Rios voadores

Arquitetura

Pavilhão do Brasil na Expo Osaka 2025 terá chuva, obras de Makoto Azuma e restaurante com fusão criativa

Luan Galani
07/12/2022 13:21
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O concurso público de projeto de arquitetura organizado pela ApexBrasil (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos) divulgou nesta segunda-feira (5) o resultou da melhor proposta para o pavilhão brasileiro na próxima Exposição Universal, a ser realizada na cidade japonesa de Osaka, em 2025.
De acordo com o júri, formado por aclamados nomes da área, como a renomada arquiteta Sylvia Ficher, da Universidade de Brasília, e o diplomata André Aranha Corrêa do Lago, grande crítico de arquitetura e atualmente embaixador do Brasil na Índia, o melhor projeto é do escritório paulistano Studio MK27 e Magnetoscópio, em colaboração com o estelar curador de arte Marcello Dantas.
De acordo com os jurados, a proposta vencedora é "experimental, com uma temática de grande interesse e atualidade, uma agenda importante dentro das propostas ecológicas para o futuro do Brasil e do planeta, e com grande capacidade de atração de público ao combinar questões ambientais, ciência e tecnologia".
A banca julgadora ainda ressaltou que a edificação tem partido simples, claro e marcante, com circulação por rampas, adequada a receber grandes fluxos de público, e com soluções atraentes para a espera em filas. E destacou que a estrutura favorece a redução do tempo de construção, dos custos de aquisição dos materiais e da montagem e desmontagem nos prazos previstos.

Rios voadores

A equipe responsável pelo projeto elegeu o tema dos rios voadores, um fenômeno natural típico da América do Sul que consiste em cursos de água atmosféricos, formados por massas de ar carregadas de vapor de água, vindas do oceano Atlântico, e que então se precipitam sob a forma da chuva na Amazônia e seguem até os Andes, onde passam a flutuar sobre a Bolívia, o Paraguai e diversos estados brasileiros.
Na opinião dos arquitetos responsáveis pelo projeto, esse fenômeno explicita a inter-relação entre o clima, a energia, o alimento, a floresta e a vida, aprofundando o papel e as potencialidades da mata.
"Ao mesmo tempo, tal assunto demonstra como algo, mesmo distante, pode intrinsecamente se relacionar com a qualidade de vida em qualquer parte do mundo. Cada gota transpirada por uma árvore na Amazônia é um grão no prato de uma pessoa no Japão. Cada árvore que se mantiver de pé representa a sustentabilidade de uma matriz energética renovável. Cada espécie de vida preservada revela uma cura em potencial para males ainda sem solução. Cada vida que protege a floresta protege outras pessoas em todos os cantos do planeta", defendem os responsáveis na prancha apresentada ao júri.

O projeto + arte

O pavilhão brasileiro vai projetar uma sombra sutil sobre o solo de Osaka, lembrando as nuvens carregadas que voam sobre o território sul-americano. O volume se expressa através de uma cobertura suspensa em pórticos que desenha no horizonte uma curva marcante. O sistema estrutural será seco, modular e com conexões simples. Dentro dele, haverá um núcleo central sólido, ao redor do qual uma cortina metálica de trama fluida servirá como um anteparo ao mundo externo e se movimentará com a ação dos ventos.
Uma dobra na face frontal dessa cortina será o local de passagem do público para o espaço interno do pavilhão. Neste espaço, de pé-direito amplo tomado por um fresco vapor, começará a se desenhar a experiência imersiva e sensorial preparada com percursos expositivos.
O ponto alto da visita será o rio, apresentado às avessas, na forma de uma sinuosa passarela cercada de água por todos os lados. Todo o leito do rio será composto por uma grande malha de LEDs flexíveis submersa. O espelho d’água, em momentos programados, vai se transformar em tela e exibirá o conteúdo expositivo. A cada sessão, uma sequência de acontecimentos relacionados ao fenômeno dos rios voadores e que se conectam à vida cotidiana emergirá das águas do pavilhão, acompanhado por uma trilha sonora original.
O escritório inovou ao convidar o artista japonês Makoto Azuma, o mestre das flores, para fazer obras inéditas com a biodiversidade brasileira, como sementes, fungos, flores, frutos, ervas e raízes, utilizadas amplamente na gastronomia, medicina, fitoterapia, produção de cosméticos e rituais sagrados. Elas ficarão no térreo do pavilhão, onde também haverá uma proposta gastronômica inspirada na história da imigração japonesa na Amazônia e na fusão criativa da culinária das duas culturas, abraçando alguns desses ingredientes, em especial amazônicos, na recriação de pratos da gastronomia japonesa. Dentre eles, o tataki de tucunaré, o sushi de feijão longo e o sunomono de vitória-régia.
Já os outros espaços de convivência, como espaço cultural, loja, sala multiuso, reunirão obras comissionadas de artistas brasileiros que abordam o tema da floresta a partir de uma perspectiva contra-hegemônica. "O convite será feito a artistas indígenas e afrodescendentes para que desenvolvam trabalhos que dialoguem com o eixo narrativo do pavilhão, com intuito de apresentar diferentes cosmovisões e seus saberes ancestrais sobre as florestas e águas brasileiras", afirmam os arquitetos. Esses espaços valorizarão ainda o design do Brasil com mobiliário nacional de madeira nativa.