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Os sensos do Censo

Marcos Kahtalian*
14/07/2023 18:53
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Para quem trabalha com estatísticas, nada mais ansiado que a recente divulgação do Censo IBGE 2022. Depois de 12 anos desde o último levantamento, ficamos sabendo que crescemos bem menos do que esperávamos (6,45% desde 2010); estamos mais velhos; e que as cidades grandes vêm perdendo população para as cidades médias. O interior representou 66% do crescimento populacional novo, no período.
Temos menos filhos, cai a taxa de fertilidade abaixo daquela mínima de reposição - estimada em 2,1 filhos por pais - o que significa no longo prazo não apenas o declínio populacional, mas também, como gostam de lembrar aqueles da sombria ciência, o maior peso da conta previdenciária.
Ou seja, o bônus da juventude, também apelidado de bônus demográfico, vai se esvaindo, a uma proporção que surpreendeu mesmo os pesquisadores mais atentos do IBGE, que estimavam uma população pelo menos 5 milhões maior da que o Censo apontou.
O que vai gerar – já está gerando – aquela judicialização inevitável de municípios que perderam população – 2.399 cidades diminuíram, ou 43% do total - e, com isso, terão potencialmente menos recursos do Fundo de Participação dos Municípios.
De fato, muitos resultados foram mesmo bastante incomuns, com algumas cidades apontando até mesmo para um tamanho populacional menor que o do Censo de 1991. Sem dúvida, aspectos problemáticos da execução da pesquisa acabaram tendo o efeito de potencializar essas críticas, como o menor orçamento e menor capacitação de equipes de campo, a baixa divulgação publicitária, a insegurança urbana que dificulta o acesso a pesquisadores e, claro, os efeitos mesmo da pandemia, inclusive, na redução do ritmo de crescimento.
Mas, considerando que possivelmente problemas apontados sejam marginais, a pergunta permanece: O que vem ocorrendo? Responder a essa questão é a tarefa que cabe agora a todos nós, que precisamos nos debruçar com mais atenção aos dados gerados, que ainda vem sendo divulgados, já que nem todas as informações ainda foram disponibilizadas.
Ao mesmo tempo, o tamanho da família diminuiu, isto é, as famílias estão se fragmentando, saindo de 3,31 pessoas por domicílio, para 2,79 pessoas na residência – o que se reflete no mercado imobiliário sob a forma de unidades habitacionais menores e claro, na expansão do número de famílias que cresceram espantosos 34% desde o último levantamento (somos 90 milhões de lares).
Na região Sul, o Paraná é largamente o estado mais populoso, com 563 mil habitantes a mais que o Rio Grande do Sul. E, sem nenhuma surpresa, os municípios com maior dinamismo econômico apresentaram maior crescimento populacional, como sobretudo aqueles ligados ao agronegócio na região Centro-Oeste. O contrário é verdadeiro também: não sem razão, por exemplo, a cidade do Rio de Janeiro encolheu, perdendo 109 mil moradores, 1,7% de sua população anterior.
Na esfera municipal, portanto, o recado é claro: economia puxa demografia. Encontrar modelos de desenvolvimento municipal é a resposta à pergunta do Censo do porquê crescemos tão pouco. Parafraseando o poeta cuja estátua é visitada na orla carioca, o senso do Censo é uma rima cuja única solução passa pela reinvenção das cidades, antes que elas virem apenas um pobre trocadilho. Mas esse é tópico para outra discussão.
*Marcos Kahtalian é sócio fundador da Brain Inteligência Estratégica