. “Não queríamos perder atrações por causa do mau tempo da cidade”, diz Lerner. Mas usar alvenaria estava fora de questão, pois acabaria com a visibilidade do entorno. A construção deveria proteger de intempéries e, ao mesmo tempo, permitir que as pessoas vissem a paisagem.
“O equipamento urbano deve conviver com o cenário. É fundamental que o espaço permita ver o céu, o sol, a lua”, diz Assad. Optou-se por seguir a linha em ferro e vidro dos outros equipamentos urbanos. A Ópera de Arame, projetada por Domingos Bongestabs, foi aberta ao público em 1992.
* especial para a Gazeta do Povo